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CIÊNCIA

Estudos investigam a semelhança entre comportamento de cães e seres humanos

Descobertas sinalizam que há muito a ser investigado sobre esse tema. Principalmente na área comportamental, um campo de estudo ainda recente

8 de novembro de 2021
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Estudos comportamentais sobre cães
Foto: Pixabay/Ilustrativa

O cão é o animal doméstico que mais passa tempo com os humanos, e essa relação é bem-sucedida ao longo de toda a história. Cientistas, porém, ainda sabem pouco sobre o comportamento desses animais e de que forma os seres humanos os influenciam.

Pesquisadores internacionais e brasileiros têm se dedicado a encontrar respostas. Recentemente, descobriram uma maior cumplicidade entre os tutores e os cães, em comparação a animais que vivem em abrigos. Também encontraram, nos cachorros, indícios de inteligência acima da média (superdotação) e de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), traços de personalidade tipicamente humanos.

Essas descobertas sinalizam que há muito a ser investigado sobre esse tema. Principalmente na área comportamental, um campo de estudo ainda recente.

Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, a bióloga Juliana Werneck explica sobre as mudanças no foco da pesquisa.

“Antes, as análises eram focadas no organismo desses animais. Agora, temos um interesse maior em saber por que eles se comportam de determinada forma, e esse é um campo muito amplo, cheio de perguntas”, afirma. “Quando falamos que o cachorro se comunica com o seu tutor, isso parece óbvio, principalmente para quem vive com esse animal, mas é difícil entender os sinais envolvidos entre as espécies e como uma influencia a outra.”

Durante seu mestrado na Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora resolveu se aprofundar nesse nicho de pesquisa. Ela e colegas de equipe selecionaram 60 cães de raças e idades variadas, com três perfis distintos: que viviam com os tutores dentro de casa, que passavam mais tempo fora da residência dos tutores e que moravam em abrigos. Em seguida, a equipe conduziu um experimento em que os animais deveriam retirar um petisco do chão, protegido por um pote de plástico, em apenas três tentativas.

Ao fim do experimento, constatou-se que 95,7% dos cães que viviam dentro de casa usaram a alternância de olhar pelo menos uma vez (entre um humano e o pote), enquanto os animais que viviam fora de casa se comunicaram com menor intensidade (80%). Já o último grupo, cachorros de abrigo, com pouco contato com humanos, interagiram ainda menos (58,8%). “É importante frisar que todos os animais interagiram, mesmo que em menor grau. Isso mostra que as várias experiências de uma vida inteira vão resultar em comportamentos diferentes”, afirma a autora do estudo, publicado na revista Behavioural Processes.

Segundo Juliana Werneck, os resultados refletem uma teoria que tem sido bastante defendida na área de comportamento animal: a de que os aspectos herdados (ancestrais) e aprendidos (ambientais) têm o mesmo peso na formação da personalidade dos cachorros.

“Eles têm heranças evolutivas, mas não podemos ignorar a influência que recebem no meio em que se desenvolvem”, enfatiza. A cientista, que faz um doutorado na Universidade de Medicina Veterinária de Viena, na Suíça, acredita que os dados do estudo podem auxiliar no convívio das duas espécies. “É importante entender as características desses animais para aprender a lidar melhor com eles e também respeitá-los. É preciso ter essa noção de que influenciamos a forma como eles agem. Com isso, teremos uma relação muito melhor”, afirma.

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