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Em meio à queda no consumo de carne, nutricionista dá dicas sobre transição para alimentação vegana

28 de setembro de 2020
7 min. de leitura
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Em meio à pandemia, procura por alimentos de origem vegetal aumentou (pixabay/gavilla)

Há anos, especialistas alertam sobre a relação entre a exploração animal e o surgimento de vírus, que podem levar a pandemias. Esses alertas, porém, se tornaram mais frequentes no momento atual por conta do coronavírus, que já matou mais de 328 mil pessoas no mundo e 18.894 no Brasil.

Além do impacto ambiental sobre os ecossistemas, gerado pela ação humana, a exploração de animais para consumo também abre espaço para os vírus. Ao aglomerar e confinar animais, estressados e muitas vezes doentes, e submeter funcionários de matadouros à aproximação com esses animais, a indústria facilita o contato de pessoas com organismos que podem levar ao adoecimento humano. Como aconteceu em Wuhan, na China, no mercado que comercializa animais vivos e mortos – onde, segundo especialistas, o coronavírus surgiu.

Diante desse cenário, o veganismo se destaca como uma forma de viver que não colabora com o surgimento de vírus letais aos humanos. Fica exposto, então, mais um dos benefícios da dieta vegetariana estrita – aquela que é praticada pelos veganos e exclui todos alimentos de origem animal. Além de não compactuar com o sofrimento animal e a devastação do planeta, o veganismo beneficia a saúde humana não apenas de maneira individual, através do vegano que se torna mais saudável, mas também de maneira global, ao não propiciar o surgimento de pandemias.

Sabendo disso, há quem tenha se interessado mais pelo veganismo. Na Ásia, por exemplo, o consumo de proteínas vegetais aumentou desde o início da pandemia. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos. Por conta desse interesse maior do público em geral por produtos veganos, a Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) entrevistou com exclusividade a nutricionista Maitê Ranheiri, que deu dicas para aqueles que pretendem transitar da dieta onívora para a vegetariana estrita. Confira abaixo.

ANDA: A crise do coronavírus levou à redução dos serviços em vários setores e com os matadouros não é diferente. Muitos deles estão com atividades suspensas. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) registrou redução de 16% na intenção de confinamento de bois explorados para consumo no estado e afirmou que os principais fatores responsáveis por isso são o aumento no preço dos insumos e a redução do consumo de carne no mercado doméstico. Essa redução no consumo de produtos de origem animal pode levar as pessoas a se abrirem para uma alimentação baseada em vegetais. Como elaborar essa alimentação de maneira saudável?

Maitê Ranheiri: A alimentação baseada em vegetais ou chamada de plant based tem como objetivo conduzir uma alimentação mais natural e sustentável, excluindo alimentos de origem animal. Acredito que esse tipo de alimentação vêm ao encontro de algumas orientações do Ministério da Saúde, como o Guia Alimentar para População Brasileira, que fala sobre utilizar alimentos in natura ou minimamente processados como a base da nossa alimentação, combinar durante o dia alimentos como: cereais, feijões, raízes, tubérculos, legumes, verduras, frutas, castanhas e água. As recomendações gerais para os vegetarianos é basear a alimentação em alimentos in natura ou minimamente processados e a evitar alimentos ultraprocessados.

Sanduíche saudável e vegano (pixabay/mikefish70)

ANDA: Outro cenário surge na pandemia: além da queda do consumo motivada pela crise, há quem esteja descobrindo a relação entre o surgimento de vírus, como o coronavírus, e a exploração animal – assunto que tem sido exposto por especialistas. Essa descoberta pode levar a um interesse maior pelo veganismo, como forma de combater essa situação, deixando de colaborar com ela. No entanto, muitas pessoas ainda enxergam dificuldades para promover essa mudança de hábitos. Acostumadas a consumir produtos de origem animal, não sabem por onde começar. Que dicas você poderia dar para essas pessoas sobre formas de fazer a transição para uma dieta vegetariana estrita?

