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Complexo turístico ameaça único recife do Golfo da Califórnia

5 de junho de 2010
3 min. de leitura
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Cabo Pulmo, o único recife de corais no Golfo da Califórnia e o que está mais ao norte no Pacífico oriental, corre perigo em consequência da permissão dada pelo governo mexicano para que a empresa espanhola Hansa construa um enorme complexo turístico adjacente ao local.

O recife tem cerca de 20 mil anos, o que o caracteriza como um dos mais antigos do Pacífico americano. É lar de 226 das 875 espécies de peixes que existem no Golfo da Califórnia, no noroeste do México, de acordo com dados oficiais.

No lugar, é comum ver espécimes de tartarugas, golfinhos, lobos marinhos, tubarões-baleia, tigres e touros, e é rota de passagem de baleias-jubartes e baleias-azuis.

Foi declarado em 1995 área de preservação permanente, sob proteção das autoridades mexicanas e hoje é um parque nacional com 7.111 hectares, 99% delas no mar.

Em seu litoral, habita uma pequena comunidade de 80 habitantes, que se encarregam de cuidar desse patrimônio natural e oferecem serviços turísticos como mergulho, esqui náutico, passeios de lancha, pesca esportiva e camping.

No entanto, a empresa Hansa Urbana construirá, com a aprovação já concedida das autoridades ambientais do México, um monumental complexo turístico integralmente planejado sobre uma superfície de 4 mil hectares que faz limite com Cabo Pulmo.

A cidade turística, denominada Cabo Cortés, incluirá hotéis, casas, condomínios, marinas, campos de golfe, shoppings, um bairro para trabalhadores, igreja, serviços médicos e um aeroporto para aviões particulares, entre outras instalações.

Em entrevista à agência Efe, o diretor do parque nacional Cabo Pulmo, Javier Alejandro González, explicou que o projeto prevê construir até 30,6 mil quartos de hotel e mais 10,2 mil apartamentos residenciais.

Segundo González, funcionário da Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas (Conanp), esse órgão redigiu um relatório técnico que concluiu que o estudo de impacto ambiental de Cabo Cortés “tinha imprecisões em vários pontos” e dados que “não estavam validados”.

De acordo com González, a Conanp teme que após o início da construção das marinas, nas quais atracarão navios e iates de luxo, ocorra “uma grande emissão de sedimentos” na água e que no futuro o trânsito das embarcações e a maior afluência de visitantes à região exerçam uma “maior pressão” sobre o recife.

Ele argumenta que as autoridades devem ser capazes de lidar com esses riscos ambientais diante do desenvolvimento, ao qual não se opõe.

Já um grupo de ONGs ambientais possui um ponto de vista mais negativo. Tais entidades formaram uma coalizão para defender o recife e frear o desenvolvimento na área.

Esse grupo é formado pela americana Wildcoast, as mexicanas Niparajá, Pro Natura Noroeste, Comunidad y Diversidad, Amigos para Cabo Pulmo, acadêmicos do centro Scripps dos Estados Unidos e da Universidade Autônoma da Baixa Califórnia Sul.

Um dos membros dessa coalizão, o oceanógrafo mexicano Octavio Aburto, do Instituto de Pesquisa Scripps, disse à Efe que o valor de Cabo Pulmo é o fato de ele ser um ecossistema que ajuda a repovoar as comunidades de peixes “nas áreas adjacentes ao parque, o que permite aumentar a produção pesqueira, base de algumas economias no Golfo da Califórnia”.

Os cálculos de Aburto assinalam que o recife tem em média 5 toneladas de peixes por hectare, 60% dos quais são espécies de grandes depredadores, como tubarões.

Por sua vez, Fay Crevoshay, diretora de comunicação da ONG Wildcoast, argumentou que os vários campos de golfe que terá a cidadela turística “utilizarão uma série de químicos que, quando chover, cairão no mar e matarão os corais”.

Ela destacou também que é “esquizofrênico” que as autoridades mexicanas outorguem um parque nacional, o conservem durante anos e depois “deem permissão a uma construtora para destruí-lo”.

“O que as próximas gerações verão aqui: um recife destruído e morto”, lamentou Juan Castro, líder da comunidade que habita em Cabo Pulmo e que se encarrega de cuidar desse frágil ecossistema marinho há 15 anos.

A agência Efe tentou obter a opinião da construtora Hansa Urbana no México, mas os assessores de imprensa da empresa não estavam disponíveis para entrevistas.

Fonte: Terra

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