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MALDADE HUMANA

Entenda como a psiquiatria estuda o comportamento de quem pratica maus-tratos contra animais

Para especialistas, há casos relacionados a transtornos psíquicos. Assunto foi debatido no II Simpósio Internacional Contra Zoofilia, Maus-tratos e Crueldade Animal USP em Ribeirão Preto (SP).

19 de setembro de 2022
5 min. de leitura
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Transtornos psiquiátricos podem estar relacionado a comportamentos humanos de maus-tratos aos animais — Foto: Prefeitura de Sorocaba/Divulgação

Ao longo desta reportagem, nos seguintes tópicos, o g1 detalha, com entrevistas com especialistas, como a psiquiatria estuda o comportamento de quem pratica atos de maus-tratos contra animais.

  1. Como a psiquiatria explica o comportamento?
  2. Quais transtornos podem estar relacionados?
  3. Como os maus-tratos impacta o animal?
  4. Qual a importância da ressocialização animal?

Como a psiquiatria explica o comportamento?

De acordo com Andraus, um dos pontos mais importantes quando se trata da compreensão do comportamento humano é entender como a multifatoriedade e o aspecto biopsicossocial estão relacionados com as ações dos indivíduos.

“Praticamente tudo na psiquiatria a gente fala que a causa é multifatorial em um aspecto biopsicossocial. Isso significa que os comportamentos humanos são influenciados por diferentes aspectos. Então tem a parte biológica, a parte genética, a parte psico e a parte social. A conjunção desses fatores é o que propicia o surgimento dos nossos comportamentos”, explica.

Dentro desse contexto, a resposta para explicar os motivos que levam os seres humanos a praticarem atos de maus-tratos contra os animais não se deriva de um único fator.

Ainda de acordo com Andraus, não é possível afirmar que todos os casos tenham relação com transtornos psíquicos, apesar de alguns deles possuírem ligação direta com transtornos específicos.

“Da mesma forma que a gente não pode sempre associar os maus-tratos aos animais a um diagnóstico psiquiátrico, a gente também não pode achar que algumas pessoas não poderiam cometer tal ato de maneira completamente consciente e de maneira arquitetada”, diz

Psiquiatra Bruno Andraus realiza palestra em Ribeirão Preto (SP) sobre a relação de transtornos psiquiátricos com casos de maus-tratos a animais — Foto: Arquivo pessoal

Quais transtornos podem estar relacionados?

Ainda de acordo com o especialista, não existe um transtorno psiquiátrico que seja específico de uma pessoa que pratica maus-tratos. O que existem são transtornos psiquiátricos que poderiam explicar comportamentos humanos de maus-tratos aos animais. Nesse sentido, Andraus destaca alguns dos transtornos e suas principais formas de impactar a relação do indivíduo com os animais.

“É importante frisar que os comportamentos humanos de maus-tratos aos animais não estão necessariamente associados a transtornos mentais, então não é porque alguém tem esse comportamento que ela necessariamente vai ter um transtorno psiquiátrico e vice e versa”, aponta.

  • Esquizofrenia: A esquizofrenia é um transtorno do pensamento em que a pessoa pode entrar em um quadro delirante e psicótico e acabar não respondendo por si. Diante dessa perda de consciência, o indivíduo pode acabar cometendo maus-tratos contra os animais;
  • Transtornos de humor: Como a depressão e o transtorno bipolar, os transtornos de humor podem deprimir os indivíduos, o que traz dificuldades para que ele consiga cuidar de si, e do animal que é responsável;
  • Transtorno do controle de impulso: Responsável por levar a pessoa a lapsos comportamentais, o transtorno do controle de impulso pode acarretar surtos de raiva, o que resultaria em violência;
  • Transtorno de acumulação: Considerado um dos mais clássicos quando se trata de indivíduos praticantes de maus-tratos contra animais, o transtorno de acumulação é entendido como a condição de acumular itens, inclusive bichos, de forma descontrolada;
  • Transtorno de conduta e transtorno antissocial: O transtorno de conduta e transtorno antissocial é compreendido como a condição em que o comportamento do indivíduo se baseia na falta de empatia, o que pode levar aos maus-tratos e até a morte de animais;
  • Transtornos parafílicos: Transtornos parafílicos são transtornos sobre o interesse sexual e dentro desses transtornos temos se encontra a zoofilia, que é quando o ser humano pratica atos sexuais com animais. A explicação psíquica para o surgimento do interesse do indivíduo por praticas sexuais com animais também deve ser analisada caso a caso de forma multifatorial.

Como os maus-tratos impactam o animal?

Além da compreensão da mente humana, especialistas também estudam os impactos dos maus-tratos na vida das principais vítimas, os animais. Segundo o diretor técnico da Associação Brasileira contra a Zoofilia e Maus Tratos aos Animais (ABCZoo), o médico veterinário Frederico Lobão, para além do físico, a saúde mental dos animais é impactada pela violência tanto física quanto verbal.

“Existe uma certa angústia no animal abandonado que vai ser resgatado, ele é um animal que vai ter receio de outras pessoas, muitas vezes esse animal antes de ter sido abandonado sofreu agressões físicas e às vezes não só agressões físicas, já existem estudos que mostram que a mudança no tom de voz para um tom de voz mais raivoso tem um impacto na consciência do animal. Então, ele fica mais arredio. Esse animal que foi abandonado ele já passou por uma série de maus-tratos, desde negligências a agressões físicas e o abandono às vezes é a ponta do iceberg”, afirma.

Médico veterinário Frederico Lobão, diretor técnico da Associação Brasileira contra a Zoofilia e Maus Tratos aos Animais (ABCZoo) — Foto: Arquivo pessoal

Qual a importância da ressocialização animal?

Para Lobão, um dos pontos de destaque na luta contra a violência animal é o processo de ressocialização dos bichos vítimas de violência.

Esse processo se baseia em duas etapas: a recuperação clínica do animal, onde ele precisa receber cuidados em casos de violência física, e a ressocialização em si, que se trata do condicionamento ao retorno do contado com humanos.

Ainda de acordo com o veterinário, após a liberação realizada por protetores ou instituições que prestaram o suporte ao animal, a ressocialização dele se completa com o encontro de um novo lar.

“O animal pode ser ressocializado sem problema nenhum. A gente tem vários exemplos de pessoas que resgataram esses animais e acabaram ficando com eles, a maioria desses animais não se torna agressivo, eles podem ter mais medo, mas eles acabam ficando bem com o tempo”, explica.

Ressocialização é fundamental no tratamento de cães vítimas de maus-tratos — Foto: Will Holdcroft

 

 

Fonte: g1

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