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CONSEQUÊNCIA

Entenda o impacto do consumo de carne para as mudanças climáticas

Veja como o agronegócio e a pecuária são agressivos ao meio ambiente

3 de novembro de 2021
Beatriz Silva | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

De acordo com dados publicados em outubro pelo SEEG, Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, ao produzir apenas um quilo de carne são liberadas na atmosfera 2 toneladas da substância metano (CH4), e também cerca de 50 kg de dióxido de carbono. A atualização do relatório mostrou que as emissões da agropecuária aumentaram em 2,5% no ano passado, e em comparação com o ano de 2019, chegou a marca de 577 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

Uma conta feita pelo Greenpeace Brasil também utilizando os dados da SEEG do ano de 2019, mostrou que o consumo de 1 quilo de bife equivale a dirigir um carro médio por 1.6 km, a mesma distância entre Curitiba e o município de Goiânia. Outra estimativa feita dessa vez pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos mostrou que 1 quilo de carne equivale a 27 quilos de CO2.

O SEEG começou a calcular as emissões por setor em 1990, e já desde essa época a agropecuária é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, e responsável por 27% das emissões brutas atuais. Em primeiro lugar, está o desmatamento, que também está ligado ao agronegócio e responde por 46% das emissões brutas dos tempos atuais.

Para o G1, o porta-voz da campanha “Amazônia” do Greenpeace, Rômulo Batista, explicou que ao somar as emissões do desmatamento e do agronegócio, chega-se a 73% das emissões brutas totais. Os especialistas consideram vários fatores para poder realizar o cálculo de quanto uma porção de bife pode emitir de CO2 na atmosfera, como o desmatamento associado ao pasto onde o animal foi criado, queima do capim e de resíduos agrícolas, manejo dos dejetos animais que são ricos em bactérias que podem emitir mais gases a atmosfera, assim como também a distância entre consumidor e centro produtor da carne, e o transporte utilizado.

Em julho, uma pesquisadora brasileira publicou um estudo que mostra que a Amazônia se tornou uma fonte de carbono em regiões atingidas por queimadas e desmatamento. Nessas regiões localizam-se a concentração de animais criados para consumo e as pastagens como o Arco do Desmatamento. Antes a Amazônia era considerada o pulmão do mundo, devido a capacidade de capturar e guardar parte do CO2 da atmosfera.

O primeiro passo para tornar o agronegócio e o consumo de carne menos agressivo ao meio ambiente é acabar com o desmatamento da cadeia de produção da carne, assim como também mudar a ideia de expansão da economia nacional através da carne. O porta-voz do Greenpeace diz que não é preciso manter o nível de produção atual no agronegócio, ou seguir a ideia de desenvolvimento através dele.

A agropecuária também é responsável pela grande emissão de metano, que é emitido durante o processo digestivo do boi. Segundo Rômulo Batista, mesmo o CO2 sendo visto como grande vilão do aquecimento global, o metano aquece de 20 a 28% a mais. O porta-voz explica que mesmo que o desmatamento fosse eliminado do agronegócio, não conseguiríamos eliminar os gases gerados durante o processo digestivo do boi, pois 61% das emissões de gases do agronegócio vem dessa fermentação.

Durante processo de digestão, o animal também libera gases na atmosfera. | Foto: Ilustração/Pixabay

Em um evento realizado durante o mês passado sobre a pecuária, a pesquisadora Cristina Genro da Embrapa Pecuária Sul, afirmou que as pastagens do agronegócio podem ser grandes sumidouros de carbono quando bem manejados. A Embrapa acredita que tecnologia e adoção de medidas simples podem tornar as atividades pecuárias mais sustentáveis, como controlar a altura das pastagens e recuperação de solos afetados pela pecuária. A empresa pública também estimula a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema em que culturas agrícolas, animais e componentes arbóreos ficam em um mesmo espaço.

A “Pegada de Carbono” é o nome do conceito utilizado para calcular como consumo e estilo de vida do ser humano alteram o clima do planeta. Clauber Leite, coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Idec, explica que o problema é a dimensão de cada impacto gerado pela atividade humana, que pode desequilibrar o ciclo natural, fazendo com que o planeta não consiga se adaptar às novas emissões de carbono.

No Brasil, o maior vilão do clima está relacionado à alimentação, ao contrário de outros países desenvolvidos em que o problema está com a queima de combustíveis fósseis para gerar energia e transportes. Clauber Leite acrescenta que o caso do Brasil é mais complexo por estar relacionado a liberação do estoque de carbono das florestas na atmosfera através do desmatamento.

Um levantamento feito pela Carbon Brief, afirma que desde 1850, o Brasil é o quarto país do mundo no ranking de emissão de gases poluentes. O país também é líder no desmatamento e emissões relacionadas ao uso do planeta terra, e dos 112,9 bilhões de toneladas de CO2 emitidos, 85% estariam associados a derrubada de florestas.

Durante a COP26, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, o país anunciou a meta de frear 50% de suas emissões de CO2 até o ano de 2030, e também assinou o Compromisso Global de Metano, comprometendo-se com a redução do metano em até 30 por cento, até o fim desta década. O governo ainda não explicou como as novas medidas irão se adequar ao agronegócio, e torna-lo parte da solução do problema.

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