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NOVA VIDA

Animais resgatados no Rio Grande do Sul encontram abrigo em outros estados

26 de maio de 2024
5 min. de leitura
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Cristina de Moura Carvalho e sua filha Mariana com o gato Fred, resgatado no Rio Grande do Sul — Foto: Leo Martins/Agencia O Globo

A vontade de extrapolar a ajuda material foi o que motivou a anestesista Alyne Neves Cintra, de 38 anos, a receber em sua casa, em Brasília, a cachorrinha Matilda, de apenas 1 mês. Ela, que junto com o marido já tinha feito doações para instituições e amigos que moram em Porto Alegre, conta que se comoveu com as imagens de resgate dos animais.

— Queria primeiro ajudar ONGs de animais, e cheguei na Ana Flávia Vasconcelos, que estava atuando nos resgates. Foi através dela que soube da opção de dar um lar para esses bichinhos que estavam nos abrigos e que decidi adotar — explica ela, que fez um cadastro formalizando a intenção antes de o animal ser levado de avião.

A cachorrinha, que ganhou o nome de Matilda, não tinha tutores e estava na rua junto com a mãe e outros filhotes, quando foi resgatada por um idoso. Ele, mesmo com a casa alagada, abrigou os animais até o resgate chegar.

A corretora de imóveis do Rio de Janeiro Cristina de Moura Carvalho, de 66 anos, não pensava em ter animais em casa até ver a foto de um dos gatos resgatados na cidade de São Leopoldo, enviada por uma amiga que estava atuando como voluntária em um dos abrigos na cidade.

— Na hora em que olhei a imagem, senti que seria meu, não sei explicar. Ele chegou tem uma semana e já deu para perceber que é muito carinhoso, me acompanha o dia todo pela casa, dorme comigo. Estava assutado e bem sujo quando o recebi — conta ela, que batizou o novo companheiro com o nome de Fred. — Depois de toda a tristeza causada pelas chuvas, olhar para ele agora me traz esperança de recomeço.

Entre os aviões que saíram de Porto Alegre transportando animais estava o da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que levou mais de cem cachorros e gatos resgatados para Sorocaba (SP).

Transporte de carro

Já o ambientalista Bernardo Egras, que viajou do Rio para o Rio Grande do Sul para atuar como voluntário nos resgates, fez o transporte dos animais de carro, em mais de 18 horas de viagem. Ele voltou para casa com três gatos e seis cachorros, alguns deles que ajudou a salvar. Até o momento, sete já foram recebidos em novos lares.

— Os abrigos estão lotados e não param de chegar mais animais. Qualquer lar que puder recebê-los agora, vai aliviar os espaços. Tentei trazer o máximo que cabia no carro. Todas as adoções foram feitas de forma responsável, com a ressalva de que se o tutor aparecer, os animais serão devolvidos — garante.

O surfista Pedro Scooby, que também foi voluntário nos resgates na cidade de Eldorado do Sul, voltou para casa, no Rio, com um novo integrante da família. Ele adotou um dos cachorros que retirou da enchente usando uma moto aquática e deu a ele o nome de Eldorado, em homenagem ao local onde atuou.

— Quando resgatei o Eldorado, deu para ver a gratidão dele por mim. Na verdade, não fui eu que adotei ele, mas ele que me adotou. Enquanto o tutor dele não aparece, estamos dando o carinho e a atenção que ele precisa e merece — conta o surfista.

O envio de animais resgatados a outros estados chegou a ser criticado nas redes sociais por moradores do Rio Grande do Sul, que relataram dificuldade para reencontrar seus animais domésticos. A busca por novos lares, no entanto, tem sido incentivada pelos responsáveis pelos abrigos gaúchos, já que muitos deles estão superlotados e impossibilitados de receber novos animais.

— Tivemos 70% da cidade alagada, muitos animais foram regatados com tutores, mas outros moravam na rua. Muitos desses animais vão precisar de novos lares. Já sabemos que não conseguiremos adoção para todos. Se os deixarmos em Canoas, vamos condená-los a viver em abrigos para o resto da vida — avalia a secretária municipal de Bem-Estar Animal de Canoas, Fabiane Tomazi Borba.

A segurança Andréa da Silva Lopes, de 47 anos, foi uma das pessoas que, ao procurar sua cadela em abrigos de Canoas, foi surpreendida com a notícia de que ela tinha sido enviada para São Paulo. A poodle Pretinha foi resgatada de barco juto com a tutora após a residência ficar tomada pela água, mas ao chegar no ponto de resgate, as duas foram separadas, e Andréa passou 12 dias sem notícias da cachorrinha, que é seu xodó.

— Quando soube que ela estava a caminho de São Paulo, foi um susto. Fiquei com medo de não conseguir mais reencontrá-la. Mas assim que avisei que ela era mina, a ONG que iria abrigá-la se prontificou em me devolver e já no dia seguinte estávamos juntas. Percebi que todos os voluntários cuidaram dela com muito carinho no período que ficamos separadas — ressaltou.

Consulta ao veterinário

A decisão de receber um animal resgatado no Rio Grande do Sul pode vir acompanhada de desafios, como aconteceu com a consultora de moda Fabíola Cabral, de 42 anos. O cachorro que adotou, após ter sido resgatado no telhado de um imóvel complemente alagado, ficou no topo de sua casinha durante o período que esteve no abrigo de Canoas. No trajeto até o Rio, ele também se posicionou em cima das bagagens, por só se sentir confortável em lugares altos.

— Ele está triste, é nítido o trauma. Passa o tempo todo deitado e não quer ficar sozinho. Está com acompanhamento veterinário 24 horas e tenho feito de tudo para que supere o que passou. Dei para ele o nome de Kibu, que significa renascer e esperança, e espero que em breve ele se recupere — conta ela.

O veterinário Mateus Lange, coordenador da equipe do Conselho Federal de Medicina Veterinária que está atuando na tragédia, enfatiza que os novos tutores dos animais devem levá-los para consultas assim que os receberem, já que muitos podem ter contraído doenças e zoonoses em decorrência das chuvas:

— A adoção de animais deve ser feita com responsabilidade, mas no caso dos que estão sendo resgatados no Sul precisa ser ainda maior. Eles podem ter problemas de doenças e traumas ocasionados pela tragédia e vão demandar muito cuidado e carinho.

 

Fonte: O Globo

 

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