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Cães em "fábrica de filhotes" são vítimas de doenças contagiosas

17 de dezembro de 2013
7 min. de leitura
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(da Redação)

Lisa e seu filho Christian, com dois cães da raça Maltês. O filhote comprado anteriormente oriundo de fábrica de filhotes morreu em 6 dias. Foto: Daily Mail
Lisa e seu filho Christian, com dois cães da raça Maltês. O filhote comprado anteriormente oriundo de fábrica de filhotes morreu em 6 dias. Foto: Daily Mail

Quando Lisa Gentle reconheceu sinais de comportamento autista em seu filho, ela decidiu seguir o conselho de especialistas que sugeriram a companhia de um cachorro afetuoso para ajudar a mantê-lo calmo.

O cão da raça Bichon Frise, de pelos encaracolados e olhos enormes e adoráveis, deveria trazer alegria para sua família. Ao invés disso, ela e seu filho Christian assistiram, impotentes, o pobre cão sofrer uma morte agonizante. As informações são do Daily Mail.

Ingenuamente, Lisa acreditou ter comprado o cão de um criador experiente. Na verdade, o animal tinha nascido em uma “fábrica de filhotes”, onde o lucro é muito mais importante que o bem-estar dos cães.

A história ocorrida com a família Gentle é apenas um exemplo de como é comum a experiência de se ter contato com gangues sem escrúpulos por trás desse comércio milionário. É uma indústria imoral que atua se aproveitando da emotividade daquela parcela da sociedade britânica que ama os cães.

Conforme publicado recentemente pela ANDA , uma petição pedindo restrições à venda de filhotes já recebeu mais de 100 mil assinaturas – e foi o ponto de inflexão para desencadear um debate parlamentar que deve ocorrer em 2014 para abordar a questão do aumento do número de fábricas de filhotes no Reino Unido.

Mas não é apenas no Reino Unido que essas pessoas sem escrúpulos operam.

Desde 2012, quando a Grã-Bretanha adotou leis mais assertivas com relação a animais domésticos, os comerciantes do Leste Europeu passaram a operar suas “fábricas” em condições precárias em países como Hungria, Polônia e Romênia.

Em uma única viagem, esses traficantes levam filhotes amontoados nas carrocerias de automóveis viajando por milhares de quilômetros para render um lucro de milhares de libras. Esses animais tirados de suas mães em uma idade jovem são vendidos pela internet ou até mesmo em beiras de estrada nas proximidades dos principais portos do Reino Unido.

Há algo ainda mais preocupante: especialistas alertam que esse movimento das gangues, que negligenciam vacinas, podem levar a Grã-Bretanha a ter seu primeiro caso de raiva no continente em mais de 40 anos.

Flagrante de fábrica de filhotes no Reino Unido. Foto: Daily Mail
Flagrante de fábrica de filhotes no Reino Unido. Foto: Daily Mail

Segundo a reportagem, a experiência da sra. Gentle com seu cão é uma lição para quem pensa em comprar um cão, seja no Reino Unido ou em qualquer outro lugar do mundo. O exemplo ilustra o quão enganoso este comércio pode ser.

‘Eu fui muito ingênua ao comprar Toby”, admitiu.

“Eu estou falando sobre isso agora para tentar garantir que outros não cometam os mesmos erros, e para ajudar a trazer um fim para o mundo cruel da criação comercial de cães”.

O anúncio no jornal local dizia que os filhotes machos estavam “prontos”. Após um breve telefonema, ela dirigiu-se à casa em Ruislip, West London.

“Eu posso ver que a mulher tentava criar um ar de respeitabilidade”, disse Lisa. Ela dizia que a cachorra que estava na casa era mãe dos filhotes – mas, lembrando agora, aquela cachorra não mostrava nenhum interesse ou ligação com os mesmos.

“Quando peguei Toby, havia serragem em suas costas, mas não no cômodo onde ele estava. A mulher explicou que a serragem viera do jardim. Ela continuava dizendo que os filhotes estavam sendo criados dentro da casa”.

A suposta criadora tinha certificados do Kennel Club, para demonstrar que era uma criadora registrada.

