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RECONHECIMENTO

'Declaração de Nova York': pesquisadores redigem declaração em defesa da consciência de animais

22 de abril de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

No último dia 19 de abril, cientistas se reuniram nos Estados Unidos para assinar a “Declaração de Nova York sobre a Consciência Animal”. O texto destaca a necessidade de considerar a possibilidade de experiências conscientes em animais, incluindo répteis, peixes e insetos, além de aves e mamíferos.

“Os últimos dez anos têm sido um momento emocionante para a ciência da cognição e do comportamento animal. Novos resultados surpreendentes têm sugerido vidas internas surpreendentemente ricas em uma ampla gama de outros animais, incluindo muitos invertebrados, impulsionando um debate renovado sobre a consciência animal”, destacam os autores em uma página da declaração.

A definição de consciência utilizada se refere à habilidade de ter vivências subjetivas, tais como perceber, degustar, escutar ou tocar o mundo ao redor, além de experimentar sentimentos como medo, prazer ou dor.

Os cientistas se baseiam em evidências indiretas, como comportamentos associados a experiências conscientes, para avaliar a consciência animal. Dentre os 39 signatários iniciais da declaração estão os principais especialistas mundiais em consciência humana e de uma ampla diversidade de animais. A declaração visa estimular mais pesquisas sobre o tema e maior apoio financeiro para o campo.

O documento destaca que, embora não haja respostas definitivas sobre quais espécies são conscientes, há evidências suficientes para considerar uma “possibilidade realista” de algumas formas de experiências conscientes mesmo bastante distintas dos humanos.

Experimentos que testaram a consciência

Um dos métodos mais usados para analisar a autoconsciência em animais é o “teste do espelho-marca”. A ideia é investigar se um animal, ao ver uma marca em seu próprio corpo no espelho, tentará removê-la. Em uma série surpreendente de estudos entre 2019 e 2023, pesquisadores mostraram que peixes-limpadores (Cleaner wrasse) podem passar pelas quatro fases do teste.

Primeiramente, quando expostos a um espelho, os peixes reagem agressivamente como se acreditassem estar vendo um peixe rival. Depois, a agressão diminui e os peixes começam a realizar comportamentos incomuns diante do espelho, como nadar de cabeça para baixo. Em seguida, os peixes parecem estudar a si mesmos no espelho. Finalmente, após os pesquisadores colocarem uma marca colorida no peixe, este, ao ver a marca no espelho, tenta removê-la raspando contra uma superfície disponível.

Em um estudo de 2020 publicado na revista Science, corvos foram treinados para fazer um gesto específico de cabeça sempre que vissem um quadrado colorido em uma tela, tarefa que realizaram com alta precisão. Durante todo o experimento, os pesquisadores mediram a atividade em uma região cerebral considerada associada à cognição de alto nível em aves (o NCL). Eles descobriram que a atividade do NCL acompanhava se as aves relatavam ou não ver um estímulo — e não se um estímulo estava presente ou não. “Em outras palavras, os resultados sugerem que a atividade cerebral no NCL é um correlato neuronal da experiência visual em corvos”, explicam os cientistas por trás da declaração.

E as evidências não se restringem a aves e peixes: segundo os pesquisadores, invertebrados também podem ter consciência. Por exemplo, as moscas-das-frutas têm dois tipos de sono: profundo e ativo, em que a atividade cerebral é semelhante à do estado acordado. Alguns sugerem que o sono ativo está relacionado aos sonhos.

Os polvos evitam a dor e valorizam o alívio, segundo um estudo de 2021. A pesquisadora Robyn Crook permitiu que os cefalópodes escolhessem entre duas câmaras em um tanque. Os animais que receberam ácido no abrigo desenvolveram aversão a ele, ao passo que aqueles que receberam anestesia demostraram preferência de ficar ali. Isso sugere que os polvos experienciam e evitam ativamente a dor, indicando uma possível consciência.

Em vez da visão, alguns animais dependem principalmente do olfato ou de outras pistas não visuais para navegar em seu ambiente — como as cobras d’água. Um estudo de 2024 mostrou que esse réptil é capaz de notar mudança nos próprios odores.

Em um teste de 2022, as abelhas-bombus foram observadas rolando bolas de madeira de uma maneira que se assemelha a comportamentos de brincadeira, indicando um ato recompensador. Essa atitude não serviu a um propósito aparente, como forragear ou acasalar, e variou em sua execução, sugerindo espontaneidade. Além disso, o comportamento aumentou quando as abelhas estavam relaxadas, sugerindo que era uma experiência agradável e não induzida pelo estresse.

Segundo os cientistas, esses e outros estudos demostram formas de interpretar comportamentos complexos, como aprendizado, memória, planejamento e autoconsciência. “Os formuladores de políticas devem tomar medidas razoáveis para mitigar os riscos ao bem-estar de todos os vertebrados e muitos invertebrados, enquanto os pesquisadores buscam avançar em nossa compreensão deles”, relatam os autores na declaração.

Fonte: Galileu

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