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Cães abandonados que foram espancados estão à procura de um lar em SP

9 de setembro de 2010
6 min. de leitura
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Simone Götzö
[email protected]

Além de abandonados nas ruas, foram espancados. Eles se tornaram inseparáveis, mas continuam meigos e pacientes à procura de um cantinho para chamar de seu.


A fome, o frio e a indiferença das pessoas uniram esses dois cães em um elo de amizade que palavras não vão poder descrever, somente estando próximo a eles é possível perceber os gestos que os tornam inseparáveis.

Coringa, o cão branco com a linda máscara preta em sua face, morava em um cortiço ao lado do Metrô Armênia. Durante o dia vagava pelas ruas do bairro, à procura de restos dos marmitex oferecidos aos moradores de rua, que frequentam o albergue da prefeitura a três quadras do cortiço.

Em seus passeios sempre acabava por trazer algum amigo-cão com ele. Mais do que a máscara, ele agia como um coringa do bem entre os outros animais que vagavam no que eu chamo de triangulo da morte; afinal o bairro da ponte pequena – de apenas 25 quadras, está cercado pela Marginal Tietê de um lado, pela Av. Santos Dumont do outro, e na outra ponte a Av. Cruzeiro do Sul e Av. Do Estado. Acho muito difícil um cão andarilho conseguir chegar por esses lados sem nenhum arranhão, acredito que o fato de estarmos próximos ao CCZ/SP faz com que eles sejam abandonados por aqui.

E o Coringa ensinava aos novos moradores, onde podiam arranjar restos de comida, água, sombra e até carinho, rodeando os motoristas de ônibus (o metrô transformou as ruas em terminais de embarque), enquanto estes faziam uma horinha na calçada.

Meses atrás Caramelo apareceu, mas, diferente de outros, ele nunca mais desapareceu do bairro, e aonde o Coringa ia, Caramelo estava lá a seu lado e vice-versa.

Os moradores, comerciantes e transeuntes frequentadores do bairro estavam todos familiarizados com os cães e seus passeios, eram dóceis, amistosos, adoravam que as pessoas brincassem com eles, mas parece que essas mesmas pessoas se acostumaram tanto com os cães que passaram a não mais enxergá-los, era como se eles fossem inanimados, um brinquedinho.

Talvez tenha sido nessa época do aparecimento do Caramelo, que o ex-tutor do Coringa foi despejado, e sumiu no mundo deixando o Coringa à própria sorte, e que continuou dia após dia e mês após mês, tentando adentrar o cortiço, e sem sucesso passou a dormir na calçada em frente ao portão, onde até então o Caramelo sempre dormirá à espera do amigo.

Sem um teto, passaram a depender integralmente dos restos que encontravam pelas ruas. Até o dia em que notei que os cães dormiam o dia inteiro na calçada e estavam quase sendo pisoteados de tão fracos e passei a alimentá-los e cobrar das pessoas mais respeito por eles e por sua situação.

E foi assim que passei a admirar o elo de amizade deles. Sempre levava a comida deles em separado, pois temia que a fome falasse mais alto e que eles pudessem brigar, ledo engano meu. Coringa não comia enquanto Caramelo não lhe desse um sinal que estava satisfeito. Às vezes Caramelo ia e comia um pouco do prato do amigo que talvez soubesse que ele precisava mais do que ele.

Dividiam uma sombra e se encolhiam juntos embaixo das marquises dos prédios quando chovia – eles se consolavam.

Não lancei na época nenhum pedido de resgate nem de adoção, porque com tantos animais precisando de socorro imediato, e das ONGs estarem superlotadas, sabia que eles não teriam nenhuma chance e continuei a mantê-los da forma que podia, porque nunca imaginei o que estaria por vir.

Semana passada, os dois cães foram surrados, acredito eu pelos moradores de rua, que à noite tornam-se drogados e bêbados. Caramelo estava mancando de uma pata e bem apático, tristinho. Mas Coringa estava péssimo, deitado, com uma das patas inchadas, não levantava nem para comer ou beber. Seus olhos pareciam marejados e juro que neles li a palavra “socorro”.

Liguei para amigos, que me passaram o telefone do táxi-dog do Nico, que veio o mais rápido que pôde; expliquei a ele que não podia sair da empresa onde trabalho, e pedi que levasse o Coringa para alguma veterinária que ele conhecesse, e foi só o Nico pegá-lo que o Caramelo foi atrás do amigo, e disse ao Nico para levar os dois e que ambos fossem examinados.

Nico voltou da veterinária trazendo os cães. Coringa havia tomado soro com outros medicamentos, era a dor que o impedia de se alimentar e de locomover e ainda precisava tomar antibiótico por mais 7 dias e de preferência durante as refeições para que não comprometesse seu estômago. Caramelo estava só com uma luxação. Disse ainda que durante todo o tempo que Coringa esteve na maca para receber a medicação, Caramelo ficou ali sentado olhando para cima, para ver se o amigo estava bem.

Morando em apartamento, com minhas outras 5 crianças de pelo, e mais 3 hóspedes de pelo, e sem muito traquejo com cães, não havia como medicá-lo ou continuar alimentando os cães na rua, se já haviam sido surrados por quem os conhecia. O que mais poderia acontecer a eles?

O Nico do táxi-dog, que conhece muita gente, ligou para várias pessoas para tentar hospedá-los e medicá-los sem sucesso. Por final conseguiu que uma vizinha os abrigasse a pagamento em um vão da garagem, que fica vazia de dia.  Aproveitando as diárias, fechei com o Nico e sua veterinária a castração dos cães, para que pudessem ser adotados.

Ambos tomaram um merecido banho para se livrarem da sujeira das ruas e das pulgas, ganharam coleiras, e caixas de transporte foram improvisadas para serem suas caminhas.

Chão limpo, um teto aquecido, água e comida, e dois cães perplexos com tanta mudança é o que verão nas fotos abaixo.

Durante essa primeira semana de hospedagem, continuo a receber as mesmas informações, de que Coringa e Caramelo são inseparáveis, são dóceis, calmos, não latem, não roem, ficam ali à espera de serem chamados para receber um carinho ou brincar.

São dois grandes meninos sociáveis, robustos e diferentes, unidos à procura de um tutor, de um cantinho para chamar de seu. Por serem de porte grande, impressionam e podem até a primeira vista espantar algum abelhudo do jardim ou portão, e nada mais.

Tenho certeza de que serão grandes companhias para crianças ou pessoas da terceira idade, pois são sossegados, tranquilos e adoram a companhia humana.

Peço ajuda para que divulguem a adoção do Coringa e do Caramelo entre seus amigos e conhecidos, para que eles consigam receber todo o carinho que eles tem para dar.

Quem quiser mais detalhes sobre os cães, por favor entre em contato com o Nico do taxi-dog;

Contato:
Nikão Taxi Dog
Cel.: (11) 8385-9244
Tel.: (11) 2239-4695

Marli Delucca

http://redebichos.ning.com/profile/MarliDelucca

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