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Aves silvestres são vendidas livremente nas feiras de Pernambuco

12 de março de 2010
4 min. de leitura
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O comércio de aves é praticado livremente nas feiras de Pernambuco, denunciando a falta de fiscalização. O roteiro, apontado pelo próprio Ibama, mostra que grande parte dos animais vem de Caruaru, no Agreste, para alimentar os pontos de venda no Recife, Rio de Janeiro e exterior.

Na capital pernambucana, moradores indicam com facilidade locais tradicionais de venda. Na quinta-feira (11) pela manhã, no Mercado da Madalena, um comerciante estava com um papagaio para vender. De forma discreta, ele contou que já foi condenado cinco vezes por venda, pagou penas alternativas e continuou a frequentar as feiras para achar compradores.

É o retrato de uma cultura de “posse” atrasada. Um ciclo que vai do vendedor primário ao traficante e tem no criador o elo mais visível. E também expõe as falhas na fiscalização do Ibama que sabe, muito mais do que um simples cidadão, onde encontrar esses intemediários.

O comércio de animais movimenta, a cada ano, aproximadamente R$ 2,5 bilhões e retira cerca de 38 milhões de animais da natureza em todo o Brasil de acordo com relatório da Renctas (ONG de combate ao tráfico de animais). No Grande Recife, pesquisadores da ONG Observadores de Aves de Pernambuco (OAP), criada em 1986, já fizeram uma pesquisa em 10 feiras livres e constataram que 20,8% das espécies registradas no Estado eram comercializadas com preços variando de R$ 1 a R$ 100. “O comércio continua. Todo mundo sabe onde pode conseguir. Os vendedores só passaram a se esconder por causa da imprensa”, disse o integrante da ONG Manoel Toscano.


Mercado da Madalena (Foto: Júlio Jacobina/ Diário de Pernambuco)


Em uma das visitas às feiras livres, o pesquisador contou que se fez passar por um interessado em vender aves e perguntou como deveria fazer. “Disse que estava sem dinheiro e tinha como capturar aves no interior, mas tinha medo. O vendedor me disse que era tranquilo, que não tinha mais fiscalização”, afirmou Toscano. Ele informou que alguns dos locais mais ativos são o Mercado da Madalena, a feira do Cordeiro e de Cavaleiro. “Todas acontecem nos fins de semana. Mas é de madrugada, a partir das 4h30. Quando o Ibama chega já passa das 9h, 10h. Já não tem mais nada”, disse, acrescentando a falha que existe nas estradas, permitindo que caminhões carregados com aves cruzem as fronteiras.

Durante a semana, Toscano ressaltou que o comércio de espécies silvestres costuma funcionar sob encomenda. Já nos fins de semana, os vendedores são mais ousados.

Outros locais de comercialização são as feiras do Engenho do Meio, de Casa Amarela, Peixinhos, Beberibe, Prazeres, Paratibe e Abreu e Lima. Ele cita como mais crítico o fato do comércio envolver espécies ameaçadas de extinção e exclusivas da região, como jandaia-gangarra, cancão e pintor-verdadeiro.

Segundo o chefe da fiscalização do Ibama, Leslie Tavares, 10 operações foram realizadas na feira de Caruaru, totalizando a captura de 5 mil aves. “O foco de nossa atuação é na feira de Caruaru, que é uma das três maiores do país. Lá atuamos na casa dos traficantes”, disse, informando que 30 pessoas foram presas.

Ele considera que a equipe de 35 agentes no Estado é suficiente para atender a demanda desde que as operações contem com o apoio dos Estados e municípios. “Isso está previsto pelo Sistema Nacional de Meio Ambiente e estamos tentando fortalecê-lo. Mas claro que uma equipe maior é sempre bom”, afirmou. Ele acrescentou que uma campanha educativa direcionada à sociedade está sendo desenvolvida pelo instituto em Brasília.

O movimento do tráfico

– 38 milhões de animais silvestres são retirados da natureza para alimentar o comércio por ano
– A quantidade corresponde à media diária de 104 mil bichos, o equivalente a 18 ou 19 animais retirados do habitat natural, por dia, em cada município brasileiro
– A maior parte dos animais comercializados é proveniente do Nordeste, Norte e Centro Oeste, sendo escoado para o Sul e Sudeste
– Rio de Janeiro e São Paulo são os principais pontos de destino dos animais, onde são vendidos em feiras livres ou exportados
– O destino internacional é a Europa, Ásia e América do Norte
– As cidades que se destacam pelo comércio são Milagres, Feira de Santana, Vitória da Conquista e Cipó (Bahia), Belém (PA), Recife (PE) e Santarém (PA)

Fonte: Diário de Pernambuco

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