Maitê Ranheiri: Acredito que cada um tem seu tempo, mas sugiro reduzir aos poucos a carne vermelha, depois as carnes brancas, leite e derivados e ovos, substituindo as proteínas animais pelas proteínas vegetais. É importante que procurem um nutricionista capacitado em alimentação vegetariana pra avaliar o que é possível e sustentável para as pessoas.

ANDA: As proteínas ainda são um tabu para muitas pessoas, por conta da falta de informação. Quais são as principais fontes de proteína vegetal que podem ser consumidas por quem gostaria de se tornar vegano?

Maitê Ranheiri: As fontes de proteínas vegetais são todos os tipos de feijões, lentilha, ervilha, grão de bico e alguns tipos de oleaginosas. Importante dizer que temos que ter uma combinação de fontes de proteína vegetal durante o dia para conseguirmos atingir a recomendação de proteína vegetal.

ANDA: Há quem ainda acredite que não é possível se saciar ao fazer uma refeição baseada em vegetais, tampouco dar conta de atividades físicas que exijam mais do corpo humano – embora fisiculturistas veganos provem o contrário. Quais nutrientes presentes na alimentação vegetariana estrita desmentem esse senso comum errôneo?

Maitê Ranheiri: Alguns estudos mostram que não há diferença entre a alimentação vegetariana estrita e onívora quando se compara resistência e força muscular. Um estudo de abril de 2020 sugere que isso aconteça pela maior ingestão de carboidratos da dieta vegetariana, pois promovem um melhor desempenho de resistência pelo maior armazenamento de glicogênio muscular. Tanto para onívoros quanto para veganos, precisamos de energia para realizar as atividades físicas, isso é, consumir alimentos que são fontes de carboidratos, como cereais, tubérculos e raízes. Caso contrário, não teremos energia para realizar essas atividades físicas. E claro, é importante o consumo de proteínas vegetais também para construção do músculo.

Feijões são fontes de proteína vegetal (arielnunezg/pixabay)

ANDA: Uma dieta livre de produtos de origem animal é adequada para todas as idades. É necessário, porém, realizá-la de maneira diferente para cada faixa etária? Um bebê ou criança, por exemplo, deve ter uma alimentação vegana diferente de um adulto?

Maitê Ranheiri: Como toda alimentação, devemos ter um cuidado maior com as crianças pois estas necessitam de nutrientes por estarem em fase de crescimento. Na alimentação vegetariana não é diferente. O ideal sempre é adequar as necessidades de cada pessoa, independentemente da idade, gênero. Precisamos avaliar questões genéticas e estilo de vida também em todas as idades.

ANDA: Estudos comprovam a relação entre doenças, como o câncer, e o consumo de produtos de origem animal. Ao adotar uma dieta vegetariana estrita, a pessoa pode reduzir as chances de desenvolver determinadas doenças e conquistar um estilo de vida mais saudável?

Maitê Ranheiri: Sim, têm muitos estudos comprovando que os vegetarianos estritos que utilizam os padrões da plant-based têm melhor estilo de vida e menor risco de desenvolver doenças por terem maior consumo de vitaminas, minerais, fibras e compostos bioativos com capacidade antioxidante e anti-inflamatória, sendo essa a principal justificativa para os seus efeitos benéficos sobre essas doenças crônicas não transmissíveis.

ANDA: Como nutricionista que presta serviço voltado ao público vegetariano e vegano, você tem observado um aumento na busca pela dieta baseada em vegetais?

Maitê Ranheiri: Tenho observado sim, a procura está cada vez maior. Acredito que o aumento da informação sobre o impacto do consumo de carnes tanto para os animais, para o meio ambiente e pela nossa saúde ajudam as pessoas a se conscientizar sobre isso e acabam pesquisando mais e se interessando pelo assunto, o que é maravilhoso.

ANDA: O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) autorizou consultas nutricionais online. De que maneira, neste momento de pandemia, essas consultas à distância podem ajudar uma pessoa a mudar sua alimentação, adequando-a ao vegetarianismo estrito?

Maitê Ranheiri: Isso ajuda quem quer mudar a alimentação pois podem não ter acesso presencial a profissionais de saúde que estão capacitados para atender vegetarianos e veganos, o que não é fácil, já que é preciso muito estudo para atender esse público.


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