PRECONCEITO

Cães rejeitados por adotantes esperam há mais de 10 anos pela chance de ter uma família

Vivendo em baias de um abrigo há anos, esses cães têm pouquíssimas chances de adoção. Quanto mais o tempo passa, maior é o risco de morrerem sem nunca conhecer o amor de uma família

5 de outubro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
8 min. de leitura
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O preconceito condenou cães a passarem a vida no abrigo da Associação Piauiense de Proteção e Amor aos Animais (Apipa), que embora ofereça boas condições a cada um deles, nunca será capaz de proporcionar o que só um tutor pode oferecer. Alguns deles, esperam por adoção há mais de 10 anos e correm o risco de morrer no abrigo, em Teresina, no Piauí, sem saber o que é ser amado por uma família.

Dentre filhotes e adultos, a instituição abriga atualmente 64 cachorros e mais de 170 gatos. Segundo a diretora da Apipa, Isabel Moura, os animais mais rejeitados do abrigo são os que dependem de cuidados especiais por terem deficiência ou doença que demanda tratamento constante.

Pitel (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Pitel é um desses animais. Embora tenha porte pequeno – considerado o preferido entre os adotantes -, ele precisa tomar medicação e tem uma aparência que os adotantes consideram ruim e, por isso, o rejeitam. Com um histórico de muito sofrimento, o cão foi resgatado em 2008 na Zona Norte de Teresina. Levado ao abrigo da Apipa por uma protetora de animais, Pitel tinha várias feridas pelo corpo e vivia, até então, em situação de rua.

“Cuidamos dele, tratamos as feridas, mas ele nunca conseguiu ser adotado. A aparência do Pitel não ajuda no seu processo de adoção, as pessoas passam direto do seu canil. Ele não faz uso de nenhum remédio controlado, só precisa de remédio pra manter a imunidade alta e é um cachorro de pequeno porte”, contou Isabel ao G1.

A dor de não encontrar um lar também é vivida por Talita, uma cadela que vive há cerca de 10 anos no abrigo. Atropelada, ela viveu parte da vida se arrastando pelas ruas de Teresina. Na época, apesar das dificuldades de locomoção, sempre aparecia em frente a supermercados para pedir comida, já que também sofria com a fome. Após o resgate, sua qualidade de vida melhorou significativamente, mas ainda lhe falta uma família que lhe ame.

Talita (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Atualmente, Talita é mantida em um espaço especial da instituição, onde pode se arrastar sem ferir as patas. Carinhosa e dócil, ela é conhecida por latir para pedir cafuné na orelha e carinho na barriga. Embora não faça uso de medicações controladas, nem tenha sido diagnosticada com doenças degenerativas, a cadela nunca despertou a atenção de nenhuma família e, por isso, continua morando no abrigo.

Foi também um atropelamento que condenou o cão Rico a sofrer preconceito por parte da sociedade. Em 2012, após ser atropelado por conta da negligência de seus antigos tutores, o cachorro foi descartado pela família. Na época, os voluntários da Apipa se comoveram com a história de Rico e o resgataram. Vivendo há longos 9 anos na instituição, o cão sofre de sarna demodécica e, por isso, tem partes do corpo escurecidas. Essa doença, porém, não é contagiosa entre animais e também não contamina humanos. A aparência do cão, no entanto, e os cuidados especiais com a pele, afastam possíveis adotantes que perdem a chance de ter a companhia adorável de Rico.

Rico (Foto: Lívia Ferreira/G1)

O preconceito também vitimou Batuta, um cachorro que vive há 5 anos na Apipa e não encontra um lar por ter sequelas neurológicas, decorrentes de convulsões, que dificultam sua locomoção. Atualmente, ele não apresenta mais episódios convulsivos, mas não consegue andar e, por isso, apenas se arrasta. Apesar das dificuldades, ele faz questão de seguir as pessoas para todo lado, já que adora a companhia humana e é muito carinhoso.

Belinha também não tem os movimentos das patas traseiras, consequência de um atropelamento. Bastante carinhosa, ela precisa de ajuda para urinar porque não consegue expelir a urina sozinha. No abrigo, é conhecida por adorar deitas sobre panos no chão e por adorar receber carinho. Seu jeito doce, no entanto, nunca foi suficiente para conquistar o coração de um adotante e, por isso, ela vive há 8 anos na Apipa.

