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CRIME AMBIENTAL

Clube oferece recompensa para quem caçar tubarão em Ubatuba (SP)

29 de novembro de 2021
Vanessa Santos | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

A ONG Ampara Silvestre realizou uma denúncia, através das redes sociais, contra o Tamoios Iate Clube, por oferecer recompensa a quem caçar e capturar tubarões em Ubatuba, litoral norte paulista.

Depois de 30 anos sem registros, a cidade teve dois incidentes esse mês envolvendo tubarões e banhistas. A partir disso, o clube Tamoios teria enviado um e-mail para os sócios oferendo recompensa em dinheiro para quem caçasse e capturasse os animais que realizaram os ataques. O prêmio consistiria no pagamento de R$20 por centímetro do comprimento do peixe.

Uma das condições para o receber a recompensa, seria o porte do animal indicar que ele seria o responsável pelo que aconteceu na cidade. Além disso, o Iate Clube estabeleceu um prazo de 60 dias da captura, nos quais não deverão surgir novas ocorrências.

A reportagem do jornal Globo teve acesso a uma troca de e-mails que confirma a premiação. O clube respondeu alguns questionamentos sobre uma suposta captura de um tubarão que estaria dentro dos parâmetros estipulados na bonificação. Confira abaixo a resposta do Clube.

Foto: Reprodução | Globo

O Tamoios Iate Clube ainda não se pronunciou sobre as acusações até o momento.

Sobre a denúncia feita pela Ampara Silvestre, a prefeita de Ubatuba (SP), Flávia Pascoal (PL), publicou vídeos nas redes sociais negando que as ocorrências envolvendo os tubarões e disse não elas aconteceram. Porém, laudos realizados pelo Instituto Argonauta, ligado ao aquário da cidade, com apoio do pesquisador da Unesp Otto Bismarck Gadig, especialista em tubarões, evidencia que sim, havia presença de ‘um grande animal marinho’ nos episódios.

Na gravação da prefeita, Flávia diz ainda estar preocupada com os impactos dos casos no turismo. “Temos que colocar isso às claras para que isso não venha a prejudicar a vinda de turistas para Ubatuba. Ninguém viu”, fala em um trecho.

O Instituto Argonauta diz sustentar sua posição de que os incidentes envolveram tubarões. O oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta, diz que o resultado das análises dos dois episódios levou em consideração o formato dos ferimentos, a presença de marcas de dentes, além dos relatos das vítimas e testemunhas, e concluiu que eram compatíveis.

A primeira ocorrência aconteceu no dia 3 de novembro, com um turista francês na paria do Lamberto. De acordo com o relato da vítima, ele sentiu a mordida enquanto estava nadando e após ter avistado um cardume de peixes. O homem recebeu atendimento médico e retornou ao seu país de origem. Na mesma semana, o Instituto confirmou se tratar de uma mordida de tubarão. O último registro de um caso envolvendo esse animal aconteceu em 1.989.

No dia 14 de novembro, uma idosa se banhava na Praia Grande quando sentiu uma mordida na perna, sendo o segundo caso registrado. Para o pesquisador Gadig e sua equipe, a suspeita é que seja um tubarão-tigre ou um tubarão cabeça-chata.

A presença de animais marinhos de grande porte próximo da costa, evidencia um fenômeno novo que vêm acontecendo em diversas áreas litorâneas. Uma das hipóteses é que esses animais não estão encontrando alimento suficiente nos oceanos e vêm para as costas. No entanto, o Instituto Argonauta ressalta que é ainda cedo para afirmar o motivo por trás do aparecimento desses grandes peixes.

É importante destacar, que diversas espécies de tubarões vivem em na costa brasileira e muitas delas são proibidas de serem caçadas por correrem risco de extinção. Inclusive, o Brasil é um dos principais fomentadores em proibir o comércio internacional de algumas espécies, atuando através da CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção. Tubarões já estão entre as espécies mais ameaçadas dos oceanos, em especial pela sobre pesca e a pesca acidental.

A desinformação ameaça a nossa biodiversidade e o incentivo a pesca é uma prática totalmente desnecessária, que pode trazer efeitos devastadores para o equilíbrio dos mares paulista.

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