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TRAGÉDIA

Ativistas relembram caso de orca que cometeu suicídio batendo a cabeça contra parede em aquário

Hugo tinha todos os motivos para tirar a própria vida. Preso no parque aquático norte-americano, situado na Flórida, ele viveu por mais de 12 anos em condições capazes de enlouquecer qualquer mente sã

24 de setembro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Hugo morto (Imagem: The Orca Project)

Ativistas pelos direitos animais relembraram o caso da orca que cometeu suicídio no Miami Seaquarium, nos Estados Unidos, batendo a cabeça contra a parede do tanque onde vivia aprisionada. A trágica história voltou à tona após um vídeo de outra orca, chamada Kiska, ser divulgado há alguns dias. Nas imagens, Kiska aparece batendo a cabeça contra a parede repetidas vezes.

Aprisionada no MarineLand, em Ontário, no Canadá, Kiska passou pelo menos 30 segundos agredindo a si mesma em um ato de extremo estresse e sofrimento experimentado pelo animal após perder seus cinco filhotes. Na natureza, as orcas vivem em família e, portanto, o instinto social e familiar da espécie é bastante aguçado.

Considerada “a baleia mais solitária do mundo”, assim denominada pelo Santuário das Baleias, Kiska foi filmada por ativistas que se compadeceram com seu sofrimento. Ex-funcionário do parque onde a orca vive, o ativista anticativeiro Phil Demers divulgou as imagens nas redes sociais e fez um apelo.

“Este vídeo foi feito em 4 de setembro de 2021. Ativistas anticativeiro entraram na MarineLand e observaram Kiska, sua última orca sobrevivente, batendo a cabeça contra a parede. Por favor, assista e compartilhe. Essa crueldade deve acabar. #FreeKiska”, escreveu.

Hugo (Imagem: Reprodução)

O sofrimento de Kiska reviveu na memória dos ativistas a triste experiência vivida por Hugo. Temerosos de que a história se repetisse, eles decidiram alertar sobre esse risco ao comentar mais uma vez a morte da orca que, em 4 de março de 1980, morreu após bater a cabeça contra a parede diversas vezes. O caso foi interpretado pela causa animal como suicídio.

Isso porque Hugo tinha todos os motivos para tirar a própria vida. Preso no parque aquático norte-americano, situado na Flórida, ele viveu por mais de 12 anos em condições capazes de enlouquecer qualquer mente sã. Nascido na natureza, ele poderia estar vivo – já que animais da espécie vivem cerca de 80 anos no habitat -, desfrutando de uma vida feliz, mas acabou morrendo precocemente por estar em cativeiro. A causa da morte, segundo o Miami Seaquarium, foi aneurisma cerebral.

De acordo com o The Dolphin Project, acredita-se que Hugo tenha sido retirado da natureza com três anos de idade ao ser encontrado nas margens da Baía de Vaughan, Washington. Quando morreu, o animal tinha 15 anos.

Após ser capturado, Hugo passou longos anos em completa solidão – o que, por si só, é traumático para uma orca, já que a espécie vive em grupos. Depois de um tempo, outra orca, batizada de Lolita, foi retirada da natureza e colocada ao lado de Hugo. Com a captura de Lolita, ambos foram levados para um outro tanque, denominado “tigela das baleias”.

Hugo (Imagem: Reprodução)

Fundador do Dolphin Project, Richard O ‘Barry já foi treinador de animais e essa profissão o levou para perto de Hugo. Em seu livro “Behind the Dolphin Smile”, o norte-americano relata o horror vivido pelo animal. “Quando eu alimentava Hugo, sua cauda estava apoiada no fundo e sua cabeça ficava completamente fora da água. Foi patético. Queriam que eu o treinasse. Eu recusei e saí com nojo”, disse.

O estresse e os traumas gerados pelo cativeiro foram tamanhos que Hugo se tornou agressivo, passou a bater a cabeça na parede do tanque e a morder treinadores que tentavam se aproximar. Em um dos momentos de desespero vividos pelo animal, Hugo bateu o focinho em uma estrutura de plástico, que se quebrou, deixando-o ferido. O resultado foi a necessidade de uma cirurgia para recolocar a ponta do nariz dele no lugar.

Ativistas acreditam que o aneurisma que matou Hugo desenvolveu-se por conta das diversas vezes em que a orca bateu a própria cabeça contra a parede. Fotos do corpo da baleia içada para fora da piscina foram registradas, mostrando uma cena trágica e comovente.

Não se sabe ao certo o que houve com o corpo, mas relatos apontam que o animal foi enviado a um aterro sanitário, sem qualquer respeito ou direito à dignidade após a morte.

Além disso, a morte de Hugo condenou Lolita a ainda mais sofrimento. Com 55 anos, ela passa os dias imersa em solidão, nadando em uma pequena piscina. Segundo a PETA, entidade internacional de defesa animal, a parte mais longa do tanque onde a orca vive é apenas quatro vezes o comprimento de seu corpo. São apenas 20 metros de profundidade no ponto mais profundo e 3,7 metros em outras partes.

Hugo (Imagem:
Getty Images)

Em entrevista concedida à National Geographic em 2019, a cientista de mamíferos marinhos do Instituto de Bem-Estar Animal, Naomi Rose, disse que as orcas não vivem bem em cativeiro por conta de seu tamanho e inteligência. “É biologia básica. Se você evoluiu para mover grandes distâncias para procurar comida e companheiros, então você está adaptado a esse tipo de movimento, seja você um urso polar, um elefante ou uma orca”, afirmou.

“Você coloca [orcas] em uma caixa que tem 46 metros de comprimento, 28 metros de largura e 9 metros de profundidade e você está basicamente transformando-as em um peso de porta. Nenhum mamífero marinho é adaptado para prosperar no mundo que fizemos para eles em uma caixa de concreto”, asseverou.

Kiska (Imagem: GETTY)
Kiska (Imagem: TWITTER / @ WALRUSWHISPERER)

Veja o vídeo de Kiska:

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