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DESOLAÇÃO

Fotografias recentes de animais no Pantanal mostram extensão da devastação

2 de setembro de 2021
Beatriz Paoletti | Redação ANDA
8 min. de leitura
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Foto: Ahmad Jarrah

Segundo a BCC News Brasil, os animais no Pantanal estão tendo que lutar diariamente pela sobrevivência em um bioma devastado pelos constantes incêndios e pela seca que toma a região. Não há alimentos o suficiente, água é um recurso escasso e seus habitat foram destruídos ou mitigados.

O ano de 2021 não foi tão ruim quanto o de 2020 no sentido de impactos ambientais no Pantanal, mas o atual ano ainda sofre com as consequências do ano anterior, um dos piores das últimas décadas com recordes de incêndios.

“Levará décadas para que o equilíbrio ecológico se restabeleça no Pantanal. Com certeza os animais ainda vivem o impacto do ano passado”, fala Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV).

No início de setembro, uma reportagem da BBC News Brasil retratou a vida de dois jacarés, sofrida devido as circunstâncias mitigantes de seus habitats. Eles trocaram onde viviam para uma piscina em pousada no Pantanal.

A fim de auxiliar os animais, voluntários têm resgatado animais que tiveram de enfrentar fogo, ou estão com problemas de conseguir recursos básicos de sobrevivência como água e alimento.

“A seca está deixando os animais muito desesperados”, diz a veterinária Carla Sassi, coordenadora do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), que tem trabalhado no Pantanal nos últimos dias. Ela relata que há preocupação na ocorrência de incêndios em áreas onde vivem muitas espécies.

O cenário caótico do Pantanal foi registrado em 16 fotografias, feitas no fim de agosto e meados de setembro neste ano. Veja AQUI todas as imagens

As agruras vividas pelos animais pantaneiros

A ICV realizou uma análise com base em dados de uma plataforma mundial, a Global Fire Emissions Database (GFED), e que mostrou que 655 mil hectares do Pantanal brasileiro foram tomados pelo fogo entre 1 de janeiro e 12 de setembro de 2021. Até o mesmo mês em 2020, 2,17 milhões de hectares já haviam sido enfrentados pelo fogo no bioma pantaneiro.

Os especialistas destacam que os períodos de 2020 e 2021 no bioma não devem ser comparados.”O ano passado foi realmente uma situação atípica, que assustou todo mundo e deixou todo mundo em choque”, fala André Luiz Siqueira, diretor da ONG ECOA – Ecologia & Ação.

A situação do ano passado no Pantanal trouxe maior visibilidade para a problemática dos incêndios e, portanto, conscientização para a comunidade local sobre o combate deles, que são gerados em grande parte pelo ser humano. No primeiro semestre de 2021, houve esforços para evitar uma situação tão grave quanto a do ano anterior.

Atualmente existem em funcionamento brigadas comunitárias no bioma. Além disso, especialistas indicam que desde o início do ano houve maior atenção ao tema por parte de autoridades locais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Estados brasileiros que abrigam o Pantanal. E apesar dos números mais positivos dos focos de incêndio em 2021, ainda há muitos problemas enfrentados pelo Pantanal.

“Tivemos chuvas importantes nas últimas semanas, o que ajudou o trabalho dos brigadistas e diminuiu os focos de incêndio. Porém ainda temos focos de incêndio. Mas, claro, nada que se compare ao ano passado”, explica André Siqueira.

O calor intenso na região, munido de fortes ventos e seca extrema, intensificam problemas climáticos como a redução de chuva e a consequente crise hídrica.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o nível do rio Paraguai, principal formador do Pantanal, mediu 18 centímetros negativos na segunda-feira (20/09). A média na data é de três metros, sendo esse o menor nível no mesmo dia nas últimas cinco décadas. Até mesmo no ano passado, que sofreu um período de seca intensa, o nível na data era de 19 centímetros positivos.

“A temporada de chuvas de outubro de 2020 a março deste ano não foi capaz de abastecer o sistema, que já estava em déficit hídrico. Com a estiagem normal de abril a setembro, o nível dos rios baixou ainda mais neste ano”, explica o biólogo Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal.

Os que mais sofrem a crise hídrica no bioma são os animais. Eles vêm tendo de enfrentar as consequências da seca extrema do ano passado e dos incêndios que destruíram áreas do bioma, além do fogo deste ano.

