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Cárceres amorosos

9 de setembro de 2010
4 min. de leitura
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Estou chegando agora e, para mim, é uma honra fazer parte desse grande movimento de conscientização que este veículo transmite.  Escrever sobre o assunto é, antes de mais nada, uma necessidade de alma.  Então é com grande alegria que me expresso aqui.
Depois de um longo dia de trabalho fora de casa, a primeira coisa que penso é passear com meus dois cachorros, que ficam loucos para sair. Afinal de contas, eles ficam aqui entediados esperando ansiosamente a hora mais legal do dia – o passeio.
Agora, a minha gatinha, tadinha, não pode fazer isso. Fico imaginando, que será que ela pensa? Ela me olha com uma carinha, me vendo sair porta afora… Mas depois que volto da rua com meus cachorros, brinco com ela pelo simples prazer de brincar,  porque, em parte, me sinto um pouco culpada.
Pois a história dela é parecida com a de milhares de animais que foram abandonados por seus “tor-tutores” e, por sorte, alguns resgatados e amados por outros benfeitores. Como foi o caso da Yumi, minha gata. Mas a questão da culpa é justamente por ter que criá-la, com todo o respeito, amor e carinho que tenho por ela, num apartamento, confinada e sem liberdade.
Sei também que é melhor do que deixá-la na rua, exposta à violência, maus-tratos e tudo o que já sabemos que acontece com esse pobres bichos. Mas isso me faz pensar: o que nós, enquanto sociedade, perdemos da nossa relação com a natureza?
Há muito tempos, os animais viviam soltos, saudáveis, sem roupinha de frio, sem rações específicas para cada tipo de raça, problemas de peso, pelo, condição espacial etc.  A impressão que tenho é de que nós separamos aqueles que gostamos, criamos, amamos, delimitamos e cuidamos em nossos cárceres amorosos chamados “lares”. E de que maneira isso seria diferente?
Hoje em dia, em nossa condição urbana,  não há como criar animais soltos, a não ser que nós nos mudemos para uma chácara ou fazenda.
Mas e esses animais que nasceram com o instinto de liberdade? E os pássaros que eu vejo em gaiolas?
E os animais que ficam no zoológico? E os cães que as pessoas compram como se fossem um objeto de decoração? Deixando de lado não só a questão do bem-estar, mas da solidão, da falta de carinho e abandono, mesmo dentro de casa.
Vou à Goiânia duas vezes por ano, pois meus sogros moram lá, e durante muitos anos o apartamento deles era de frente para o zoológico. Me incomodava profundamente ouvir o rugido triste do leão à noite, ecoando alto pelos arredores. Pode parecer dramático demais, mas para mim parecia um pedido de socorro.
E nas jaulas minúsculas ficavam ursos, tigres, leões, onças e outros tantos animais de um lado para outro, onde há muito tempo haviam desenvolvido um comportamento neurótico por confinamento.
Agora, no lugar do zoológico, expandiram o lote para construir um megaparque. Por que  em vez de darem um espaço maior aos humanos, cheios de outros parques para passear, não dão aos animais? . O mais triste é que, desde o ano passado, já morreram mais de 80 animais por causas desconhecidas  e tantos outros desaparecendo misteriosamente. Interesse político?
Durante um tempo eu juntei material na internet sobre esse zoológico. Matérias, denúncias, notícias horrorosas de cachorros de rua e cavalos assassinados dentro do próprio zoo, para alimentar os animais de grande porte. Mas, sozinha nessa causa, eu não conseguiria entrar nessa briga de titã. Hoje, vê-se claramente que as coisas fugiram totalmente do controle e que já não dá mais para esconder.
Mas fomos nós que mudamos o trajeto dessa história e a liberdade desses seres. Por falta de consciência,  de um interesse maior e visando somente ao nosso próprio prazer em obtê-los, seja lá de que forma. Vivo ou morto.
E me parece um caminho sem volta. A não ser que se comece a pensar, como já acontece, numa conscientização com relação a isso e em grande escala. Pensar por que alguns animais são para amar, obter, confinar, controlar, humanizar e outros para fazer experimentos, matar (até por esporte) e comer.
Qual a diferença entre uns e outros? Quem foi que disse que tem de ser assim?
Estão todos sob o mesmo céu.  Estamos todos.
Assim como a questão das supostas diferenças entre raças, religiões e visões de todo o tipo. Somos nós que criamos esses cárceres em nós mesmos e em tudo o que está à nossa volta.
Espero que o dia em que todos sejam libertos por amor, compreensão e igualdade chegue logo.
Sim, ainda tenho esperança! E não só esperança, mas também tento, todos os dias, fazer a vida de alguns seres ao meu alcance  menos dolorosa.
Quem sabe assim o olhar e a vida da Yumi e de todos os bilhões de animais sejam mais felizes!

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