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Agressividade aparente de cães pode ser apenas medo

28 de maio de 2010
4 min. de leitura
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(Foto: Stock Photos, Divulgação)

Um barulho alto, uma visita estranha, um passeio na rua. Para eles, qualquer coisa é motivo de escândalo. Cachorros que vivem com medo de tudo sofrem uma grande dificuldade de socialização e vivem sob constante estresse — o que pode prejudicar sua qualidade de vida. Para evitar constrangimentos, mordidas e até problemas de saúde, cabe aos tutores buscar um profissional para descobrir a raiz do trauma e corrigi-lo.

Quando Natália Cardoso, 23 anos, decidiu adotar um bichinho, optou por acolher um animal que realmente precisasse. A escolhida foi Sookie, uma vira-lata que, apesar da pouca idade, já havia vivido uma história nada agradável — foi vítima de maus-tratos. As mudanças de personalidade começaram a incomodar aos seis meses de idade, quando ela foi levada a uma consulta de rotina. Apavorada com a presença de outros animais, tornou-se agressiva e dificultou o andamento dos exames.

“Ela já tinha medo. Quando via outros cachorros na rua, já puxava a coleira. Mas, como não tenho outros cachorros, eu não ligava”, conta Natália.

Embora Sookie nunca tivesse chegado a fazer mais do que ameaçar, a veterinária sabia que o medo da mascote não era saudável, e que algo teria de ser feito. A solução encontrada foi levá-la para um treinamento no qual ela estivesse sempre em contato com outros cães. Em um mês, a tutora já nota diferenças no comportamento da vira-lata, agora mais calma e sociável.

“Agora, a Sookie só tem medo de água, acho que é porque ela caiu em uma piscina quando era filhote”, atesta Natália.

Cachorros como Sookie são dóceis e amáveis com o tutor, mas se transformam completamente quando encaram seus medos.

“Quando o tutor diz que o cão é bravo, costumo verificar a veracidade da informação. Os tutores confundem muito a personalidade violenta com o medo”, alerta o veterinário Fábio Gracia. Segundo o médico, são raros os casos de desvios de comportamento que causam a agressividade gratuita: quase sempre o cão tem algum motivo para ficar irritadiço.

“Se o tutor começa a ter medo do cachorro, ele só vai reforçar esse comportamento. Daí o tutor acaba se livrando do animal”, critica.

Uma simples visita ao veterinário pode se tornar uma dor de cabeça quando o cachorro reage às suas fobias: o ambiente com pessoas estranhas, outros animais e objetos desconhecidos é um prato cheio para uma cena. O veterinário precisa então lançar mão de métodos como a contenção física ou mesmo a sedação.

Mas o drama na hora dos passeios e da consulta não é o pior dos problemas. O animal que vive sob condição de estresse pode desenvolver distúrbios como a lambedura acral (compulsão por mordiscar as extremidades do próprio corpo), queda de pelo e gastrite.

Para evitar o pior, o ideal é levar o animal para uma consulta com um adestrador, que irá descobrir qual fobia causa tanto sofrimento: a presença de estranhos, barulhos altos, certos objetos ou todas elas combinadas. Essas aversões podem ter origem genética ou ser adquiridas na fase inicial da vida. Mas apenas o medo aprendido pode ser eliminado por meio do adestramento — o animal que já nasce com o transtorno pode apenas tê-lo minimizado.

“Sabemos a diferença por meio de testes, pois nem sempre um cão medroso, que teve uma mãe medrosa, por exemplo, nasceu assim. Ele pode aprender isso com ela”, esclarece o adestrador Pablo Weblan.

Até os 60 dias, os cães são profundamente afetados por influência materna, do meio em que vivem ou do tratamento que recebem. Para evitar o transtorno, o ideal é manter o filhote em um ambiente seguro, livre de barulhos e agressões. Mas, quando eles completam dois meses, a rotina se inverte: o cãozinho precisa passear, fazer exercícios e conhecer novos cachorros e pessoas.

Cachorros criados longe de qualquer estímulo costumam interpretar mudança de cenário como uma ameaça. Se, por exemplo, ao receber uma visita, o tutor se apressa em recolher o cachorro nervoso e em acalmá-lo, o bicho entenderá que houve um motivo real para o comportamento agressivo. O ideal é não privar o mascote de seus medos nem protegê-lo. O tutor pode expor o cachorro ao que o incomoda, mas permanecendo sempre ao seu lado.

“O medo é natural, mas se o tutor poupa o cachorro por querer proteger um animal inseguro, ele fica submisso. Tem até cachorro que usa essa chantagem emocional para conquistar o tutor e controlar a casa”, alerta Pablo.

 Fonte: Click RBS

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