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INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL

Bons para o meio ambiente, empregos verdes viram tendência entre jovens

Conforme o levantamento, funções em linha com essas boas práticas cresceram cerca de 20% no período

16 de setembro de 2022
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Segundo pesquisas, a maioria dos jovens brasileiros quer construir uma carreira verde nos próximos 10 anos           Imagem: Getty Images

Você já ouviu falar em ‘empregos verdes’? Em linha com a economia de baixo carbono e com práticas sustentáveis, as profissões do futuro estão ganhando espaço nos planos dos jovens brasileiros. Recentemente, uma pesquisa desenvolvida pela consultoria Accenture mostrou que 88% dos entrevistados com idades entre 15 e 39 anos desejam construir uma carreira verde nos próximos 10 anos no país.

Mas quais tipos de trabalho entram nessa categoria? Segundo Fred Heimbeck, da Mandalah, consultoria global em Inovação Consciente, os empregos verdes não envolvem somente funções relacionadas à menor emissão de gases causadores do efeito estufa. No Brasil, para se ter uma ideia, 76 profissões elencadas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAEs) se enquadram como empregos verdes.

“São empregos que têm um papel de preservar e restaurar o meio ambiente. Um exemplo é a gestão de água e esgoto, que não chega a ter uma relação direta com carbono, mas que também pode ser um emprego verde”, explica Heimbeck.

Em 2020, a Mandalah divulgou um estudo, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), mostrando a evolução desse setor entre 2008 e 2018. Conforme o levantamento, funções em linha com essas boas práticas cresceram cerca de 20% no período. Ao final da série histórica, o Brasil contabilizava 3,1 milhões de empregos verdes, o equivalente a 7% do total de empregos no país, e com mais de 50% dos postos de trabalho concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Esse setor ainda empregava três homens para cada mulher.

“Nessa pesquisa, percebemos que a economia verde também está sujeita aos mesmos sobressaltos da economia tradicional. Ela seguia crescendo fortemente até 2014, quando houve uma crise macroeconômica e o aumento de taxa de desemprego também impactou esse setor”, observa o consultor.

Áreas diferentes, realidades diversas

Fred Heimbeck, da Mandalah, consultoria global em Inovação Consciente Imagem: Divulgação

Hoje, os empregos verdes estão divididos em quatro grandes setores no Brasil. Cada um é responsável por uma fatia do total de postos gerados, oferecendo diferentes condições de trabalho e remuneração. “A gente tende a romantizar a ideia de empregos verdes, de imaginar que demandam alta qualificação, alta tecnologia e laboratórios criativos no meio da floresta. Tem isso sim, o que seria a ponta do iceberg, mas eles também passam por funções não tão óbvias”, avalia Heimbeck.

Um desses segmentos é o de infraestrutura, que engloba telecomunicações, saneamento, energias renováveis e transporte — neste caso, ganham destaque funções alternativas ao uso de automóveis, como no caso de ônibus e vans. “É o setor mais robusto, com mais empregos formais e mais bem remunerados”, analisa o consultor da Mandalah, ressaltando que, na área das telecomunicações, a tecnologia ofertada facilita operações remotas e contribui para uma menor emissão de dióxido de carbono na atmosfera.

Já no segmento de consumo e serviços, os empregos verdes envolvem áreas como hospitalidade, eco gastronomia, ecoturismo, higiene, moda e beleza alinhadas a materiais e formas de produção sustentável. Ao mesmo tempo, atividades relacionadas à reparação ocupam uma porção considerável desse setor, segundo Heimbeck.

“São milhares de oficinas de conserto de eletrodomésticos, automóveis, dentre outros. O Brasil é um país com uma cultura de reaproveitamento muito maior do que países como os Estados Unidos e o Japão”, assinala.

A área de extração e produção também se encaixa na economia verde, desde que os estabelecimentos participantes não utilizem insumos artificiais e agrotóxicos e que façam o uso consciente dos recursos naturais. “É uma área em que o nível de formalidade já vai diminuindo”, observa Heimbeck.

Por fim, o consultor destaca o protagonismo do segmento de recuperação e retorno, onde está presente, por exemplo, a coleta de materiais recicláveis, responsável pelo emprego de aproximadamente 1 milhão de pessoas no Brasil. “Essa é a base da pirâmide. Obviamente, isso ocorre na extrema informalidade, com condições de trabalho não dignas”, pontua.

Aposta no trabalho híbrido

Para Deives Rezende Filho, CEO e fundador da Condurú Consultoria, é comum associar os ‘empregos verdes’ a funções que ainda devem ser criadas por empresas de olho na agenda ESG. Imagem: Divulgação

Para Deives Rezende Filho, CEO e fundador da Condurú Consultoria, é comum associar os empregos verdes a funções que ainda devem ser criadas por empresas de olho na agenda ESG. Segundo ele, mesmo com a perspectiva de grande ocupação desse setor, o trabalho híbrido deve ser um ponto forte dentro desse conceito nos próximos anos.

Na opinião do consultor, essa alternativa permitiria menos emissões de poluentes, por demandar uma menor quantidade de deslocamentos, além de reduzir os resíduos gerados pelas organizações. “Será importante ter essa liberdade para trabalhar sem precisar sair de casa, de maneira que faça sentido e esteja dentro do nosso propósito”, reforça.

Heimbeck salienta que, embora seja difícil projetar quais áreas devem apresentar um maior crescimento no futuro, é possível que o setor de infraestrutura — que, atualmente, já “puxa” a economia verde — também se torne o mais aquecido nas próximas décadas.

“Temos muito espaço para o crescimento com transporte, telecomunicações, energias renováveis e saneamento. Basta ver, por exemplo, os baixos números de coleta de esgoto no Brasil. Eu diria que esse deveria ser o foco nos próximos anos”, sustenta.

Atividades que mais têm crescido

De acordo com o estudo da Mandalah junto à Acnur, dez profissões foram responsáveis por 72% dos empregos verdes gerados entre 2008 e 2018. Veja quais são:

  • Atividades de teleatendimento
  • Telecomunicações por fio
  • Coleta de resíduos não perigosos
  • Obras para geração e distribuição de energia
  • Manutenção e reparação de veículos
  • Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos industriais
  • Gestão de portos e terminais
  • Transporte rodoviário coletivo de passageiros
  • Outras atividades de telecomunicações
  • Atividades paisagísticas

Fonte: Ecoa uol

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