Lucinha chegou um ano depois. Resgatada há 7 anos na Zona Leste de Teresina, a cadela não tem a perna dianteira esquerda. A suspeita é de que antes do resgate ela tinha uma família, já que a cirurgia de amputação da pata já havia sido feita. Apesar disso, os supostos tutores nunca foram localizados. E embora Lucinha ainda precise passar por uma nova cirurgia para tirar um excesso de pele no olho, ela não faz uso de medicações e é saudável.

Batuta (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Em 2014, o humorista Whindersson Nunes visitou a Apipa e se encantou por Lucinha. Tempos depois, ele retornou à entidade e não reconheceu a cadela, que havia ganhado peso e estava mais esperta e feliz. No local, ela ficou conhecida por gostar de andar pelos corredores e deitar em tapetes.

A Apipa também se tornou o lar de Paty, que há 5 anos espera por uma família. Tetraplégica, ela vive deitada, mas consegue se alimentar e ingerir água normalmente. Precisa de ajuda para urinar e, embora viva nessas condições, tem sensibilidade nas pernas e na cabeça e adora receber carinho.

Belinha (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Infelizmente, nem os maus-tratos brutais que sofreu foram suficientes para tocar o coração de uma família disposta a adotá-la. Resgatada pela ONG, Paty havia sido jogada de cima de um caminhão de lixo em movimento após ser entregue a um coletor de lixo pela tutora, que pediu para que ele se desfizesse da cadela. Grávida na época, Paty perdeu todos os bebês e sofreu uma lesão grave na coluna.

Mileide, há 3 anos na Apipa, também sofreu nas mãos de sua tutora, que a mantinha em um espaço pequeno e sujo. Desde que foi resgatada, ela passou a receber todos os cuidados necessários e hoje é uma cadela grande e saudável que adora tirar uns cochilos.

Lucinha (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Animais recém-chegados à instituição

Além dos cachorros que aguardam há anos por um novo lar, a Apipa também abriga atualmente animais que chegaram mais recentemente ao abrigo. Um deles é Claudinha, uma cadela que chegou na instituição há dois meses.

Por ser filhote, a cadela tem mais chances de encontrar uma família. Resgatada com desnutrição, ela foi internada e precisou de transfusão de sangue. Correu riscos, mas lutou pela vida e hoje está saudável.

Biscoito (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Além dela, a instituição recebeu recentemente alguns gatinhos que ainda não conseguiram encontrar famílias. Um deles é Biscoito, mestiço da raça siamês que sofre de um problema intestinal, mas vive uma vida completamente normal, precisando apenas de ração especial. A doença não é grave e não gera nenhuma alteração comportamental, com exceção de fezes mais recorrentes. Muito dócil, Biscoito adora receber carinho.

Tão carinhosa quanto Biscoito, a gata Luluzinha está no abrigo há três semanas, desde que foi atropelada em frente ao Cemitério São José. O motorista não prestou socorro, o que configura crime de maus-tratos e deve ser denunciado às autoridades.

Luluzinha (Foto: Lívia Ferreira/G1)

Após o resgate, Luluzinha precisou ser submetida a uma cirurgia por ter sofrido uma fratura na cabeça. Ao examiná-la, o veterinário descobriu que ela tinha pontos de uma castração recente e, por isso, a ONG suspeita que Luluzinha tinha família e pode ter se acidentado por ter livre acesso à rua ou por ter fugido de casa. Com cerca de um ano de idade, a gata precisou colocar um pino na boca para tratar as sequelas do acidente. Ela também tem dificuldades de equilíbrio e sua pata dianteira direita está atrofiando. Todas as dificuldades que enfrenta, no entanto, não a impedem de ser um animal dócil e que merece um novo lar.

Mude a vida de um animal, adote!

Para adotar um ou mais animais resgatados pela Apipa, basta ter mais de 18 anos e comparecer à sede da instituição munido de original e cópia de RG, CPF, comprovante de residência e foto 3/4. O candidato à adoção passará por uma rápida entrevista, terá que preencher um questionário e assinar um termo de adoção responsável.

Paty (Foto: Lívia Ferreira/G1)

A entidade está localizada no município de Teresina, na Rua Trinta e Oito, 1041, no Loteamento Vila Uruguai, bairro Uruguai (6 quadras após a UNINOVAFAPI), e está aberta para visitas e adoções das 14h às 16h.

Os que não tiverem condições de adotar, podem colaborar com a instituição realizando doações. Para mais informações, basta acessar o site oficial da instituição ou fazer contato pelas redes sociais. No site, é possível fazer doações por meio de cartão de crédito ou débito através do PagSeguro.

Mileide (Foto: Lívia Ferreira/G1)
Claudinha (Foto: Lívia Ferreira/G1)

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