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FAMÍLIAS MULTIESPÉCIE

Catarinenses protagonizam histórias de amor e generosidade com seus animais

27 de abril de 2024
Redação ANDA
9 min. de leitura
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Leiliane e sua golden Catarina fazem trabalho social (Foto: Arquivo pessoal, Divulgação)

A fotógrafa Leiliane Vieira é tutora de Catarina, uma Golden famosa na região da Grande Florianópolis pelo trabalho social que desenvolve no projeto Patas do Bem e com direito a rede social. Leiliane é uma das tantas pessoas que choraram pela morte de Joca, na segunda-feira (22), um Golden Retriever, após um erro no transporte aéreo. O animal de quatro anos embarcou em Guarulhos (SP), com destino a Sinop (MT), mas foi parar em Fortaleza. Ao perceber o erro, a empresa Gol enviou o cão para o aeroporto de Guarulhos, mas ele chegou morto ao local.

Leiliane também faz parte dos catarinenses com bonitas histórias de amor com seus animais.

A história da golden Catarina

A relação de Leiliane com animais vem dos tempos em que começou a ajudar os protetores. Catarina era uma bebezinha quando chegou para a adoção. Mas com maturidade para sentir o que estava acontecendo. Sem mãe e irmãos, foi levada por Leiliane e hoje divide o apartamento com ela. São três anos de uma história que se intensifica e com ensinamentos sobre generosidade. O agito é grande:

— Volto do trabalho correndo, pois tenho que sair com ela. Muitas vezes levo a marmita e almoço no parque, pois sei o quanto ela precisa desse tempo — explica.

Juntas elas conheceram o Patas do Bem, que leva carinho para crianças em abrigos, pacientes em hospitais, idosos em instituições. É uma relação de troca de carinho:

— Eu coloquei Catarina no projeto porque, quando caminhava com ela na rua, percebia que sempre se aproximava de crianças especiais. Ficava enlouquecida quando avistava uma pessoa numa cadeira de rodas: sentava perto e pedia carinho.

Leilane, que prefere gatos e cachorros doados, sabia que sua vida não seria mais a mesma desde que teve o primeiro animalzinho. Hoje, segue tendo que optar por viagens em que possa ter a companhia de Catarina, assim como restaurantes e outros divertimentos. A relação se torna sempre mais profunda. Inclusive antes de saírem para o projeto, momento em que a conversa é ao pé da orelha.

— Eu digo o quanto a amo, que estamos bonitas e vamos trabalhar bem. Falo o quanto devemos levar amor para as pessoas que nos esperam.

Simone e Mel (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Capacidade de amar e serem amados

A funcionária pública estadual Simone Bittencourt tem com a cachorrinha Mel uma história marcante. O encontro, três anos atrás, ocorreu quando Simone enfrentava um momento delicado de saúde, a recuperação de uma cirurgia bariátrica. Com o psicológico abalado, sentiu-se estimulada depois de ver a relação de carinho de uma amiga e sua cachorrinha.

— A ideia me deu um quentinho na alma. Comecei a pesquisar por um animalzinho que não sofresse com a minha realidade: moro só, em apartamento, e passo o dia fora trabalhando. Entendi que a raça Shih Tzu se adaptava bem a esse contexto e decidi ter um filhote. Hoje, acredito que ninguém é capaz de dar mais amor a uma pessoa do que um animalzinho — diz.

Simone, taurina como Mel, diz que já comprou algumas brigas em defesa da cadelinha. Certa vez foi numa loja que informava ter espaço para animais. Chegando lá, foi advertida que poderia ficar só do lado de fora, onde tinham duas mesas destinadas aos clientes com animais. Reclamou com o pessoal da casa sobre a “propaganda enganosa”, pegou o lanche e foi comer na rua.

A tutora conta ser muito atenta (xixi, fezes, pisar em algum lugar proibido) e exige que outros tutores de animais façam o mesmo. O mesmo ocorre nas ruas, quando um cachorro avança em Mel.

— Entendo que assim estou defendendo os direitos de todos, pois se começarem a proibir a permanência nos espaços, não será bom para ninguém.

Simone explica que a mãe mora perto e dá suporte em caso de uma viagem. Mas que dá preferência por lugares onde aceitam cachorros e que renunciou a alguns passeios, com trilhas, optando pelas mais curtas a fim de não cansá-la. Tem evitado visitar amigas com cachorros maiores, que podem avançar em Mel.

— A relação é como se fosse uma criança. A gente se prende muito, faz as coisas juntas, não deixo faltar comida, remédios. Até brinco: primeiro olho as coisas dela, depois para mim.

Simone conta estar namorando e que Mel teve papel importante: o rapaz passou pelo crivo da cachorrinha, que o aceitou muito bem.

— Ainda bem que eles [a cachorrinha e o namorado] se dão bem. Pelo jeito, ele também se apaixonou por Mel, e ela sente. Aliás, os animais têm muita capacidade de amar e de se sentirem amados.

