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EXPLORAÇÃO

Fazendas de criação de camarão ferem os direitos animais, humanos e prejudicam o meio ambiente

A crueldade nas fazendas localizadas no sudeste asiático envolve trabalho escravo, violência contra os animais e destruição de ecossistemas 

22 de maio de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

O camarão é um dos frutos do mar mais populares ao redor do mundo. Ouvimos muito sobre a crueldade e os efeitos negativos da indústria da carne em nosso planeta, mas essas conversas quase sempre se concentram em animais terrestres criados como gado, especialmente vacas e frangos. Apesar do ser pouco comentado, a criação de camarão envolve destruição de características ambientais críticas, bem como abusos horríveis dos direitos humanos e atos chocantes de crueldade animal.

Embora nas regiões litorâneas do Brasil seja fácil encontrar camarão fresco e recém pescado, em diversos outros países eles são importados, principalmente de fazendas de camarão no sudeste da Ásia, onde a criação comercial de camarão decolou a partir do final dos anos 1960 e início dos anos 1970.

Pode ser mais difícil para estender a empatia para animais cujos corpos não se parecem ou funcionam como os dos seres humanos, mas há evidências que provam que camarões são capazes de sentir dor. Levando isso em consideração, algumas práticas comuns na criação de camarão assumem um aspecto sombrio. A poluição da água não controlada pode levar a sistemas imunológicos enfraquecidos e, em casos extremos, à morte por asfixia ou envenenamento; altas densidades populacionais em fazendas de camarão contribuem para a disseminação de doenças entre os crustáceos vivos.

Mas talvez o maior problema na criação de camarão seja a prática da ablação de estipes oculares. Os fazendeiros de camarão nos primeiros dias da indústria descobriram que a remoção de um ou ambos os estipes oculares das fêmeas incentiva a reprodução induzindo a maturação dos ovários, por motivos muito provavelmente relacionados à liberação de hormônios.

No processo de ablação dos estipes oculares, que ainda é amplamente praticado em camarões em ambientes comerciais e de pesquisa hoje, as fêmeas de camarão têm seus olhos cortados sem anestesia. No final, seja pelo trauma físico, pela desorientação decorrente da perda súbita de visão ou outros fatores relacionados, a ablação tem efeitos deletérios no crescimento de um camarão e eventualmente leva à redução da qualidade dos ovos e à maior mortalidade.

Além disso, a criação de camarão afeta os mangues ao redor do mundo. Entre 1980 e 2012, estima-se que um quinto dos manguezais do mundo tenham sido destruídos para dar lugar a fazendas comerciais de camarão em áreas costeiras salobras, de acordo com a ONU.

Mais de uma década depois, os manguezais ainda são uma grande preocupação, e a UNESCO nos adverte que “o tempo está se esgotando” para protegê-los. Mais do que apenas uma bela paisagem natural, os manguezais fornecem serviços importantes para seus ecossistemas — eles absorvem o gás de efeito estufa dióxido de carbono, e também atuam como barreira para proteger as terras costeiras de desastres naturais e outras ameaças.

Por último, as pessoas que vivem nas regiões em que essas indústrias estão localizadas são frequentemente submetidas a formas mais diretas de danos e exploração em prol da indústria global de camarão. A outra verdade sobre a criação de camarão é sua estreita relação com o trabalho escravo, especialmente o trabalho escravo infantil.

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