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TECNOLOGIA

Ativismo verde com cérebro digital: especialistas recorrem a IA para identificar baleias e combater destruição de habitats

22 de abril de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação / Instituto Baleia Jubarte

Fiscalizar e combater o desmatamento em uma região extensa e complexa como a Amazônia demanda planejamento e ações em diversas frentes. Diante de uma infinidade de informações e dados descentralizados, a inteligência artificial pode ser parceira na produção de mapas, identificação de áreas vulneráveis e rastreio de garimpos e madeireiras ilegais, por exemplo. Trata-se de uma tecnologia que consome muita energia e fomenta a exploração mineral, mas especialistas dizem que traz mais benefícios do que prejuízos.

Desenvolvido ano passado pelo Imazon, instituição que monitora a degradação da Floresta Amazônica, o PrevisIA é capaz de apontar as áreas de baixo a alto risco de desmatamento, por meio de um algoritmo que analisa variáveis como a presença de estradas legais e ilegais, o desmatamento já ocorrido, classes de territórios, distância para áreas protegidas, rios, topografia, infraestrutura urbana e informações socioeconômicas.

Assim, a ferramenta, que promete 70% de assertividade, detectou cinco mil quilômetros quadrados sob risco médio, alto ou muito alto de devastação na Amazônia este ano. Das florestas ameaçadas, 38% ficam no Pará. Na região, só Amapá e Tocantins não têm áreas do bioma classificadas com risco alto ou muito alto pelo PrevisIA.

Grandes empresas, como Microsoft, Google e Amazon, estão investindo cada vez mais em IA. Ano passado, o Google, em parceria com o The Nature Conservancy Brasil, a USP, o Imaflora e a Trase, lançou a ferramenta Digitais da Floresta, que visa rastrear a origem da madeira amazônica comercializada.

Análises de amostra verificam a “impressão digital” da madeira, que vem das informações dos isótopos estáveis — composição química da água no solo presente em uma amostra. Assim, o Digitais da Floresta é capaz de estimar onde estava uma árvore antes de ser cortada. Então, a informação é cruzada com documentos oficiais, o que permitirá identificar evidências de extração em unidade de conservação.

Já o Mapbiomas utiliza as chamadas redes neurais, modelos de inteligência artificial que processam informações interconectadas, para os seus mapeamentos de mineração, garimpo e aquicultura. Os mapas dessas classes são gerados com IA, e os dados subsidiam as séries históricas que contam a transformação de cada pedaço de terra de 30 metros quadrados no Brasil, em períodos de 40 anos.

”Você pode aplicar IA para análise de dados de biodiversidade, de qualidade de água, do solo etc. A gente aplica muito na geração de mapas, para identificação de desmatamento, padrões e projeções”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas.

Apesar da preocupação com, principalmente, o alto consumo de energia para desenvolvimento dessas tecnologias, além da demanda de exploração mineral para fabricar chips e equipamentos, Azevedo acredita que o saldo é positivo.

“Esse é um problema que no curto ou médio prazo pode ser resolvido. A confecção de chip usa muito pouco mineral, na verdade. Então, a grande questão seria o consumo de energia. Mas a inteligência artificial vai trazer muito mais benefícios do que impacto ambiental negativo”, explica Azevedo, que lembra que muitas das big techs têm compromisso de reduzir emissões nos próximos anos.

Que baleia é essa?

A IA também já ajuda no monitoramento da fauna. Oportunidade rara, avistar baleias não garante a identificação do animal. Mas, se for possível fotografar apenas a cauda, já é o suficiente para descobrir “quem” é aquela baleia, graças à ferramenta “Happywhale”.

A plataforma tem mais de 90 mil baleias identificadas e monitoradas. Pelo programa, a pessoa carrega uma foto e recebe a resposta da probabilidade de “match” com uma baleia do banco de dados, com detalhes de localização. Assim, características e crescimento das populações de baleias são monitorados pelo mundo.

“O trabalho que fazíamos em meses é feito em poucos minutos”, diz Milton Marcondes, coordenador de Pesquisa do projeto Baleia Jubarte, que já identificou quase oito mil baleias individualmente.

Fonte: O Globo

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