No ano de 2020, os incêndios impactaram ao menos, 65 milhões de animais vertebrados nativos e 4 bilhões de invertebrados, de acordo com estudo feito com base na densidade das espécies presentes nos locais afetados. A pesquisa foi de autoria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e da Embrapa.

Importante área úmida no planeta, o Pantanal vem sofrendo com a seca aguda desde 2019 e com isso tem visto “a quantidade de água reduzir nas planícies e rios, resultando em um solo e vegetação extremamente secos, aumentando o risco de incêndios”, explica o estudo.

“Embora as mudanças climáticas sejam uma das principais causas dos incêndios descontrolados pelo mundo, e fogos naturais possam ocorrer, no Pantanal quase 98% das queimadas são causadas por atividades humanas, sejam acidentais ou criminais”, fala o texto assinado por pesquisadores do bioma.

Feridos, mortos, famintos e com sede

A crise climática no Pantanal afeta os animais de maneira direita — como ferimento ou morte — ou indireto, através da perda do habitat.

Diversos voluntários têm ajudado os animais. No bioma, essas pessoas presenciam cenas como bichos que foram vítimas do fogo, que estão com fome e sede. As dificuldades enfrentadas pelas espécies podem ser observadas em diferentes áreas do bioma.

A veterinária Carla Sassi, do GRAD, gerencia uma equipe de resgate no Pantanal. Os voluntários estão levando caminhões-pipa e frutas, obtidos por meio de doações, para auxiliar os bichos.

“Muitos animais precisam andar longas e longas distâncias para conseguir água e alimentos”, explica Sassi. Ela destaca que nem todos são capazes de se deslocar, e por isso é tão necessário a ajuda do voluntariado.

Os jacarés são um desses animais que estão tentando sobreviver em meio ao caos do Pantanal. Uma imagem de meados de setembro pelo biólogo e fotógrafo Fernando Faciole retrata vários jacarés-do-pantanal amontoados e desnutridos. “A cada dia que passa o nível da água abaixa mais e a situação é crítica”, conta Faciole.

Foto: Fernando Faciole/GRAD

A imagem (que abre a reportagem da BBC News Brasil) foi registrada em uma ponte da rodovia Transpantaneira, que liga a cidade de Poconé (MT) à região de Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul. De acordo com o fotógrafo, voluntários resgataram alguns desses animais e levaram para áreas com água para que possam sobreviver. “Porém, a quantidade desses animais é extremamente grande”, pontua.

Faciole também registrou outras imagens que mostram as dificuldades passadas pelos animais. Uma das fotos feitas por ele é de um quati com as patas queimadas e que foi resgatado por voluntários em uma área remota e muito seca. “O animal estava com uma das patas traseiras queimadas. Ele recebeu todos os cuidados e agora passa bem”, fala.

Foto: Fernando Faciole/GRAD

Outra fotografia, de meados de setembro, Faciole registrou um macaco-prego em meio às cinzas de uma região tomada pelo fogo. “Os animais, como esse macaco, agora enfrentam a fome cinzenta (causada por incêndios florestais, que destroem os alimentos deles). Muitos se aproximam das equipes de resgate em busca de ajuda”, descreve.

Fernando Faciole/GRAD

Ele também fotografou resgates de animais machucados, bichos mortos em regiões sem água, entre outras imagens no Pantanal (algumas disponíveis ao longo da reportagem da BBC News Brasil).

Outras capturas mostram a situação do Pantanal neste ano feitos pelos fotógrafos Bruna Obadowski e Ahmad Jarrah entre o fim de agosto e o início de setembro. Eles encontraram animais como cobras e macacos-prego carbonizados. Também viram um tuiuiú e uma vaca passando por áreas em chamas em busca de abrigo.

Foto: Ahmad Jarrah
Ahmad Jarrah

Uma vaca presa pelo fogo foi fotografada por eles em uma das áreas mais afetadas pelas chamas na Transpantaneira, a qual estava parada à espera de ajuda. Depois, o animal foi resgatado. “Segundo os brigadistas, é comum os animais ficarem presos pelo fogo e virem a óbito quando não são resgatados a tempo”, fala Bruna.

Foto: Ahmad Jarrah

As agruras dos animais em meio a seca aguda no Pantanal, o calor, a crise hídrica e a incidência ainda alta de incêndios ainda serão enfrentadas pelos animais no Pantanal nas próximas semanas. A estiagem deve durar ao menos até meados de outubro e não se espera que haja a melhora no nível do rio Paraguai no próximo mês.

 

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