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Dia de Amazônia: alvo de crimes ambientais, floresta amazônica pede socorro

O Dia da Amazônia nos traz a certeza de que há muito a ser feito para que a humanidade passe a valorizar verdadeiramente a natureza

5 de setembro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
4 min. de leitura
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Foto: Araquém Alcântara

Neste domingo, 5 de setembro, celebra-se o Dia da Amazônia. Há alguns anos, no entanto, não há nada a se comemorar. Considerada a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia sofre com crimes ambientais recorrentes e enfrenta a inércia do governo federal, que não combate como deveria a ação de desmatadores, como pecuaristas, mineradores e madeireiros.

Entre julho de 2020 e julho de 2021, foram 4,64 mil km² de madeira perdidos pela floresta, o equivalente a quase três vezes o tamanho da cidade de São Paulo. O levantamento publicado neste domingo (5) é de autoria da Rede Simex, formada pelas organizações ambientais Imazon, Idesam, Imaflora e ICV.

De acordo com o estudo, 6% do total de madeira explorado foi retirado de unidades de conservação e 5% de terras indígenas, o que configura crime ambiental. “A alta ocorrência de exploração madeireira no Parna dos Campos Amazônicos e na TI Tenharim Marmelos chama atenção pela sua localização, na tríplice divisa entre Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. Uma região que vem sofrendo grande pressão por desmatamento nos últimos anos e, como esses dados mostram, também por exploração madeireira”, explicou ao G1 Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV.

A exploração de madeira, no entanto, não é o único problema enfrentado pela floresta. Pela primeira vez na história, a Amazônia passou a emitir mais CO2 do que a absorvê-lo – fator que acelera as mudanças climáticas, gerando um ciclo vicioso que piora a devastação ambiental, visto que incêndios, por exemplo, propagam-se mais rapidamente devido às altas temperaturas e o tempo seco.

Não é atoa que uma área maior do que o território da Inglaterra é queimada por ano na Amazônia. Além disso, a floresta também enfrenta a perda de seus recursos hídricos, o que também está relacionado à crise climática. Com a redução dos afluentes, a floresta também sofre redução no fenômeno dos “rios voadores”, por meio dos quais a umidade da Amazônia é levada para outras regiões do país, causando chuva. Sem esse fenômeno, há escassez de chuvas em várias partes do Brasil.

“Os rios voadores começam a perder quantidade de água e, consequentemente, afetam as chuvas. Como parte das mudanças climáticas envolvem o desmatamento, é um efeito cascata. Sem árvore para ajudar na transpiração, menos água na atmosfera. Menos chuva, mais seca”, explicou ao G1, em entrevista concedida em 2020, o meteorologista e mestre em Clima e Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Bruno Takeshi Tanaka Portela.

Dados mostram ainda que pelo menos 95% das espécies de plantas e animais vertebrados da Amazônia foram prejudicadas pelas queimadas que destruíram o bioma nos últimos 20 anos, o que revela um péssimo cenário para a biodiversidade local. O garimpo, no entanto, também contribui para essa devastação, já que 93% das ações de garimpeiros realizadas no Brasil estão concentradas na floresta amazônica.

“A biodiversidade funciona como um cinto de segurança da Amazônia. Ou seja, quanto mais biodiversa, maior a capacidade da floresta de se adaptar a crises e resistir aos distúrbios climáticos. Porém, conforme vamos retirando diversidade das suas espécies, vamos enfraquecendo a resiliência da Amazônia”, explicou ao G1 um dos autores do estudo, Paulo Brando, pesquisador do Ipam.

Foto: Reuters

O resultado é a contaminação pelo minério do solo, dos rios e também das populações locais. O mercúrio, por exemplo, já contaminou 6 em cada 10 indígenas munduruku, além de afetar todas as espécies de peixes em rios situados na terra indígena.

“O garimpo amazônico gera uma grande quantidade de sedimento, que é enviado aos rio. E, em geral, a forma de fazer a recuperação do ouro é pelo uso de metilmercúrio, que é um absolutamente nocivo para os garimpeiros e também para a fauna, que está associada ao curso hídrico. Ou seja, o garimpo causa um problema para quem garimpa, para quem vive dos rios e até para quem nem próximo do garimpo esteve, porque a contaminação do mercúrio pode afetar os peixes vendido em mercados”, comentou o coordenador da equipe de zona costeira e mineração da MapBiomar, César Diniz, em entrevista ao G1.

Outra estatística alarmante revela que o desmatamento causado pela mineração já bateu recorde em 2021 na Amazônia. De acordo com o MapBiomas, três de cada quatro hectares minerados no país estão dentro da Amazônia. Isso representa 72,5% da área minerada em 2020.

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