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POLUIÇÃO

Presença de metanfetamina em rios vicia peixes

24 de julho de 2021
Beatriz Paoletti | Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Pixabay

Segundo estudo da revista científica Journal of Experimental Biology, drogas ilícitas e remédios usadas pelos humanos são excretados no banheiro e vão parar nos rios, afetando o comportamento dos peixes e outros animais que moram ali. O estudo mostra que os peixes podem estar viciados em porções de metanfetamina encontrados nos rios.

O estudo foi realizado por cientistas de instituições da República Tcheca que queriam identificar se o nível de metanfetamina presente nas águas dos rios pudesse interferir no cérebro dos animais viventes ali.

Na parte prática do experimento, os cientistas deixaram peixes da espécie Salmo trutta por 8 semanas em um tanque de água com a concentração de 1 micrograma de metanfetamina por litro de água, quantidade que foi a identificada nos rios da República Tcheca. Já outro grupo de peixes foram deixados em um tanque sem a substância.

Após 10 dias, os peixes puderam escolherem em qual dois dois tanques queriam ficar, e os que estavam no contaminado por metanfetamina quiseram permanecer ali rapidamente.

O comportamento claramente se mostrou alterado, e os cientistas encontraram traços da droga no cérebro dos peixes. “Nossa pesquisa mostrou que existe a transmissão de problemas da sociedade humana para os ecossistemas aquáticos”, fala os cientistas.

Um estudo feito no final de 2020 na revista científica Chemosfere mostra que peixes que ficaram expostos por 35 dias na água com a concentração de 1 micrograma de metanfetamina por litro ficaram prejudicados, com danos degenerativos nos rins e no coração.

Pesticidas também podem ser prejudiciais aos animais aquáticos. No Brasil, em junho de 2021, pesquisadores fizeram uma revisão de dados de estudos de 21 países sobre a contaminação do composto na água doce.

“Todos os países investigados no trabalho apresentaram um médio ou alto risco para os organismos aquáticos ao considerar suas legislações para águas doces superficiais”, explica a engenheira ambiental Emília Marques Brovini, uma das pesquisadoras que escreveu o artigo publicado no periódico científico Environmental Science and Pollution Research.

“No entanto, mais estudos são necessários para melhorar nossa compreensão das lacunas de conhecimento remanescentes, especialmente daquelas relacionadas à sensibilidade das espécies endêmicas (que são encontradas em lugares específicos), efeitos crônicos e exposição à mistura de compostos”, fala Brovini.

Para Brovini, substâncias que são criadas e vendidas podem entrar em contato com seres terrestres e aquáticos, o que pode causar danos a eles. “Os estudos são essenciais para concluir o grau de toxicidade dos compostos, como também para fins de monitoramento e controle dessas substâncias em compartimentos ambientais”, diz.

A pesquisadora Brovini pensa que a legislação e a fiscalização das regras precisam ser mais fortes e de acordo com os perigos que essas substâncias podem representar aos animais quando entram em contato com elas.

Em 2020 um grupo de cientistas brasileiros assinou uma carta na revista científica Environmental Toxicology and Chemistry, que alerta sobre as consequências negativas da maior presença de medicamentos na natureza devido aumento da automedicação durante a pandemia.

“As estações de tratamento de esgoto e água ainda não têm tecnologia para retirada de todos esses poluentes — possivelmente, esse será sempre um desafio. Subprodutos novos, vindos dessas substâncias, entram no ambiente em quantidade colossal o tempo todo, e a tecnologia não consegue acompanhar esse movimento”, abordou o biólogo Davi Felipe Farias para o jornal Folha, professor na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e um dos autores da carta em fevereiro de 2021.

 

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