(da Redação)
Tim Shieff é vegano, e é incrivelmente forte. Famoso campeão de free running e parkour, tem participado de programas de TV nos Estados Unidos e no Reino Unido, e é conhecido por escalar prédios em Londres em nome do ativismo.
No último evento “Mobilização climática pelos povos”, em setembro, Shieff escolheu protestar do alto, pulando entre prédios, e finalmente aterrisando em um prédio onde foi preso. Dois meses depois, ele foi fotografado escalando prestigiados edifícios de Londres – completamente nu – para levantar fundos para a campanha de Jamie Oliver em prol da reeducação alimentar. Em uma entrevista realizada pelo The Guardian, ele contou sobre os seus ideais.
The Guardian: Quando você começou com o free running, e quando começou a misturar isso com o ativismo?
Shieff: Comecei a praticar free running quando eu tinha 16 anos. Parecia apenas uma evolução do que eu sempre quis fazer quando criança: ser criativo, subir nas coisas. Permitiu-me aplicar uma mentalidade de adulto para aquela brincadeira.
Em seguida, fui apresentado ao veganismo. E, a partir daí, descobri que o maior percentual de poluição no planeta vem da pecuária. Depois que eu descobri isso, tornou-se a minha vocação.
Eu acho que todos nós temos algo a contribuir; nós apenas temos que olhar para o quadro geral e perguntar: Com o que nos foi dado, que mensagem podemos passar para promover a ajuda ao bem maior?.
The Guardian: Qual é o seu argumento ambiental para o vegetarianismo?
Shieff: 13% das emissões vêm do transporte global, mas 51% são provenientes da pecuária. A Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas informa que 14,5% das emissões globais de gases do efeito estufa vêm da pecuária, mas um estudo realizado pela WorldWatch afirma que animais e seus subprodutos realmente produzem 51%.
Você contribui com o seu dinheiro para o que deseja oferecer suporte. Se você comprar menos carne e apoiar menos a indústria pecuária, eles vão mudar. A Tesco e a Sainsbury não vão comprar tanto, mais terra estará sendo utilizada para produzir lavouras, o que vai economizar mais terras e gerar menos poluentes, e os preços dos alimentos saudáveis vão cair. Se você é um ambientalista e quer ajudar o planeta para o futuro, comece a comprar mais legumes e menos produtos que vêm de animais.
The Guardian: Quando você está tentando transmitir essa mensagem, imagino que seja difícil para as pessoas aderirem.
Shieff: Sim, você tem que escolher o seu público. Diferentes pessoas respondem a diferentes abordagens. Agora, eu não sei ser passivo. Se eu estou em um trem e vejo um cara agredir a uma garota, eu posso me sentar lá e pensar comigo mesmo que estou bem, pois não sou um cara que bate em meninas. Ou eu posso me levantar e parar o cara.
Essa é a minha abordagem – apenas falar a verdade sem rodeios. Eu trabalho muito com o Jamie Oliver, e ele tem um público totalmente diferente: as massas. E se ele for em um ritmo muito rápido, ele perderá a sua mensagem completamente e ninguém mais irá ouvi-lo. Então, ele está fazendo uma grande abordagem, porém devagar.
Mas sim, a dieta é um tema difícil para as pessoas. As pessoas preferem mudar de religião do que de dieta. É um vício; temos sido programados para comer de determinada maneira três vezes por dia. E, para dizer a alguém que talvez ele esteja prejudicando os outros, é um trabalho duro.
Algumas pessoas dizem: ‘O quê? Não, mas os seres humanos sempre fizeram isso para sobreviver!’. E outras desculpas que nós contamos a nós mesmos. Grande porcaria. Se todo mundo na Inglaterra tivesse que matar fisicamente animais para comê-los, eles não iriam fazê-lo. Se eu estivesse na rua e pegasse um pombo e começasse a morder o seu pescoço, todo mundo iria pensar que eu estou louco. Então, eu só quero estar na frente das pessoas para forçá-las a enfrentar esses fatos.
Eu estive perguntando para um monte de jovens por que eles pensam que é difícil para as pessoas se envolver com assuntos como as alterações climáticas, e as suas respostas tendem a ser: porque não se pode vê-las.
Eu acho que o meio ambiente é a melhor maneira de levar as pessoas a entender a magnitude disso. As pessoas já aceitaram que os animais morrem para o seu consumo, e elas realmente não se importam – o que ainda me surpreende. E eu não gosto de usar a saúde, porque fazer coisas pela sua saúde é visto como uma espécie de atitude egoísta. Mas todo mundo concorda que devemos cuidar do meio ambiente.
The Guardian: Você se sente esperançoso quanto ao futuro?
Shieff: Sim. É uma questão de tempo. Injustiças não podem durar para sempre, e nós estamos no meio de uma grande mudança. Atualmente, 20% dos jovens de 16 a 25 anos são vegetarianos ou veganos no Reino Unido, em comparação com 12% do país. Esta geração realmente entendeu o problema. E eles vão crescer e envelhecer, e as novas gerações serão ainda mais sensíveis e mais proativas. As crianças entendem por que não devem comer animais. Então, à medida que crescerem, nos próximos 20 a 30 anos, eu acho que nós vamos ouvir crianças dizendo: ‘Mamãe, papai, eu não posso acreditar que você costumava comer animais. Por quê?!’. É só uma questão de tempo. Em 20 anos, acho que haverá países declarando-se vegetarianos.
The Guardian: Isso é tão difícil de se imaginar.
Shieff: Talvez, mas somente no século passado as sociedades realmente aceitaram que os negros merecem os mesmos direitos das pessoas brancas, e que as mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens. Um filósofo, Arthur Schopenhauer, disse que toda verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Depois, recebe violenta oposição. E então, em seguida, é aceita como verdade. Agora, nós estamos no estágio da ridicularização. As pessoas ainda fazem piadas sobre os veganos. Em um próximo passo, imagino que haverá alguma oposição violenta.
The Guardian: Então, como as crianças que querem se tornar vegetarianas devem responder à ridicularização?
Shieff: Devem rir disso. Trata-se de se preocupar com o meio ambinente. Este é o lado da empatia; e quem está contra a empatia, está do lado errado.