Após pagar 400 Libras – uma quantia relativamente modesta para esta raça, segundo a reportagem – Lisa saiu com o seu novo filhote.

Baldes com filhotes vivos encontrados em uma batida policial em Manchester, que provocou uma grande investigação da RSPCA sobre o tráfico de filhotes. (Foto:  Daily Mail)
Baldes com filhotes vivos encontrados em uma batida policial em Manchester, que provocou uma grande investigação da RSPCA sobre o tráfico de filhotes. (Foto:
Daily Mail)

O seu filho Christian passou a primeira noite junto à cama de Toby, olhando para ele. “Ele estava maravilhado”, disse a mãe.Mas em contraste com o excitamento de Christian, o filhote estava apático e letárgico. Lisa acreditou que ele sentia falta de sua mãe.Nos próximos dias, Tody ficou ainda mais retraído. Lisa levou-o ao veterinário, que aplicou uma série de antibióticos. Naquela noite, Lisa ficou a noite toda observando o cão.

“Eu estava realmente preocupada”, disse ela. “Ele não tinha comido nada desde que chegou em nossa casa. Seu focinho e seus olhos emitiam uma secreção aquosa. Era incrivelmente triste ver um filhote em tal situação”.

Na manhã seguinte, dia de Ano Novo, Toby piorou e passou a vomitar. Lisa correu com ele ao veterinário, onde foi colhido sangue para exames antes do mesmo ser internado.

Porém, pouco tempo depois, Lisa recebeu uma ligação da clínica dizendo que Toby havia morrido. As amostras de sangue mostraram que o filhote tinha o vírus da parvovirose – uma doença altamente contagiosa e comum em cães criados em fábricas de filhotes.

“Ficamos arrasados”, disse Lisa. “Nós tínhamos nos apaixonado por Toby. É muito desgastante ver um animal tão pequeno e vulnerável sofrer tão terrivelmente. Christian ficou perturbado”.

Mais tarde, ela descobriu que os certificados do Kennel Club que tinham sido mostrados a ela foram forjados, e a suposta criadora, que não havia retornado nenhuma de suas chamadas, se mudou de casa. Lisa gastou mais de 1.500 Libras com veterinários.

“Toby foi, obviamente, criados em uma fábrica de filhotes”, diz ela.

Pesquisas feitas pelo Kennel Club revelaram que um em cinco filhotes comprados em sites ou por mídias sociais morrem dentro de seis meses. Metade deles tem problemas de comportamento, frequentemente associados ao fato de terem sido retirados da companhia de suas mães antes do tempo.

Em toda a discussão sobre fábricas de filhotes, que tem aparecido com frequência na mídia, a solução é simples e reside na compreensão de que animais não são objetos, não têm preço e não devem ser comprados.

Assim como na indústria da carne, onde só há quem mate pois há quem compre para comer, na compra de animais de companhia ocorre o mesmo: só há quem cria para lucrar pois há quem compra. Com tantos milhões de animais em situação de rua ou abandono pelo mundo, é incompreensível e inadmissível que essa cadeia de venda de animais ainda continue sendo alimentada. É um dos muitos hábitos da sociedade contemporânea que não consegue mostrar coerência.

O que é ainda incoerente é o fato de muitas dessas pessoas que cometem o ato vil de comprar acabarem, em seguida ou pouco tempo depois, abandonando os animais que “compraram”, como se fossem objetos descartáveis mesmo. Considerar a vida algo descartável parece ser um comportamento comum praticado pela humanidade nos tempos atuais.

Nota da Redação: Parece haver algo estranho nesta edição: a abertura da matéria traz a foto de Lisa Gentle com dois cães da raça Maltês. Esse formato é o mesmo da matéria original e foi colocado igualmente com o objetivo de retratar, exatamente, essa contradição. Podemos dirigir um comentário à Lisa Gentle: “a culpa é sua”. Podemos fazer perguntas a ela: “Por que comprar um cão?”; “Por que precisa de um cão de raça definida?”. A culpa é de Lisa e de todos os que compram animais todos os dias, por todo o mundo. Estamos em época de festas de fim de ano, inclusive. Muitos estarão comprando animais. E muitos estarão abandonando.

 

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