Durante a pequisa de campo que norteou a sua tese de mestrado em Psicobiologia, o biólogo Pablo Augusto Gurgel de Souza descobriu, no Parque Estadual da Mata da Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, a existência de um lagarto que se supunha a sua ocorrência apenas no Parque das Dunas, em Natal: o “Coleadactylus natalensis”, considerado o menor lagarto das Américas.
“A espécie foi descoberta em 1999 pela minha orientadora Eliza Freire”, disse Pablo de Souza, que defendeu a tese sobre a “Estrutura da Comunidade de Lagartos de um Remanescente de Mata Atlântica no Rio Grande do Norte”, na manhã de quinta-feira, 18, no “Anfiteatro das Aves”, do Centro de Biociências da UFRN.
Souza também explicou que por ocasião de sua pesquisa, foi descoberto outro lagarto – “Anolis fuscoauratos” – que tinha registros apenas na Amazônia e em outras áreas de Mata Atlântica fora do Rio Grande do Norte.
Segundo Souza, o trabalho realizado na Mata da Pipa possibilitou a catalogação de 19 espécies de lagartos, dos quais sete dependem exclusivamente daquela floresta para sobreviver. Isso corresponde a 28,3% do total de espécies que ocorrem ao longo de toda a Mata Atlântica.
Ele explica que apesar de ser uma ilha de Mata Atlântica numa região onde houve um grande avanço da atividade agroindustrial, com as plantações de cana de açúcar, a Mata da Pipa possibilita a preservação de muitas espécies, ao contrário de outras áreas mais degradadas, como a Mata do Jiqui, de onde também gerou uma monografia dele e foi catalogada 11 espécies de lagartos, dos quais três também têm dependência exclusiva daquele habitat natural.
Souza explica que já no Parque das Dunas, onde foi realizado outro trabalho, que não o dele, descobriu-se 16 espécies de lagartos. O biólogo explicou que a sua dissertação será disponibilizada para a comunidade de Pipa e também para o Instituto Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema-RN). “O trabalho pode ser usado como indicador de qualidade ambiental, servindo para a tomada de ações sobre políticas públicas de conservação ambiental”, disse ele.
Além disso, Souza afirmou que, na sua dissertação, há uma preocupação com o remanescente da Mata Atlântica, por ser a praia de Pipa uma região de grande interesse turístico, a segunda maior do Estado, depois de Natal, e onde aumenta a cada dia a especulação imobiliária: “Existem muitas posses ao redor da floresta”.
Outra preocupação dele é com o fato de que em 2006 o governo tombou a floresta da Pipa, mas até hoje não houve o seu cercamento total, que possa ajudar a impedir a invasão das terras.
Ele diz que a sua pesquisa foi o primeiro trabalho investigativo no Parque da Mata da Pipa, onde até agora não foi feito o plano de manejo por parte do Idema, que pode começar usando o seu material.
De acordo com dados de 2001 do Ibama, segundo Souza, da faixa litorânea de 3.360 km² de Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, que ia de Touros à divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, o que resta agora é uma área de 840 km² ou apenas 25% de sua área original. “Hoje esse índice deve ser menor pela falta de fiscalização”, disse ele.
A Mata da Pipa está a 85 quilômetros ao sul de Natal, no município de Tibau do Sul, e possui, atualmente, uma área de 290 hectares, e se situa às margens do núcleo urbano da Praia da Pipa. Segundo Souza, a Mata da Pipa foi elevada à categoria de parque estadual e, por isso, só é permitida a sua exploração para o turismo sustentável ou para pesquisa científica, depois de desmembrada de uma parcela da Área de Proteção Ambiental (APA) de Bonfim/Guaraíras.
Ele disse que a Mata Atlântica tem um histórico de devastação por parte dos nativos em busca da “guabiraba”, uma madeira usada na fabricação de móveis e artesanato.
Fonte: Tribuna do Norte