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Quem critica protetores de animais não ajuda ninguém, diz Luisa Mell

27 de julho de 2015
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

São quase 11h e a ampla cobertura nos Jardins onde mora Luisa Mell, 36, está agitada. Na sala, ela decide a “missão do dia” ao lado do amigo Rafael Leal, 29. Seus cachorros, Marley e Gisely, dois idosos labradores de 13 anos, caminham a passos lentos para lá e para cá. No quarto, a babá cuida de Enzo, o primogênito da falante apresentadora e defensora de animais.
“Ela acha que vai mudar o mundo.” Sorrindo, a paulistana reproduz para o repórter Joelmir Tavares a frase que ouve do marido, o empresário Gilberto Zaborowsky, 53, presidente da Zabo Engenharia. Ela quer começar a mudança salvando os animais que surgem em seu Facebook junto com pedidos de socorro.
Com mais de 1,8 milhão de seguidores, a página é uma grande galeria de cães doentes e abandonados à espera de resgate. O engajamento de Luisa na causa ganhou fama com o “Late Show”, programa exibido na RedeTV! entre 2002 e 2008, e hoje segue com o instituto que leva o nome dela.
Naquela manhã, enquanto apelos caninos brotam na tela do celular, ela se mostra chateada com a decisão da Justiça, do dia 14 deste mês, que derrubou a proibição da venda de foie gras na cidade de SP. Mas já organiza protestos contra a revogação.
Por um segundo, pensa nela própria. “Tô desesperada. O foie gras é caro, é servido nos lugares que eu frequento.” E brinca: “Falei para o meu marido: ‘Acho que vão cuspir no meu prato’.” Mas diz que falou sério ao ficar cara a cara com Fernando Haddad (PT) em junho e pedir para ele sancionar a lei. Além do veto ao fígado gordo de patos e gansos, a norma assinada pelo prefeito acaba com a venda de pele de animais criados para esse fim.
Com a vigília na prefeitura, afastou-se pela primeira vez do filho desde o nascimento dele, em fevereiro. “Fiquei umas seis horas lá. Almocei sentada na calçada.” Só sossegou quando foi recebida pelo prefeito e entregou a ele as mais de 100 mil assinaturas que ajudou a coletar.
Luisa faz uma careta e empurra as mãos no ar para mostrar como o petista reagiu ao olhar um vídeo sobre a fabricação da iguaria, que envolve alimentação forçada das aves, com um tubo enfiado na garganta. “As pessoas querem comer foie gras e usar pele, mas não querem ver como é feito, né? Eu também não aguento!”, diz, quase chorosa. “É porque sei o que acontece que luto para mudar.”
Luta com a ajuda de uma rede de voluntários e clínicas veterinárias que dão descontos ou trocam os serviços por divulgação de Luisa. “Fazemos parcerias. Porque óbvio que ninguém trabalha de graça. Só eu!” E dá uma risada, sentada no comprido sofá claro da sala de pé-direito alto.
Com a venda de produtos, como camisetas de R$ 64,99 e mantas infantis de R$ 149,99 bordadas com a expressão “Adotei”, mantém um abrigo para 400 cães e faz feiras de adoção. Segundo ela, cada uma custa, por baixo, R$ 3.000 só com exames, vacinas e banhos. “Mas meu marido brinca que no final ele sempre faz um chequinho pra ajudar!” Diz ter fechado a conta em uma das clínicas no ano passado em R$ 100 mil.
Gasta também com advogados, por causa dos processos em que aparece como autora, testemunha ou ré. “Me arrisco muito e pago um preço por isso”, diz a ativista, formada em direito pelo Mackenzie. Quando acode animal em condições ruins, ela chama a polícia e registra boletim por maus-tratos contra o tutor.
A invasão ao Instituto Royal, da qual participou em 2013 para retirar 178 beagles usados em pesquisas, “não deu em nada” na Justiça para ela, afirma. Após o caso do laboratório, “encheu o saco” de Geraldo Alckmin (PSDB) contra os testes em animais para cosméticos e produtos de limpeza. O governador baixou a proibição no ano seguinte.
Relembra o dia em que estava “brigando com um traficante por causa de um cachorro e começaram a chegar outros bandidos de moto” e seu motorista arregalou os olhos ao vê-la entrar na casa atrás do animal. “Conheço todas as favelas de São Paulo”, diz. E resolve partir para a região do Jardim Ângela em sua missão.
Vegana (não come carne nem derivados de animal, como leite e ovos), ela pega a lancheira rosa com estampa de fadas da Disney. Dentro, água, sanduíche, maçã e castanhas. Publica no Facebook as fotos do cão que irá buscar. “Acordei hoje com centenas de pessoas me pedindo para resgatá-lo”, escreve, com a hashtag #emergenciaanimal.
O colega Rafael assume o volante. Fazem pouca ideia do que vão encontrar. “Se tiver uma criança aprisionada numa casa há dias sem comer, também vou pular o muro, assim como faço com o cachorro”, diz ela, em resposta à crítica que costuma ser feita a defensores de bichos.
“Normalmente quem fala isso não ajuda ninguém.” E repete uma frase da atriz francesa Brigitte Bardot, militante da causa animal: “Não existem bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos”. Diz que ajuda crianças, mas não divulga porque os animais são seu “trabalho”.
Ainda no caminho, Luisa, que participou de uma atração sobre pets exibida pelo SBT entre outubro de 2014 e janeiro deste ano, afirma que voltar à TV não é uma meta. Ela admite que pode afastar patrocinadores com exigências como a de que a empresa não faça testes em bichos.
Chegam ao destino e encontram Tyson, cachorro da diarista Claudineia Pereira Santos, 40, e de seus seis filhos. Magro e ferido, ele está num canto da sala. Tem pulgas e alergia. Mas, diferentemente do que se achava até então, não é um caso de abandono. A tutora concorda que o animal seja levado para tratamento. Luisa engrossa a voz ao falar com ela: “Só vou te devolver se você se comprometer a cuidar dele. Cachorro é igual a uma criança de dois anos, não se vira sozinho”.
Beatriz, 15, filha de Claudineia, chora ao ver seu cão no carro. “O melhor para ele é se tratar e voltar, em vez de ir para adoção. Gostam dele”, diz a ativista. Atendido em uma clínica em Pinheiros, Tyson recebe carícias de Luisa: “Vou cuidar de você, te dar uma coisa que você nunca comeu”. Rafael não resiste à piada: “E não vai ser foie gras!”.
Fonte: Conexão Penedo

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