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PRESERVAÇÃO

Quênia começa o primeiro censo nacional de vida selvagem

A conta visa fornecer informações cruciais para conservação dos animais incluindo pangolins, tartarugas e antílopes

4 de julho de 2021
Tainá Fonseca | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Pixabay

Aviões, helicópteros, barcos e 4x4s estão sendo posicionados, centenas de câmeras escondidas e rádios-colares, e uma variedade de esterco estudado em todo o Quênia, enquanto o país embarca no primeiro censo nacional de vida selvagem.

O censo, cobrindo os 58 parques nacionais, reservas privadas e unidades de conservação do país, deve terminar até o final de julho. Isso vai custar 250m xelins quenianos (aprox. R$11m) e inclui animais terrestres e marinhos, pássaros como Struthio e abetarda-gigante, e primatas em risco de extinção. Os resultados estão previstos para agosto.

O objetivo da contagem é estabelecer uma linha de base do status da vida vida selvagem e a distribuição para informar a diretoria de políticas. O secretário de gabinete de turismo e vida selvagem do país, Najib Balala, afirmou que o censo também recomendaria estratégias modernas para conservação efetiva de vida selvagem e a distribuição de espécies raras e ameaçadas como os pangolins e as tartarugas-verde e de pente, cuja população está em declínio por conta da caça.

Enquanto o país conduziu contas objetivas para animais em ameaça de extinção como os elefantes e rinocerontes, tem havido pouca monitoração de outras espécies raras e ameaçadas “cujas populações decaíram significativamente em número e gama nas últimas três décadas”, diz o governo. Estes incluem espécies raras de antílopes, como a zibelina, a sitatunga, o hirola e o bongo montanhoso. Os dois últimos são listados pela União Internacional para Conservação da Natureza como “criticamente em perigo”.

Foto: Pixabay

De acordo com a União, as principais áreas de vida selvagem do Quênia passaram por desafios em termos de posse e uso da terra, seca e a crise climática, fatores “prováveis para impactar negativamente a população selvagem de algumas espécies.”

“Portanto, é importante realizar essa pesquisa nacional para estabelecer a linha base da população selvagem e a distribuição para uso futuro, para compreender as tendências da população de animais selvagens e as mudanças na sua distribuição. Nós também precisamos saber se alguma área tem as capacidades necessárias para animais em particular, e os efeitos que a crise climática e o crescimento da população humana tem na conservação da vida selvagem,” disse Balala.

Balala afirma que a contagem também ajudaria a mitigar os casos crescentes de conflitos entre humanos e animais selvagens e reduzir os custos de compensação, agora em torno de 14 bn xelins quenianos.

Técnicas terrestres e aéreas estão sendo usadas para contar grandes mamíferos na savana aberta, áreas áridas e semi-áridas, enquanto câmeras escondidas e o estudo de estercos são usados em ecossistemas florestais.

Dr Patrick Omondi, diretor do novo Wildlife Research and Training Institute, disse que o governo está usando “metodologias de revisão por pares internacionalmente reconhecidas” para chegar a uma informação precisa.

“A aplicação de equipamentos e pessoas depende do tamanho de uma área de conservação,” ele disse. “Por exemplo, nós utilizamos utilizamos um time de 50 e 13 aeronaves, tanto de asa fixa quanto helicópteros, no ecossistema Tsavo, o maior do país. Outros métodos incluem a utilização de rádios-colares, especialmente para animais migratórios, para prevenir contagens erradas. Gravadores aéreos de voz também estão sendo usados para analisar a presença de animais específicos em diversas áreas.

“Em áreas florestadas, nós colocamos armadilhas de câmeras para contar animais noturnos como os pangolins. Essa vai ser a primeira vez que um país africano está contando o número de pangolins, os quais são atualmente os animais mais traficados do mundo. Levantamento aéreo também será usado para a grande vida marinha, incluindo baleias, tubarões, dugongos e tartarugas marinhas.”

Dra Paula Kahumbu, diretora executiva da Wildlife Direct, afirmou que se o censo for bem conduzido, revelaria as emergências ecológicas enfrentadas pelas áreas protegidas que afetam não só os animais mas também as vidas e os meios de subsistência de milhões de quenianos.

Mas ela acrescentou: “A conta por si só não é suficiente. O censo deve depor no status da terra e habitats, as quais são cruciais para que haja vida selvagem. A integridade das áreas protegidas do Quênia também estão sendo impactadas por construções como estradas e ferrovias, hotéis, campos militares, as quais afetam o movimento dos animais.

“Além disso, a qualidade do habitat, como os frequentes incêndios florestais, pastagem excessiva de gado, destruição da floresta, extração de areia e práticas destrutivas de pesca reduzem a biodiversidade, além de deixarem o solo mais propício às espécies invasivas.”

Kahumbu disse ainda que o número de animais que já foram considerados “comuns”, como gnus, caiu em até 90% nos ecossistemas de Nairóbi, Narok e Amboseli, principalmente por conta da perda de habitat.

O plano de manejo de 2020-30 para o parque nacional de Nairobi mostra o colapso da migração de gnus, que enumerava 30.000 animais na década de 1960 “com apenas 200 passando pelo parque”. O relatório também detalha um declínio de 70% das populações dos javalis, inhacosos, das vacas-do-mato e gazellas.

De acordo com o relatório do governo, corredores que ligavam o parque às planícies maiores foram obstruídos pelo desenvolvimento, expansão urbana e subdivisão, ou bloqueadas por cercas.

“Nossos parques, reservas, florestas e unidades de conservação são o sistema de suporte de vida do Quênia. Eles fornecem água, geram energia, limpam o ar e fornecem resiliência à crise climática e condições extremas de clima. Já que eles não podem existir como ilhas, é necessária legislação urgente para proteger as zonas-tampão, os corredores de vida selvagem e as áreas de dispersão,” disse Kahumbu.

Foto: Pixabay

Jagi Gakunju, conservacionista e operador turístico em Masai Mara, afirmou que o exercício teria mais sucesso se o governo tivesse aproveitado as informações coletadas pelos numerosos grupos conservacionistas do Quênia.

A maior parte de unidades de conservação privadas e de base comunitária, ele disse, haviam conduzido seus próprios censos ao longo dos anos, tornando suas contribuições vitais.

“Natura Kenya, por exemplo, é o parceiro local do BirdLife International e tem informações de valor inestimável sobre pássaros, assim como outros grupos conservacionistas cujas estatísticas alimentam dados de base global. Seria bom revisar essas informações e determinar como a forma atual de contagem da vida selvagem difere do que foi feito no passado. O exercício atual deve ser uma junção das iniciativas passadas,” disse Gakunju.

Cynthia Moss, conservacionista estadunidense cuja organização Amboseli Elephant Research Project vem conduzindo a maior pesquisa de elefantes no mundo, afirmou que sua organização estava disposta a compartilhar informações coletadas nos últimos 50 anos.

“Eu acredito que a iniciativa é boa para conservação,” ela disse ao The Guardian pelo telefone. “Nós acumulamos muita informação nos últimos anos e estamos dispostos a compartilhá-las, se as autoridades pedirem. Em qualquer caso, o governo tem mais recursos do que grupos privados de conservação.”

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