Foto: Cristiane e Frida (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Casal “foge” de Réveillon para proteger Frida

Quem olha para Frida se surpreende. Em 2016, ela foi abandonada no Bairro Itacorubi, em Florianópolis, e recolhida por uma moça que trabalhava numa clínica veterinária na Lagoa da Conceição. A cachorra estava muito machucada e tinha parte do corpo em carne viva. Foi preciso muitos cuidados para que se tornasse a esbelta de hoje, a “dona da casa” de Álvaro e Cristiane Eller.

Cristiane, agente da Secretaria de Administração Prisional e Socioeducativa, conta que, na época, ela e o marido se ressentiam das perdas de outros animais. Como estavam vivendo o luto, resistiram à ideia de novamente adotar um animal. Certo dia, a moça que havia recolhido Frida pediu uma ajuda do casal por uns dias, como apoio, já que era feriado de 7 de setembro. Cristine e Álvaro cederam. Moral da história: eles e Frida nunca mais se separaram.

O curioso, observa Cris, é que Frida não aceita caminhar pelas ruas do Itacorubi, lugar onde foi encontrada com as marcas de violência. Parece guardar na memória os maus-tratos sofridos.

— A gente quer descer para caminhar, mas ela trava. Essa é a história dela: com a gente desde 2016, viu as minhas netas nascer. Frida é um pouquinho arisca para quem não conhece, mas nunca mordeu ninguém. A gente percebe que ainda tem medo das pessoas.

Para Cristiane, que no começo da carreira enquanto psicopedagoga trabalhou com animais junto às crianças, tutelar um animal é experimentar uma terapia. Conforme ela, eles captam os sentimentos da pessoa, seja de alegria ou de tristeza. Por isso, diz, Frida é uma ajuda. Para recompensar esse carinho, o casal leva em conta a presença da cachorra para estabelecer suas rotinas.

— Já renunciamos a muitas coisas para garantir conforto e tranquilidade. No réveillon, a gente foge dos fogos, pois ela não suporta o barulho. Na virada do ano, ficamos em casa, nós e Frida, e foi excelente.

Zoe e Luke (foto: Arquivo Pessoal)

Para salvar cachorro, estudante entra em lago com jacarés

Em 2016, ainda enquanto estudante de Farmácia, Alice Cáprio Medeiros, teve uma atitude que deixou muita gente de cabelos em pé. Naquela manhã de 7 de abril, caminhando entre um prédio e outro da Universidade Federal de Santa Catarina, ela ouviu o ganido desesperado de um cachorro dentro do córrego que passa pelo campus central da UFSC. Sem pensar nos jacarés que habitam o local, a estudante entrou na água e salvou o cão que não conseguia sair por causa do barranco bastante alto.

— Na hora, eu nem pensei nos jacarés. Lembro de ter pedido aos colegas para segurarem meus livros e entrei no riozinho para salvá-lo — conta Alice.

Não foi um resgate simples: por causa dos cerca de dois metros de altura do barranco, o cãozinho não conseguia sair. Alice pediu ajuda aos colegas que, do lado de fora, conseguiram pegá-lo enquanto ela seguia dentro do riozinho. O Golden tinha uma identificação no pescoço, o que permitiu com que o tutor fosse chamado. Depois do salvamento, Alice não conseguiu assistir mais aulas. Teve que ir para casa trocar as roupas encharcadas.

Criada numa família com animais, Alice acredita que seu gesto tenha sido consequência desse convívio. Hoje, ainda sem filhos, ela e o marido, Wellington, se experimentam como papais de Zoe e Luke.

Em março de 2020, bem no comecinho da pandemia, uma pessoa bateu na casa da avó de Alice oferecendo um cachorro. Ele estava doente e precisando de muitos cuidados: precisou de cirurgia (perfuração no pulmão), teve infecções e precisou de duas transfusões de sangue. Familiares e amigos fizeram doações, venderam canecas com o desenho de Zoe e até vaquinha na internet.

— Foi tudo muito difícil e quase a perdemos. Até morfina ela tomou. Mas, felizmente, ela sobreviveu e hoje divide espaço com o Luke. São meio irmãos: uma hora brincam um com o outro, mas de vez em quando se estranham — conta Alice.

Luke nos escolheu. O animal era conhecido na vizinhança por não deixar ninguém se aproximar. Certo dia, saltou no colo do marido de Alice, que estava sentado na pracinha perto de casa. Ao mesmo tempo, a Zoe, que não permitia nenhum outro cão se aproximar, não teve a reação de antes, de latir, de correr atrás.

— Pareceu uma coisa de destino: Luke nos escolheu. Trouxemos para casa, demos banho, levamos no veterinário, botamos coleira e hoje eles nos ajudam.

O casal pretende ter filhos. Quando é perguntada se considera que o convívio com animais pode ajudar na maternidade, Alice responde que sim.

— Cada dia que passa eu penso que desde criança desejo ser mãe. Eu sei que essa experiência com os bichinhos é diferente do que com uma criança, mas o exercício do cuidado e da atenção com eles me fazem querer ser uma pessoa melhor. Eu penso que devo cuidar da minha saúde para cuidar deles, para poder passear com eles, então, acho que lá na frente provavelmente vai acontecer.

Matéria originalmente publicada pelo NSC e editada pela ANDA.

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