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Bicampeão olímpico de hipismo é acusado de agredir cavalo durante treinamento

15 de fevereiro de 2022
4 min. de leitura
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Mark Todd bate em cavalo com galho (Foto: Reprodução)

O ex-cavaleiro neozelandês Mark Todd está sendo acusado de agredir um cavalo na Grã-Bretanha. O ex-atleta, que já foi bicampeão olímpico do hipismo CCE, aparece em imagens divulgadas nas redes sociais nesse fim de semana, batendo no animal com um galho durante um treinamento de cross-country para forçá-lo a passar por um obstáculo. Por isso, a Autoridade Britânica de Cavalos de Corrida (BHA) está apurando o caso.

“Todd ficou muito aquém dos padrões de cuidados que esperamos de indivíduos licenciados”, afirmou a BHA.

Cavalos explorados em provas de hipismo são submetidos a condições que superam os seus limites físicos. Muitos deles são obrigados a competir desde os dois anos de idade, quando os sistemas ósseo e muscular do animal ainda não está completamente formados. Lesões, fraturas e dores, que logo se tornam crônicas, são comuns.

Pressionados por seus adestradores e pelas altas quantias de dinheiro envolvidas, esses animais são obrigados a participar de treinamentos longos e exaustivos que têm como única função prepará-los para torneios, para que todo o investimento financeiro gere lucro. Cavalos e éguas que participam de provas de equitação não são atletas, são escravos.

Estudos apontam que o esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traqueia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício), além de claudicação, dor intensa nas patas causadas por baixo fluxo sanguíneo que também pode estar associada a doenças cardíacas. Quando sofrem fraturas, o ossos podem se partir em vários fragmentos.

O sacrifício de cavalos feridos é sempre a primeira opção, mesmo quando há sugestões de tratamento. Um cavalo ferido, mesmo recuperado, não poderá mais participar de corridas e gerar lucro aos seus algozes, então os gastos veterinários são minimizados e dispensados. Quando não são mortos a tiros, são encaminhados para matadouros.

A prova disso foi uma investigação recente feita pela BBC que descortinou os bastidores do destino de cavalos explorados em corridas. Cavalos que ajudaram jóqueis a ganhar troféus e muito dinheiro no passado, são enviados para frigoríficos para serem mortos para a fabricação de ração ou para consumo humano.

O hipismo não é diferente de nenhuma outra indústria que abusa, maltrata e explora animais. O glamour das competições de equitação é apenas uma alienação elitizada que não encontra mais espaço na sociedade contemporânea e precisa ser descontruído, combatido e proibido. Infelizmente, provas disso não faltam.

Em 2011, o cavalo Hickstead, de 15 anos, desmaiou durante a Copa Mundial de Saltos a Obstáculos de Verona, na Itália, e teve diversas convulsões diante do público. Ele não sobreviveu e a causa da morte foi divulgada como aneurisma. Em 2012, um cavalo morreu em Tarragona, na Espanha, após ser obrigado a saltar sob obstáculos até a exaustão.

Nas Olímpiadas de 2014, um cavalo sofreu um infarto fulminante no início da prova de equitação. Ocasionalmente, jóqueis também são as vítimas da prática. Nas provas de classificação para as olímpiadas de 2016, a jóquei Caitlyn Fischer, de 19 anos, morreu após o cavalo que montava errar um dos obstáculos.

Qualquer prática que se considere esportiva precisa estar relacionada com o desenvolvimento, a superação e a evolução do ser humano. Nenhuma atividade que cause dor, sofrimento e escravize seres indefesos deve ser classificada como esporte pela sociedade. Que a morte do cavalinho Jet se torne um símbolo e estimule a proibição do hipismo.

Sobre o ex-cavaleiro

Todd foi campeão olímpico da prova individual do CCE (conjunto completo de equitação) nos Jogos de Los Angeles 1984 e Seul 1988. Ele ainda conquistou três bronzes olímpicos, um na disputa individual e dois por equipes. O neozelandês se aposentou em 2019 e virou treinador de cavalos de corrida. Todd, que tem título de Sir por suas conquistas equestres, pediu desculpas.

“Peço sinceras desculpas ao cavalo e a todos os envolvidos por minhas ações neste vídeo. Uma das principais coisas que prego é estabelecer um respeito mútuo entre cavalo e cavaleiro, e que paciência e gentileza são a melhor maneira de obter resultados. Acredito que este é um dos principais atributos, juntamente com uma grande empatia com os animais, que me permitiu ter uma longa e bem-sucedida carreira no hipismo. Estou muito decepcionado comigo mesmo por não ter aderido a isso neste caso – disse o neozelandês”, escreveu.

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