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SOBREVIVÊNCIA

Biodiversidade e serviços ecossistêmicos: a importância da preservação ambiental

Desmatamento ameaça espécies da fauna e da flora com a destruição de habitats e afeta diretamente a qualidade de vida humana

3 de junho de 2022
Camila Valverde | Daniel Carvalho
4 min. de leitura
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Foto: Pexels

Enfrentamos uma emergência climática com impactos irreversíveis para as pessoas e todos os sistemas naturais que nos sustentam. As temperaturas médias globais já aumentaram em 1,1°C e devem subir mais de 3°C até 2100 de acordo com os dados atuais (IPCC), com consequências catastróficas para a biodiversidade. Nesse cenário, as empresas têm um papel crítico a desempenhar na transição para um futuro sustentável e seguro para todos.

Durante a última Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, ocorrida em novembro de 2021 na cidade de Glasgow, no Reino Unido, mais de 100 países assinaram um acordo para acabar com o desmatamento até 2030, financiando as ações com recursos públicos e privados. O Brasil foi um deles e se comprometeu, também, a eliminar o desmatamento ilegal até 2028. Esses compromissos visam limitar o aquecimento global e garantir a manutenção de serviços ecossistêmicos, a conservação das florestas nativas e da biodiversidade global.

Apesar do acordo ter sido recebido com bastante entusiasmo internacionalmente, as assinaturas de alguns países (incluindo o nosso) foram vistas com olhares céticos. Carlos Nobre e Thomas Lovejoy já alertaram para a possibilidade de chegarmos ao ponto de inflexão no bioma amazônico, isto é, um ponto em que seria impossível revertermos os danos causados para voltarmos ao seu estágio de conservação atual.

A atenção internacional se volta aos biomas brasileiros porque nosso país concentra um importante patrimônio genético e possui imenso potencial bioeconômico: estima-se que 20% de toda biodiversidade global está aqui, uma riqueza que pode ser utilizada na produção de vacinas, medicamentos, biocombustíveis, entre outros. Ocupando mais da metade da América do Sul, o Brasil é lar de mais de 116.000 espécies animais e 46.000 vegetais, sendo muitas delas endêmicas, ou seja, presentes apenas em território brasileiro.

As florestas e demais ecossistemas conservados e a biodiversidade inerentemente atrelada a eles são responsáveis por prover diferentes tipos de serviços ecossistêmicos aos seres humanos. Por definição, esses serviços são os benefícios que obtemos a partir da natureza, dependendo direta ou indiretamente de ecossistemas, e podem ser subdivididos em 4 tipos: provisão (ao exemplo da extração de fibras e alimentos da natureza), regulação (manutenção da qualidade do ar, regularização climática, entre outros), cultural (relação da sociedade com o meio natural) e de suporte (produção de oxigênio e formação de solo, por exemplo).

Estamos vivenciando a destruição de muitos dos biomas brasileiros, motivada, sobretudo, pela expansão agrícola e da mineração. Segundo o último relatório publicado pelo Projeto MapBiomas, o desmatamento cresceu 13,6% em 2020, chegando a 13.853 km², o equivalente a mais da metade do estado de Sergipe. Os biomas Amazônia e Cerrado foram os mais desmatados no período, respondendo por cerca de 92% do total, mas os demais também sofrem, como Caatinga e Pantanal com as queimadas e o Pampa com o avanço da soja e do arroz. Outro dado alarmante é que 98,9% da área total desmatada apresenta indícios de ilegalidade.

Além de contribuir para o efeito estufa, o desmatamento ameaça espécies da fauna e da flora com a destruição de habitats e afeta diretamente o meio de vida dos seres humanos, comprometendo a disponibilidade hídrica e agravando a erosão e a perda de solos férteis. Desmatamento e queimadas ainda afetam o clima local, reduzindo a umidade nas áreas atingidas e podendo afetar o fluxo das chuvas no território.

À extensa lista de impactos ambientais, devemos somar os prováveis danos econômicos. Pensando nas operações de crédito, um artigo publicado pelo Banco Mundial identificou que 46% dos empréstimos (uma soma de R$ 811 bilhões) estão alocados a companhias que possuem dependência alta ou muito alta de serviços ecossistêmicos. Segundo a publicação, os setores mais expostos a riscos relacionados à ruptura desses serviços são os de geração elétrica, alimentos e bebidas, construção e agropecuária.

Há muito tempo entende-se o papel da conservação dos ecossistemas, mas as discussões geralmente se limitavam à academia ou entre ativistas e ambientalistas. Felizmente, as empresas e o setor financeiro vêm se tornado mais conscientes ao longo dos anos, porém ainda há muito espaço para ação.

O Pacto Global da ONU Brasil apresenta duas iniciativas para discussão e promoção de ações no setor privado. A primeira é o Movimento Ambição Net Zero, que visa desafiar e apoiar empresas integrantes do Pacto Global da ONU a estabelecerem metas robustas e com base na ciência para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A segunda iniciativa, o Entre Solos – Semeando Conexões, é um canal de diálogo e informação de credibilidade sobre sustentabilidade no setor de alimentos e agricultura, que visa promover a aproximação entre a produção no campo e as demandas da sociedade.

Se faz urgente agregar estratégias climáticas e de conservação e restauração de habitats como forma de remover e estocar carbono da atmosfera e manter a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos tão necessários às atividades humanas e empresariais. Essa é uma responsabilidade de todos: governos, empresas, academia, instituições do terceiro setor e cidadãos, para que possamos mitigar os riscos para uma das maiores biodiversidade do mundo.

Fonte: Valor Globo

Sobre os autores:

Camila Valverde é diretora de Impacto do Pacto Global da ONU Brasil;

Daniel Carvalho é especialista de Consultoria ESG e Mudança Climática na Resultante.

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