EnglishEspañolPortuguês

ALERTA

Banho pode causar estresse e morte de cães

26 de setembro de 2021
Ana Cristina | Redação ANDA
6 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Pixabay

O caso aconteceu em uma pet shop da Asa Norte da capital brasileira. Larissa Marques de Carvalho conta que deixou seu cão Floki, da raça spitz alemão, aos cuidados do estabelecimento para tomar banho.

Poucas horas depois, recebeu um telefone informando que havia tido um problema. Ao chegar no local, encontrou o animal já sem vida.

De acordo com informações do jornal Estadão, a tutora de Floki costumava pagar R $20 a mais do preço normal, devido ao fato do cãozinho ser mais agitado e dificultar o trabalho de banho e tosa.

O veterinário responsável pelo caso não soube informar o motivo do óbito, por isso Floki foi levado para realizar uma necropsia. O resultado ainda não foi divulgado.

Com a repercussão do caso, a preocupação dos internautas em deixar seus animais sozinhos aos cuidados de terceiros só aumentou. Será que o mais seguro seria acompanhar todo o processo de banho e tosa?

Para responder essa e outras dúvidas, Brigitte Lee, terapeuta comportamental de banho e tosa, participou de uma entrevista para o jornal:

Todo cachorro sofre para tomar banho?

De acordo com a terapeuta, o banho é bem estressante para os animais por não ser algo natural para eles. Alguns podem ser mais resilientes e outros menos, assim como podem ser traumatizados com alguma situação e outros não.

Sem adaptação prévia aos processos de banho e tosa, o cachorro pode ficar muito estressado. Principalmente com o primeiro jato de ar do secador, que é barulhento aos ouvidos apurados do animal e pode ser assustador.

Quando filhote, o risco de trauma é ainda maior, em seu primeiro banho ele já é colocado em todas as situações. E, na tentativa de escapar, pode ser segurado pelo profissional e impedido de qualquer movimento. Para Brigitte, talvez o cachorro se acostume com o tempo, mas pode ser que ele traumatize.

Qual a reação comum do cachorro no banho e tosa?

Mesmo para aqueles que preferem dar banho em seu cãozinho em casa, sabe que eles podem ficar bem agitados e aproveitar cada oportunidade que tiver para fugir. Quando estão em situações mais extremas, na qual ficam presos e sem chances de desvencilhar da situação, podem ficar mais agressivos.

Nessas tentativas de fuga, se eles forem contidos a ponto de frustrar a resposta, podem entrar em congelamento por excesso de medo. E, apesar de ser uma situação ideal para o profissional, já que o animal fica parado, há um extremo estresse e angústia.

Segundo a reportagem, não é pelo fato dele ficar parado que ele não está em sofrimento. Por isso, muitas vezes ele baba, respira de forma ofegante, tem batimento cardíaco elevado, aumento da temperatura, podendo levar ao desmaio. Em alguns casos, esses sintomas podem chegar ao óbito.

Acidentes na pet shop geralmente são causados pelo estresse

Conforme os resultados da tese defendida pela médica-veterinária Anna Carolina Barbosa Esteves Maria, a maior parte dos casos de óbitos em pet shop é devido ao estresse, principalmente se o animal tiver alguma doença congênita.

Em sua pesquisa, ela investigou sobre as principais alterações encontradas em necropsias de cães e gatos, que vieram a óbito em pet shops e processos similares. Nos resultados, encontrou que 72% dos que faleceram, não tiveram trauma (choque mecânico), “apenas” estresse.

Não há regulamentação para se tornar um profissional de banho e tosa, ou mesmo cursos obrigatórios para conhecer a fisiologia, anatomia ou comportamento animal. Por isso, muitos profissionais acreditam que são procedimentos simples.

Brigitte relembra uma situação semelhante: “Uma vez fui atender em domicílio uma maltês idosa. Durante o banho, ela começou a gritar. Chamei a tutora, que disse ser normal. Ao secar, a cachorra estava agitada e começou a ficar amolecida. A tutora continuou dizendo que era normal. A língua ficou para fora e a cachorra mole. Coloquei a cachorra no piso frio. Não sabia o que estava acontecendo. Enviei o vídeo para a veterinária, que pediu para levar para uma clínica. Eu não sabia o que fazer. Desde esse momento comecei a ficar com medo de atender sem veterinário por perto. E o tutor acha que tudo aquilo é normal”.

Ainda de acordo com a terapeuta, muitos acidentes acontecem não por maus tratos, mas porque o cachorro estava tentando fugir daquela situação. E, sem entender que o cachorro estava passando mal, o profissional continua o seu trabalho.

É necessário que haja empatia e conhecimento de quem está realizando o banho para garantir o bem-estar do animal.

A presença do tutor ajuda ou atrapalha o banho?

Para a terapeuta, os casos podem variar. Mas o cachorro tende a se sentir mais seguro perto do tutor.

Pets shop mais conscientes dessas situações, podem permitir a permanência durante os procedimentos, enquanto outros não. “As pet shops que permitem a presença do tutor, normalmente são locais mais conscientes do bem-estar do animal. Já que o tutor é o porto seguro do animal, pois fornece comida, abrigo, carinho. Se o tutor está perto, pode demorar mais para secar, leva mais tempo para fazer o serviço. Por isso alguns animais não deixam que o tutor fique perto”, conta Brigitte.

E ainda acrescenta que o ideal é estar junto, junto mesmo. Não apenas olhando pelo vidro. Se ele ficar só vendo pelo vidro, o cão vai ficar angustiado e o tutor não vai poder ajudar em nada. Quando está perto, o tutor pode ajudar a segurar, pegar no colo para secar.

Como garantir um tratamento ideal?

No mundo ideal, a terapeuta finaliza que é necessário começar com uma conscientização dos tutores em relação ao comportamento dos cães antes, durante e depois da tosa.

Segundo, é preciso que os tutores tenham uma maior proximidade com as pessoas que fazem um banho e tosa. Isso pode ser essencial para traçar as melhores estratégias para a hora do banho.

Por fim, contratar um terapeuta comportamental pode ser fundamental na maioria dos casos, para fazer o processo de habituação ou de dessensibilização e modificação comportamental.

É de extrema importância garantir o bem-estar do seu pet, é sua responsabilidade como tutor. Então que tal começar a olhar com mais cuidado para esses procedimentos?

Outras dicas

Brigitte aponta dois sinais para prestar a atenção no comportamento do cachorro depois do banho.

Ele fica muito eufórico quando o tutor chega para “salvar”?
Ao voltar para casa, ele se esconde? Fica agressivo? Para de comer? Fica apático?

É importante estar atento ao estado que o animal chega após a pet shop. Pode não haver maus-tratos mas, se o cachorro não fica bem após o banho, pode ser que ele se sinta forçado.

Você viu?

Ir para o topo