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EFEITO NUCLEAR

Cientistas estimam pela primeira vez impacto de ataque nuclear nos oceanos

No cenário de guerra entre EUA e Rússia, a radiação de ondas curtas do Sol foi reduzida em 70% e a temperatura média global da superfície diminuiu 7 graus Celsius

18 de julho de 2022
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Em todos os cenários traçados, desde a detonação de uma centena de ogivas até milhares, o oceano não volta ao estado anterior à guerra após a dissipação da fumaça. Foto: Flickr | International Campaign to Abolish Nuclear Weapons.

Mesmo a menor guerra nuclear devastaria os sistemas oceânicos, alertam os pesquisadores responsáveis pelo primeiro modelo capaz de quantificar os efeitos da explosão de ogivas nucleares nos oceanos. Detalhado em artigo publicado na American Geophysical Union, o modelo indica que entre as consequências estão os declínios acentuados nos estoques de peixes, a expansão das camadas de gelo nas comunidades costeiras e mudanças nas correntes oceânicas. Impactos que levariam décadas ou mais para serem revertidos.

Para modelar as respostas marítimas ao conflito nuclear, o time de pesquisadores de diferentes instituições, liderados por Cheryl S. Harrison, da Universidade de Louisiana (EUA), simulou uma grande guerra, entre Estados Unidos e Rússia, e várias guerras menores entre a Índia e o Paquistão. Considerando os arsenais nucleares dos quatro países e dos seus alvos potenciais, os pesquisadores calcularam a quantidade de fuligem que seria dispersa na atmosfera pelas tempestades de fogo resultantes e, consequentemente, o quanto essa fuligem bloquearia o Sol.

Em seguida, com a ajuda de uma ferramenta de simulação climática, a Community Earth System Model (CESM), os cientistas determinaram os efeitos de curto e longo prazo da fuligem atmosférica nas funções do oceano.

No cenário de guerra entre EUA e Rússia, a radiação de ondas curtas do Sol foi reduzida em 70% e a temperatura média global da superfície diminuiu 7 graus Celsius, nos primeiros meses. O resfriamento mais extremo foi no Hemisfério Norte. Dessa forma, o gelo do Mar Ártico se expande por 10 milhões de quilômetros quadrados, ampliando sua cobertura em mais de 50% e incluindo assim regiões costeiras, normalmente livres de gelo, que são importantes para pesca, aquicultura e navegação.

Em todos os cenários traçados, desde a detonação de uma centena de ogivas até milhares, o oceano não volta ao estado anterior à guerra após a dissipação da fumaça. Estima-se que o oceano levaria décadas para voltar ao normal e que algumas partes dele provavelmente permaneceriam no novo estado por centenas de anos ou mais.

Além da expansão do gelo marinho e do desenvolvimento do que os pesquisadores chamam de “Pequena Idade do Gelo Nuclear”, o resfriamento alteraria as correntes oceânicas, derrubaria os níveis de macro nutrientes no mar e esgotaria os estoques de peixes em cerca de 20% na primeira década após a guerra.

“Com a Rússia em guerra na Ucrânia e o presidente Vladimir Putin ameaçando usar armas nucleares, essas descobertas são um forte aviso de que o mundo simplesmente não pode seguir esse caminho”, alerta Alan Robock, professor de ciência do clima no Departamento de Ciências Ambientais da Universidade de Rutgers e coautor do estudo. “Uma guerra nuclear seria um ponto de inflexão planetário significativo”, conclui.

Fonte: Galileu

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