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AMOR

Professor toca música para alegrar animais que sobreviveram aos maus-tratos

O professor Halex Fharley Alves Pimenta considera que os momentos em que toca música para os cachorros fazem bem para ele e também para os cães

23 de junho de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
8 min. de leitura
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Halex toca música para cães resgatados da rua (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

O professor de música Halex Fharley Alves Pimenta escolhe canções de MPB para alegrar e encantar os cachorros que resgatou das ruas. Protetor de animais desde 2017, ele é fundador do Abrigo São Miguel Arcanjo, em Montes Claros, no estado de Minas Gerais. E é dentro da entidade que ele mostra seu talento artístico para o mais importante público: os cães que tiveram sua vida salva pelo protetor.

Sobreviventes do abandono e dos maus-tratos, os cães salvos por Halex passaram a desfrutar desses momentos de alegria desde que a pandemia de coronavírus chegou ao Brasil. Docente do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, o profissional teve que ministrar aulas de maneira virtual por conta do isolamento social. Sem alunos presenciais e longe da plateia que o assistia durante às apresentações, Halex percebeu que ainda assim tinha público para ouvi-lo tocar: os 17 cachorros do abrigo.

“Acredito que esses momentos que toco músicas no abrigo, sejam bons para os cães, além disso, fazem bem para mim porque representam uma maneira de lidar com tantas questões que envolvem a proteção. Ser protetor não é fácil, vemos muitos casos de extremo sofrimento, as pessoas passam perto dos animais doentes e nada fazem para ajudar, simplesmente ignoram. A gente resgata um animal e logo aparece outro”, afirmou o professor ao G1.

Antes e depois de Marcelino (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

“Ver que eles estão felizes e que possuem um abrigo faz tudo valer à pena. É como se ganhassem uma nova chance de vida”, completou.

Apaixonado pela música, Halex tocaflauta doce, flauta transversa e clarinete. “Um amigo de infância começou a tocar flauta e teclado, eu e meu irmão gostamos muito e comecei então a estudar no Conservatório Lorenzo Fernandez e também fiz faculdade. A música abre novas possibilidades, permite uma catarse dos sentimentos, transforma energias, é um respiro para a alma”, contou.

A paixão pela proteção animal veio anos depois e teve relação direta com um dos filhotes de uma cadela resgatada das ruas e abrigada por sua família. “Uma cadela em situação de rua pariu na casa da vizinha, logo que ela abriu o portão a cadela entrou e procurou um cantinho para parir. Nessa época, minha irmã já procurava ajudar os cães que ficam aqui na rua, dando água e ração. Ela então trouxe a cadela e os 10 filhotes aqui para casa com o objetivo de cuidar deles. Eu logo escolhi um filhote, a Luna”, contou.

Antes e depois de Bob (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

A cadela, porém, adoeceu e todos os cuidados que recebeu não foram suficientes. Pouco tempo depois, Luna morreu. “Logo após a morte de Luna, eu decidi que queria adotar um cachorro. Ao procurar em grupos de redes sociais, vi o trabalho dos protetores e comecei a fazer os resgates em 2017. Nunca tinha parado para pensar nas situações que os animais vivem nas ruas e também nunca tinha me atentado sobre como a atitude do protetor pode fazer a diferença nas vidas desses bichinhos”, afirmou.

O legado de Luna transformou a vida de Halex, que em 2018 fundou o Abrigo São Miguel Arcanjo ao trocar um imóvel que possuía por um terreno com um barracão. “Comprei o espaço para cuidar deles [os animais]”, contou o professor sobre a decisão que tomou após o número de animais resgatados aumentar e o espaço de sua antiga casa ficar pequeno para abrigá-los.

Encontrar um local para fundar o abrigo, porém, foi apenas um dos tantos desafios vividos pelo protetor de animais. Desafios esses que se tornaram ainda maiores com a pandemia de Covid-19. “Antes da pandemia, uma amiga, que é professora particular, sempre me ajudava, mas ela ficou impedida de dar as aulas em casa e não conseguiu mais contribuir. Além do apoio dela, também acabei perdendo a ajuda que outras pessoas me davam”, lamentou.

