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COMPORTAMENTO

Cães sofrem com o luto após a morte de companheiros

Pesquisa observou mudanças comportamentais em cachorros que perderam outros cães próximos

5 de março de 2022
Jovana Meirelles | Redação ANDA
3 min. de leitura
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Pesquisa aponta que cachorros enfrentam um tipo de luto ao perderem outros animais companheiros | Foto: Ilustração | Pixabay  

Um estudo publicado na revista Scientific Reports apontou que reações comportamentais, semelhantes ao luto vivenciado por humanos, foram identificadas em cães quando outros cachorros próximos falecem.

De acordo com a revista Casa e Jardim, da Globo, Federica Pirrone, uma das autoras do artigo, explicou ao jornal inglês The Guardian, que os cachorros criam laços fortes com seu grupo familiar e “Isso significa que eles podem ficar muito angustiados se um deles morrer e esforços devem ser feitos para ajudá-los a lidar com esse sentimento”, aponta a especialista.

Apesar de os autores não concluírem com clareza a relação direta das novas observações com a experiência do luto, os indícios apontam para uma situação de bem-estar negligenciado. A Dra. Frederica expõe que “No geral, os cães brincam e comem menos, dormem mais e buscam mais a atenção dos tutores”, o que se mostrou como uma reação à perda vivenciada.

Ela garante, ainda, que os resultados não parecem ser afetados pelo apego entre o tutor e seu cachorro ou de acordo com a humanização feita aos seus animais, o que afasta a hipótese de que os cães estariam apenas vivendo a projeção da dor de seus tutores.

A pesquisa responsável por tais conclusões, contou com 426 respostas de diferentes tutores, que responderam a um questionário online sobre o possível luto canino. Todos os entrevistados passaram pela perda de um de seus cachorros, enquanto, ao menos, algum outro cão da família continuou vivo. O estudo analisou as emoções e comportamentos dos tutores e de seus demais cachorros após essa perda.

Conforme publicado na revista, as análises mostraram que 86% dos tutores alegaram mudanças comportamentais em seus cães após a morte e outro cachorro da casa. Os pesquisadores concluíram, também, que essas alterações identificadas nos animais não estavam necessariamente ligadas ao tempo de convivência ou à observação do cadáver pelo animal sobrevivente.

As explicações são várias, dentre elas, os autores destacaram que a morte pode ter interrompido comportamentos antes realizados em conjunto pelos cães. Eles apontaram, ainda, que, “[…] se os cães costumavam compartilhar comida durante a vida, o sobrevivente era mais propenso a reduzir seu nível de atividades e dormir mais após a perda”.

Cães que compartilhavam hábitos e comida com seus falecidos companheiros demonstraram mais reações comportamentais | Foto: Ilustração | Pixabay

Os resultados também revelaram que as reações foram mais intensas para os cães que mantiveram uma relação de amizade ou parental com o companheiro falecido. “Provavelmente isso significa que o cão sobrevivente perdeu uma figura de apego, que lhe forneceu segurança e proteção”, afirmou Dra. Federica ao jornal.

Bem como colocado pela revista, a especialista do estudo em questão também considera que o sentimento dos tutores possa ter influenciado no processo de luto dos cães. Isso porque, em casos com traumas psicológicos dos tutores, os cães sobreviventes demonstraram maior nível de medo e redução na alimentação. “Isso significa que pode ter havido alguma forma de contágio emocional ou de transmissão social do medo, que é comum em espécies sociais como parte de uma estratégia de enfrentamento adaptativa com circunstâncias potencialmente perigosas”, concluiu a pesquisadora.

Entretanto, Federica alerta que algumas considerações são necessárias ao analisar os resultados da pesquisa. De acordo com a especialista, embora a perda de um animal próximo cause mudanças comportamentais relacionadas ao que se interpreta como luto, outros fatores devem ser levados em conta. “É claro que, com base em nossos resultados, ainda não podemos dizer se esses cães estavam respondendo apenas à ‘perda’ de um afiliado ou à sua ‘morte’ propriamente dita”, explica.

Além disso, em entrevista ao The Guardian, a professora e antropóloga social Samantha Hurn, alegou que a pesquisa tem limitações, como a possível imprecisão dos tutores ao analisar o comportamento de seus cães ou as limitações técnicas da pesquisa diante de questões muito subjetivas.

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