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Conheça Wisdom: a albatroz de 70 anos que é a ave mais longeva do mundo

Ameaçadas por pesca acidental, poluição e mudanças climáticas, aves oceânicas têm papel importante para o equilíbrio marinho

9 de julho de 2022
4 min. de leitura
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Foto: Dragana Connaughton | Schoolyard Films

A sabedoria é um dos ingredientes para atingir a longevidade, e a albatroz-de-laysan Wisdom, que com seus 70 anos ostenta o título de ave mais longeva de que se tem registro no mundo, é uma inspiração de sobrevivência em um planeta com cada vez mais ameaças à biodiversidade.

Wisdom foi identificada e anilhada por pesquisadores em 1956, quando se constatou que ela já tinha pelo menos cinco anos de idade. Nas últimas sete décadas, a senhora albatroz resistiu a diversas intempéries: tsunamis, encontros com pescadores em alto-mar, poluição por plásticos no oceano e os cada vez mais evidentes efeitos das mudanças climáticas.

Os albatrozes são considerados as maiores aves do planeta: a envergadura das duas asas pode alcançar até três metros. Oceânicos, eles se reproduzem em atóis e são fiéis aos locais de reprodução, para onde sempre retornam depois de temporadas em busca de alimentos no mar.

Além da fidelidade a locais específicos, os albatrozes também mantêm parceiros fixos. No caso de Wisdom, ela tem um relacionamento com Akekamai desde 2010. Acredita-se que ela tenha tido outros parceiros de reprodução que faleceram ao longo do tempo. Em fevereiro de 2021, o mais jovem filhote de Wisdom com Akekamai nasceu no Atol de Midway, um santuário marinho próximo ao Havaí. Estima-se que ela tenha tido entre 30 a 36 filhos.

Contudo, nos últimos anos as mudanças climáticas se tornaram uma ameaça cada vez maior a Wisdom e à possibilidade de que outras aves atinjam a mesma longevidade. De acordo com o presidente do Comitê Assessor do Acordo sobre a Conservação dos Albatrozes e Petréis (ACAP) e diretor de Pesquisa Científica da Divisão Antártica Australiana, Michael Double, as ações globais de mitigação climática devem ser prioritárias. “As aves marinhas são afetadas pela mudança dos padrões climáticos, da oceanografia, do aumento do nível do mar e da disponibilidade e abundância de presas”, disse.

“Tempestades incomuns podem levar ninhos e filhotes e oceanos aquecidos podem tornar suas presas menos numerosas ou afastá-las de suas colônias de reprodução. Esses impactos cumulativos provavelmente levarão à extinção algumas colônias de aves marinhas”, completou. A atenção para os efeitos do aquecimento global na população de albatrozes foi tema do Dia Mundial do Albatroz de 2022, que comemorado anualmente em 19 de junho.

A espécie de Wisdom, a albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis), e o albatroz-de-pés-negros (Phoebastria nigripes), são consideradas quase ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da IUCN e têm suas colônias reprodutivas localizadas em atóis próximos às ilhas havaianas do noroeste dos Estados Unidos. Ao menos uma pequena ilha já desapareceu no mar por causa de inundações provocadas por tempestades, o que fez com que locais de reprodução para milhares de casais de albatrozes sumissem.

Casal de albatrozes; aves costumam manter parceiros fixos. Foto: Hob Osterlund

Relação com pescadores

Os albatrozes são animais de topo de cadeia: eles são pescadores e ajudam a manter em equilíbrio a população de suas presas, como sardinhas, lulas e outros pequenos peixes. Geralmente os encontros entre albatrozes e pessoas acontecem em alto-mar, pois as aves não ficam próximas às linhas de costa. Por isso, as interações são com grandes barcos pesqueiros em áreas afastadas ou com as embarcações de pequeno e médio portes que conseguem chegar a esses locais.

“A interação pode ser positiva, pois a presença de aves indica uma área produtiva de pesca, ao mesmo tempo em que os barcos descartam vísceras e restos de iscas, que são ofertas de alimentos fáceis para os albatrozes”, disse a fundadora e coordenadora-geral do Projeto Albatroz, Tatiana Neves. Contudo, essa relação pode se tornar negativa. “É um grande problema para a conservação de aves marinhas. Quando elas mergulham para pegar as iscas nos anzóis de espinhéis, elas acabam sendo arrastadas para o fundo do mar e morrem afogadas. Essa é a captura incidental e ocorre em todas as áreas do planeta onde há albatrozes e pesca”, disse Neves.

A prática não é feita de forma proposital pelo pescador, mas é um dos motores que faz com que as espécies sejam ameaçadas de extinção.

Na busca pela redução da pesca acidental, há medidas de mitigação que podem ser adotadas. Desde 2014, pescadores são obrigados a fazer o regime de peso das iscas, usar um dispositivo conhecido como toriline e praticar a largada noturna, que é o ato de lançar a linha de pesca à noite, quando o risco de atrair um albatroz é menor.

Todos os pescadores que atuam na região que fica ao sul do paralelo de 20º, que passa no meio do Espírito Santo, até a fronteira do Brasil com o Uruguai são obrigados a usar essas medidas.

“Ainda há resistência de alguns pescadores e por isso fazemos um trabalho de educação ambiental para informá-los sobre como utilizá-las de forma adequada e os auxiliamos na instalação dessas medidas nos barcos. Também explicamos a importância da conservação dessas aves para a manutenção da biodiversidade marinha de uma maneira geral”, disse Neves.

Fonte: Um Só Planeta

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