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Após ser explorado por décadas, chimpanzé ainda tem futuro incerto

30 de janeiro de 2010
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Tranquilo e festeiro, o chimpanzé Jimmy está no centro de uma polêmica que circula no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Após 13 anos sob tutela da Fundação Jardim Zoológico de Niterói (Zoo- Nit), a ONG GAP – Projeto de Proteção aos Grandes Primatas (Great Ape Project, em inglês), luta para que Jimmy deixe a jaula de 110 metros quadrados do zoo e passe a viver livremente em um santuário ecológico na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, junto com outros 50 primatas. E em um recinto de, pelo menos, mil metros quadrados.

A Justiça, no entanto, ainda não formou uma opinião sobre o melhor futuro para Jimmy. Em 14 dezembro do ano passado, advogados da GAP – com o respaldo de 29 apoiadores (entre ONGs, primatologistas, advogados e pessoas comuns que acham que o macaco tem que ser livre) – pediram um habeas corpus para tirar o animal de trás das grades. Cinco dias depois, no entanto, o juiz Carlos Eduardo Freire Roboredo, da 5ª Vara Criminal de Niterói, indeferiu o pedido. Ou seja, Jimmy permanece enjaulado.

Troca de acusações

Os defensores dos primatas recorreram. Aguardam o julgamento na segunda instância e garantem: se não conseguirem libertar Jimmy, vão recorrer ao Superior Tribunal Federal (STF).

Para Giselda D’Amélia Cândido, diretora-presidente do Zoológico de Niterói, será tudo perda de tempo: “O Jimmy não vai sair daqui. A ONG nos acusa de maltratar o animal. Basta ver o Jimmy para perceber que isso não acontece. Somos uma instituição do poder público, ou seja, temos recursos permanentes e fiscalização constante do Ibama. Eles são da iniciativa privada, como saberemos que tipo de tratamento vão dar ao animal?”, questiona. “Além disso, desconfio de que o interesse do GAP no Jimmy seja financeiro. Um chimpanzé custa caro mundo afora. Estamos cheios de macacos-pregos aqui, por que não os levam? Só querem o Jimmy.”

A GAP rebate. E com o mesmo argumento: “A única razão para manter o Jimmy no zoológico é financeira, ele atrai visitantes. Se tivessem amor pelo animal, deixariam-no viver livre. Tenho 50 chimpanzés no meu santuário, todos livres, espalhados em 150 mil metros quadrados. Não dependo nem aceito verba pública. Financio tudo com recursos próprios, do meu bolso”, conta o microbiologista e empresário Pedro Ynterian, presidente do projeto GAP Internacional.

Enquanto a batalha judicial segue seus trâmites, o superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Adilson Gil, afirma que não há nada de errado nas instalações do Zoo-Nit. Ele, no entanto, garantiu que novas vistorias serão feitas no local. Procurado, o prefeito Jorge Roberto Silveira não se manifestou sobre a disputa.

Animal também foi explorado por TV e por circo

Jimmy já foi uma das principais atrações do falido Circo Itália, de Belo Horizonte (MG). Quando criança, foi “macaco propaganda”, e chegou a beijar a apresentadora Angélica em um comercial de refrigerantes. Atraiu multidões no picadeiro até o fim das apresentações. Depois, amargou 10 anos dentro de uma minúscula jaula, até ser doado para o Zoológico de Niterói.

De acordo com a diretora-presidente do Zoo-Nit, Giselda Cândido, cerca de R$ 500 são gastos mensalmente para garantir a melhor alimentação para Jimmy, que tem 26 anos e faz duas refeições diárias.

“De manhã, ele come frutas, tomates e verduras. Adora tomate. Depois, bebe uma vitamina de leite, farinha láctea, flocos de cereais, aveia e açúcar cristal, tudo na mamadeira. Se esse pessoal da ONG me processar por maus-tratos, entro com uma ação por calúnia e difamação”, dispara.

O presidente do GAP internacional, Pedro Yenterian, afirma que não há vínculos entre Jimmy e os tratadores do Zoo-Nit, e assegura que o melhor para o animal é ser criado livremente, longe de jaulas: “Jimmy não vai sentir saudades dos tratadores. O que há entre eles não é amizade, é dependência. Na cabeça do animal, se ele não agradar o tratador, não ganha a comida”, garante Pedro, um cubano de 70 anos, há 25 no Brasil.

Especialista defende liberdade para o chimpanzé

O único ponto de comum acordo entre os dois lados em disputa é o fato de chimpanzés serem animais sociais, porém, cada um tem uma maneira diferente de lidar com essa questão. A diretora do Zoo-Nit espera receber a doação de uma fêmea de um circo de São Paulo: “De qualquer forma, é um procedimento lento. Inicialmente, eles ficam em jaulas separadas, e só depois de um ano se conhecendo e com o aval de especialistas, eles iriam conviver na mesma jaula, senão, poderia ocorrer de um matar o outro”, explica.

Na opinião dos membros da ONG, isso iria apenas aumentar o número de animais enjaulados:  “Nós entendemos que qualquer animal tem direito à liberdade e à integridade física. O argumento de que ele não se adaptaria é furado. Temos diversos especialistas que ajudariam no tratamento e adaptação dele”, retruca um dos advogados da ONG, André Lourenço.

Para a pesquisadora e especialista em primatologia, Zelinda Braga Hirano, a melhor opção para um chimpanzé é viver em liberdade com os seus iguais: “O Jimmmy é um animal social, e seres sociais não podem estar bem sozinhos. Não conheço o tratamento que ele recebe no zoológico, mas é preciso dar uma chance a ele de conhecer outros animais. Acredito que o melhor para primatas seja realmente viver em lugares aberto, logicamente depois de um trabalho de adaptação, com seres da mesma espécie”, conclui a pesquisadora.

Com informações de: JB Online

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