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AÇÃO HUMANA

Pontos climáticos críticos podem colapsar como dominós, alertam cientistas

Análise mostra risco significativo de eventos em cascata mesmo com 2°C de aquecimento, com severos efeitos em longo prazo.

21 de junho de 2021
Kaique Pettini | Redação ANDA
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

Camadas de gelo e correntes oceânicas em risco de pontos climáticos críticos podem desestabilizar umas às outras enquanto o mundo aquece, causando um efeito dominó com severas consequências para a humanidade, de acordo com uma análise de risco.

Pontos críticos ocorrem quando o aquecimento global coloca temperaturas além de um nível grave, causando impactos irreversíveis e acelerados. Algumas grandes camadas de gelo na Antártica podem já ter passado de seus pontos críticos, o que significará um alto aumento no nível do mar em séculos futuros.

A nova pesquisa examinou as interações entre camadas de gelo no Oeste da Antártica, Groenlândia, a quente corrente do golfo do Atlântico e a floresta Amazônica. Os cientistas fizeram 3 milhões de simulações e encontraram efeitos dominós em um terço delas, mesmo com um aumento de temperatura menor que 2°C, o limite do acordo de Paris.

O estudo mostrou que as interações entre esses sistemas climáticos podem diminuir o nível grave de temperatura que os pontos críticos se estabelecem. Ele encontrou que camadas de gelo são potenciais pontos de início para um efeito em cadeia, com as correntes do Atlântico agindo como um transmissor e eventualmente afetando a Amazônia.

“Nós provemos uma análise de risco, não uma previsão, mas nossos achados ainda levantam preocupações”, disse a professora Ricarda Winkelmann, do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (“Potsdam Institute for Climate Impact Research” – PIK) na Alemanha. “[Nossos achados] podem significar que temos menos tempo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ainda prevenir os processos de cascata.”

O nível de CO2 na atmosfera requerido para colocar as temperaturas além dos níveis críticos pode ser alcançado num futuro muito próximo, ela disse. “Nos próximos anos ou décadas, nós podemos estar comprometendo futuras gerações a severas consequências.” Estas podem incluir muitos metros de aumento do nível do mar por derretimento de gelo, afetando dezenas de cidades costeiras.

“Nós estamos mudando as chances, e não a nosso favor – o risco está claramente aumentando enquanto nós aquecemos o planeta,” disse Jonathan Donges, também da PIK e parte do time de pesquisa.

Em Maio, cientistas reportaram que uma significante parte da camada de gelo da Groenlândia estava prestes a entrar em um ponto crítico. Uma análise de 2019 liderada pelo professor Tim Lenton da faculdade de Exeter sugeriu que o mundo pode já ter passado uma série de pontos climáticos críticos, resultando no que os pesquisadores chamam de “uma ameaça existencial à civilização”.

A crise climática também pode significar que grande parte da Amazônia também está próxima a um ponto crítico, no qual a floresta armazenadora de carbono é substituída por uma savana, cientistas alertaram. As correntes oceânicas da circulação do Atlântico Meridional (“Atlantic Meridional Overturning Circulation” – AMOC), na qual a corrente do golfo é importante parte e deixa o clima da Europa Ocidental suave, estão nos seus pontos mais fracos em mais de um milênio.

O estudo, publicado no jornal Dinâmicas do Sistema da Terra (“Earth System Dynamics”), usou um novo tipo de modelo climático pois os modelos existentes são muito complexos e requerem uma enorme potência informática, fazendo-os caros de serem executados muitas vezes. Ao em vez disso, os pesquisadores usaram um método que focava especificamente em como o nível grave de temperatura para os pontos críticos mudavam enquanto os sistemas interagiam, permitindo-os executarem 3 milhões de vezes.

Um exemplo da complexa cadeia de interações que os pesquisadores observaram é o derretimento da camada de gelo da Groenlândia. Esta libera água doce no oceano e diminui a velocidade da AMOC, que é dirigida parcialmente por uma água densa e salgada sendo empurrada para o solo do oceano. Uma AMOC mais fraca significa que menos calor está sendo transportado dos trópicos para o polo norte, o que, por sua vez, causa uma água mais quente no oceano do Sul. Isso pode desestabilizar camadas de gelo na Antártica, o que aumenta o nível do mar e causa mais derretimento nas bordas da camada de gelo da Groenlândia.

“O estudo sugere que, mesmo com 2°C de aquecimento global – o limite alvo do acordo de Paris – ainda pode existir um significativo risco de ativarmos efeitos em cadeia de pontos climáticos críticos”, disse Lenton. “O que o novo estudo não faz é mostrar a escala de tempo que pontos críticos e efeitos em cascata podem se desdobrar – ao em vez disso, ele foca nas eventuais consequências. Os resultados devem ser vistos como ‘compromissos’ que podemos estar fazendo em breve para causar potenciais mudanças e cascatas irreversíveis, deixando um sinistro legado para futuras gerações.”

Porém, a chance de um efeito em cadeia de pontos críticos causando um efeito estufa descontrolado, onde o planeta fica mais quente mesmo se a humanidade interromper as emissões de carbono, é extremamente improvável, de acordo com o professor Anders Levermann, também da PIK mas não envolvido com o novo trabalho. “A Terra ficará mais quente enquanto nós a deixarmos mais quente, o que significa que nós somos aqueles [que devemos] parar o aquecimento”, ele disse.

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