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SENCIENTES

Estudo “traduz” grunhidos de porcos para identificar emoções como felicidade e sofrimento

8 de março de 2022
Thayanne Magalhães l Redação ANDA
3 min. de leitura
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Grunhidos mais curtos indicam que os porcos estão mais felizes, segundo novo estudo: o entendimento de emoções por parte dos suínos pode nos ajudar a aprimorar o bem-estar deles em criadouros e convivência com humanos (Imagem: chadin0/Shutterstock)

Criadores de porcos costumam dizer que perdem a coragem de matar um de seus animais se ouvir seus gritos. É claro que isso também pode ser dito da maioria dos seres vivosveganismo, mas agora temos a ciência para embasar o discurso, graças a um estudo dinamarquês que “traduziu” grunhidos dos porcos e identificou neles a comunicação de várias emoções.

A pesquisa conduzida pela Universidade de Copenhague usou milhares de gravações acústicas de vários grunhidos de vários porcos, obtidas pelo monitoramento de toda a vida dos animais – do nascimento à morte -, para não só determinar o que eles sentiam em certos momentos, mas também como a resposta emocional deles foi mudando conforme eles cresciam e envelheciam.

Ao todo, foram mais de 7 mil gravações usadas pelos cientistas para criar um algoritmo capaz de decodificar se um porquinho estava passando por uma sensação positiva, como “felicidade” ou “empolgação”; ou algo negativo, como “susto” ou “estresse”. Todas as gravações foram obtidas em diversas situações comuns à rotina do animal em ambientes comerciais e experimentais.

“Com esse estudo, demonstramos que os sons dos animais oferecem grande entendimento de emoções. Também conseguimos provar que um algoritmo pode ser usado para decodificar grunhidos e entender as emoções dos porcos, o que é um passo importante para o bem-estar de animais em suas criações”, disse Elodie Briefer, professor associado de Biologia da Universidade de Copenhague.

O que os cientistas descobriram é que grunhidos mais curtos e objetivos tendem a ser relacionados a sensações boas, como quando um porco separado é reunido com sua família ou um leitão mamando na mãe. Paralelamente, grunhos mais longos remetem a algum sofrimento, como separação de entes queridos, brigas com outros porcos, castração ou morte.

No âmbito experimental, porcos foram inseridos em cenários pré-concebidos pelos cientistas, que criaram uma arena a princípio vazia, mas que gradualmente recebia brinquedos e outros objetos de estímulo (exceto o contato humano). Finalmente, objetos aleatórios e não reconhecíveis aos porcos também foram usados, para que o estímulo da curiosidade os fizesse propagar alguma emoção.

O volume dos grunhidos também contava muito das emoções dos porcos: sons mais estridentes, parecidos com gritos – algo apontado por pesquisas anteriores -, eram atrelados a situações negativas, enquanto tons mais curtos, baixos e fáceis de se repetirem em sequência (pense “vários ‘oinquinhos’ ao invés de um grande e longo ‘óinc’”) indicam felicidade e contentamento.

De acordo com Briefer, o algoritmo foi treinado para identificar essas nuances, conferindo uma precisão de 92% de acerto na análise dos pesquisadores.

O estudo reforça que os porcos são seres sencientes, capazes de sentir emoções como alegria, solidão, frustração, medo e dor. A despeito disso tudo, a maioria dos porcos é submetida a crueldades inimagináveis do nascimento ao matadouro. Porcas gestantes são confinadas em celas de metal minúsculas em que são incapazes de se mexer, tudo para satisfazer os desejos dos seres humanos.

O estudo completo está disponível no jornal Scientific Reports.

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