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EGOÍSMO HUMANO

Guepardos bebês são sequestrados por traficantes e vendidos como animais domésticos

Esse tipo de crime está ameaçando a espécie. Atualmente existem apenas 7000 guepardos no mundo todo

22 de novembro de 2021
Beatriz Silva | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Wire Feeds | Daily Mail

O animal terrestre mais rápido do mundo está correndo risco de extinção, de acordo com especialistas. Existem apenas 7.000 guepardos na natureza atualmente. Um século atrás, o número de animais dessa espécie, também chamados de chitas, era de cerca de 100.000. Muito dessa diminuição se deve a caça à destruição dos habitats pela pecuária.

De acordo com especialistas, a tendência crescente de criação desses animais como animais domésticos nos estados do Golfo Pérsico só piorou o problema, pois muitos desses animais não sobrevivem quando são contrabandeados da Península Somali para o Oriente Médio.

Conservacionistas agora estão trabalhando com oficiais do governo da Somalilândia para lutar contra o comércio ilegal de animais selvagens. Na Cheetah Safe House, Green e outros filhotes são os sortudos da vez. Todos os anos, cerca de 300 filhotes de guepardos são traficados pela Somalilândia para compradores ricos do Oriente Médio, e que estão em busca de animais de estimação exóticos. Na Cheetah Safe House, Green e outros filhotes são os sortudos da vez.

Filhotes estão sendo cuidados pela Cheetah Safe House. | Foto: Wire Feeds/Daily Mail

Os filhotes que são arrancados de suas mães, e que sobrevivem ao caminho árduo, desde a África, passando pelo Iêmen e depois chegando ao Golfo, podem ser vendidos por até 15 mil dólares no mercado ilegal. É um negócio movimentado, não tão conhecido quanto o mercado ilegal de marfim de elefante, ou do chifre de rinoceronte, mas tão devastador quanto.

Guepardos são capazes de atingir a velocidade de até 130 quilômetros por hora, de acordo com a Africa Wildlife Foundation. A espécie também está listada como vulnerável, de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), mas cientistas pedem que seja feita uma atualização, listando o animal como ‘em perigo’. No norte da África e da Ásia, os guepardos já são considerados criticamente ameaçados de extinção.

A invasão humana ameaçou o número de guepardos e destruiu seu habitat natural, mas a pilhagem de filhotes da selva para satisfazer o comércio de animais, contribui ainda mais para esse declínio. Entre 2010 e 2019, mais de 3.600 guepardos foram foram comercializados de forma ilegal no mundo todo, segundo pesquisa que documentou centenas de anúncios de filhotes em plataformas como Youtube e Instagram.

A doutora Laurie Marker acredita que se a situação continuar assim, esse tipo mercado pode levar a população de guepardos a extinção em muito pouco tempo.

De acordo com o portal Mail Online, além de levar os guepardos para a Safe House, a CCF (Cheetah Conservation Fund) trabalha restaurando o habitat, realizado pesquisas científicas e reduzindo o conflito com humanos. Também foram fornecidos cães pastores para fazendeiros na Namíbia e Somalilândia. Os animais vão servir como guarda para o gado ameaçado pelos felinos.

Desde a época do Império Romano os guepardos são admirados como animais domesticados e companheiros de caça. Criá-los em cativeiro é difícil, por isso capturar os filhotes na natureza é a única opção.

Guepardos são animais apreciados para domesticação desde os tempos do Império Romano | Foto: Wire Feeds/Daily Mail

Uma parte da campanha feita para impedir com esse comércio têm focado em mudar atitudes nos estados do Golfo, o principal comprador, e também a área onde esses animais são vistos como símbolos de status social. Os proprietários ricos exibem seus guepardos domesticados em fotos tanto quanto seus carros e dinheiro. Segundo Laurie Marker, uma das mensagens da campanha é de que não curtir esse tipo de coisa nas redes sociais.

Em 2017, após pressão de grupos que lutam pelo bem-estar animal, os Emirados Árabes Unidos proibiu a posse, comércio, e criação de guepardos e outros grandes grandes felinos. A multa nesses casos pode chegar a até 136 mil dólares, e 6 meses de prisão, segundo a Cheetah Conservation Fund.

Combater esse tipo de comércio criminoso é algo desafiador por envolver a área da Somalilândia, que autodeclara-se república, e não possui reconhecimento internacional. A Somalilândia é uma região separatista entre os países da Etiópia, Djibuti e Somália, e também uma das regiões mais pobres do mundo.

Para a Agence France Presse, agência de notícias francesa, o ministro do interior, Mohamed Kahin Ahmed, contou que uma pequena unidade de guardas costeiros está fazendo patrulhamento, mas também precisam lidar com o tráfico de pessoas e tráfico de armas.

Uma pequena guarda costeira da Somalilândia está posicionada para evitar o tráfico mas também precisam lidar com outros tipos de tráfico que são fontes de problema.|Foto: Wire Feeds/ Daily Mail

Os filhotes que são contrabandeados passam por maus-tratos, sendo alimentados de forma errada, e presos em gaiolas minúsculas, às vezes tendo suas pernas amarradas com zíperes. Uma operação realizada em 2019 ilustra bem o tipo de crueldade que esses animais enfrentam. De acordo com a Dra Laurie Marker, quando os animais foram soltos, havia guepardos morrendo em cima de outros que já estavam mortos.

Com a proibição do governo, o número de resgates disparou nos últimos anos. Atualmente o CCF abriga 67 guepardos resgatados. Os animais estão em três espaços seguros na capital da Somalilândia, em Hargeisa.

As leis que criminalizam a venda desses animais já começaram a ser aplicadas. Em outubro do ano passado, uma quadrilha foi destruída e um traficante foi processado. Um programa financiado pelo governo britânico está ajudando a Somalilândia a expandir o compartilhamento de inteligência para os países vizinhos, de forma a combater os criminosos que roubam espécies icônicas da África. As autoridades da Somalilândia também estão trabalhando com comunidades rurais empobrecidas, cujo conflito com guepardos é um outro fator no comércio.

Os Emirados Árabes Unidos proibiram a venda, compra e criação de Chita e outros felinos. | Foto: Wire Feeds/Daily Mail

De 13 filhotes confiscados entre setembro e novembro, pelo menos quatro foram levados por fazendeiros que tinham a intenção de revender os animais e recuperar seus prejuízos. Os fazendeiros alegam que os animais criados para consumi em suas propriedades foram morto por guepardos.

Filhotes de guepardo são retirados de sua mãe e são transportados por um longo caminho para compradores ricos. | Foto: Wire Feeds/Daily Mail

A ex-ministra das Relações Exteriores da Somalilândia, Edna Adan Ismail, diz que se esse comércio ilícito continuar, as próximas gerações podem nunca ver um guepardo. Para que essa profecia nunca se concretize, o veterinário local Ahmed Yusuf Ibrahim está determinado e aprendendo como cuidar dos filhotes. O profissional desenvolveu grande afeto pelos guepardos que estão sob seu cuidado.

Ibrahim se dedica no cuidado dos filhotes. | Foto: Wire Feeds/Daily Mail

Por não poderem se defender sozinhos, os animais serão transferidos para um recinto natural maior, fora de Hargeisa. Por enquanto, Ibrahim é o zelador amoroso de todos eles, garantindo uma divisão igual de carne para os guepardos jovens e velhos. O veterinário os considera como seus bebês.

Foto: Mediadrumworld/Kisemei Saruni/Daily Mail

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