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Da inocência ao assassinato

30 de janeiro de 2009
2 min. de leitura
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Basta o mínimo de convivência com uma criança para saber que é nas ações dos adultos que ela se espelha para pensar e agir. São como esponjinhas sem filtros, já que ainda não há experiência suficiente para diferenciar o ruim do bom, entender o que é certo e errado. Pensando nisso, enquanto adultos, devemos servir de exemplo e referência para sua formação, suas escolhas e seu futuro, certo? Ok, então alguém pode me explicar quando alguns preferiram por ensinamentos de tortura e assassinato?
Li com muita tristeza uma matéria recente sobre um garoto de 11 anos que, por estímulo dos pais, matou seis touros em uma única tourada no México. O objetivo, por incrível que pareça, era um número registrado no Guiness – o famoso livro dos recordes, o qual se posicionou contra recorde que envolva a morte de animais.
Incrível como essas práticas sanguinárias são tidas como passeios a pais com suas crianças como se estivessem em ambiente familiar. Além das touradas cultuadas em alguns países, os rodeios estão em todo lugar, com suas sessões de sofrimento ao vivo para quem quiser ver. E, infelizmente, o público infantil é presença certa. Em Barretos há minirrodeios, nos quais crianças disputam montadas em carneiros. O sonho dessas crianças? Tornarem-se peões.
Em matéria do portal G1 sobre rodeios infantis, nem ao menos citaram a crueldade e o perigo de envolver crianças com animais, mesmo dóceis como carneiros, porém incomodados, tristes e bravos. Ao contrário, ainda chegou-se ao absurdo de incluir o seguinte comentário: “Marcos, de apenas 4 anos, caiu rápido e de rosto na areia. Saiu meio assustado, mas, como um peão de verdade, não chorou.”
A participação de crianças em rodeios não é uma preocupação recente. Em 1999, o psicanalista e diretor clínico do Netpsi – Núcleo de Estudos e Temas em Psicologia – Fernando Falabella Tavares de Lima, elaborou o laudo* psicológico “Os Rodeios e o Desenvolvimento Moral e Psíquico das Crianças”. Apesar de salientar a falta de pesquisas e estudos definitivos sobre o assunto, sua análise chegou à conclusão:
“Não há nenhum exagero em afirmarmos que ambientes de eventos como os de rodeios e festas populares do gênero podem ser fatores traumatizantes na formação do caráter e da personalidade de crianças pequenas. Não há, ao certo, como definir a idade exata quando esses traços de personalidade já se encontram estabelecidos nas crianças; assim, conviver, constantemente, em ambientes que apresentam diversas formas de violência contra animais pode ocasionar futuros traumas psicológicos para as crianças, que ainda não possuem capacidade para discernir o que está realmente em jogo nesses eventos.”
São muitas as práticas que envolvem tortura, dor e morte de animais – rodeio, tourada, equitação, pesca, caça – tidas erroneamente como esporte ou cultura, e nas quais se incluem cada vez mais as crianças.
Eu não consigo conceber ensinar a ser cruel. Principalmente a quem só emana amor e carinho.
* Fonte: http://www.netpsi.com.br/artigos/99_laudo_rodeios.htm#

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