Antes e depois de Monalisa (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

“Eu gostaria de melhorar a estrutura do abrigo, a casa é antiga, molha quando chove. Algumas partes do terreno também ficam com muita lama. Por semana, são 50 quilos de ração, ainda tem as despesas com medicamentos, consultas, procedimentos. Os gastos são altos e eu fico muito preocupado, gostaria de contar com a ajuda de mais pessoas. É uma luta, mas sigo buscando forças para seguir em frente”, completou.

Atualmente, Halex mantém 17 cachorros no abrigo e outros 4 em sua casa. Marcelino é um deles. Resgatado em 2020 de uma casa em Santo Amaro quando ainda era filhote, o cão foi levado para a entidade fundada pelo professor. “Ele tinha um buraco no céu da boca, em decorrência de uma necrose. Ele se alimenta e consegue beber água, mas precisa passar por cirurgias para fazer correções, evitando que os alimentos fiquem presos no céu da boca ou que caiam no trato respiratório”, relatou.

Em dezembro do mesmo ano, cerca de dez meses após o resgate, o professor viajou até Belo Horizonte para que Marcelino pudesse ser avaliado por um veterinário especialista em odontologia. A suspeita é de que o ferimento na boca do cão pode ter sido causado por um produto corrosivo, dentre outras hipóteses. “Apesar de todo o sofrimento que ele passou e de ter ainda o problema na boca, Marcelino é o cachorro mais feliz que eu já convivi. Isso me dá força para continuar lutando para que ele fique bem”, asseverou Halex.

Antes e depois de Alê (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

Bob também teve a sorte de ter seu destino cruzado com o professor, que o resgatou no bairro Alto da Boa Vista. Com falhas no pelo e bastante magro, o cachorro foi socorrido e, 30 dias depois, já parecia outro animal. O amor e os cuidados que recebeu o transformaram. Sem machucados, ganhou peso e seu pelo ficou mais saudável.

Vítima do abandono, Monalisa teria morrido na rua se não tivesse sido resgatada em 2020 no entorno do Residencial Vitória. Segundo Halex, a cadela “foi abandonada por sua tutora porque estava com problemas na pele”. “Ela ficou com medo de contaminar a família dela e colocou a cachorrinha pra fora de casa”, lamentou o tutor ao relatar a falta de informação e de compaixão da antiga tutora do animal que, após ficar internado por dois dias, recuperou-se rapidamente, tendo ficado curada do problema de pele. Hoje ela vive feliz no abrigo e “adora comer chinelos”.

O mesmo amor que salvou Monalisa também deu uma nova vida à Alê, resgatada em 2017 no bairro de Lourdes. “Alguns moradores disseram que viram ela se arrastando, não viram de onde ela veio”, contou o protetor. Examinada por veterinários, a cadela foi diagnosticada com uma deficiência de nascença. Na coluna do animal há um desvio, o que paralisou suas patas traseiras. “Uma cadeirinha de rodas para ela seria o ideal, mas teria que ser sob medida para que fique bem para ela”, comentou o professor que também resgatou o cão Negão após ficar sabendo que o animal estava repleto de larvas que consumiam sua pata, gerando grande sofrimento e dor.

Antes e depois de Negão (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

“Por ser idoso, ele desenvolveu uma hérnia com deslocamento da bexiga e precisa passar por uma cirurgia bem delicada”, relatou o protetor, que precisa arrecadar R$ 800 para pagar pela cirurgia. O valor não inclui as despesas do pós-operatório.

Sob os cuidados de Halex está também Pretinha, uma cadela que permanece sob tratamento veterinário por conta de um inchaço nas patas. Até o momento, os profissionais que examinaram a cadela não conseguiram diagnosticar o problema de saúde que causa o inchaço. Retirada de uma casa abandonada, Pretinha sobrevivia em condições de abandono em uma casa no bairro Santa Rita antes de ser salva pelo protetor. Hoje, vive cercada de amor.

Tanto amor, porém, não é suficiente para salvar vidas, já que cuidar de animais demanda gastos que, tratando-se de dezenas de cães, são bastante altos. Por conta disso, o Abrigo São Miguel Arcanjo depende de doações para dar uma vida digna a animais tratados como objetos descartáveis pela sociedade. Interessados em colaborar devem entrar em contato com Halex por ligação ou mensagem via WhatsApp através do número (38) 98828-3065.

Pretinha está em tratamento para o inchaço nas patas (Foto: Halex Fharley Alves Pimenta)

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