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Ativistas fazem greve de fome para impedir desmatamento e proteger animais

Jacob Fillmore só bebeu caldo e água por 12 dias para aumentar a conscientização sobre a destruição das florestas do leste,Jacob Fillmore só bebeu caldo e água por 12 dias para aumentar a conscientização sobre a destruição das florestas do leste

6 de abril de 2021
Giovanna Reis | Redação ANDA Giovanna Reis | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Um homem na segunda semana de greve de fome está pedindo uma providência do governo no Canadá para a suspensão da extração de madeira, em meio a temores crescentes de que o corte raso das florestas do leste do país poderia ser devastador para as espécies ameaçadas de extinção.

Jacob Fillmore, um ativista de 25 anos na província da Nova Escócia, sobreviveu com caldo e água por 12 dias, acampando fora da assembleia legislativa da província para aumentar a conscientização sobre a destruição de florestas antigas.

“Eu reconheço que uma greve de fome é uma medida meio extrema para conseguir que a minha mensagem seja ouvida, mas eu acredito que é tempo de medidas extremas”. Fillmore disse ao The Guardian. “Nós realmente não temos mais tempo a perder”.

No início da semana, protestante se aliaram a Fillmore em Halifax, a capital da província. Bloqueando estradas e pedindo ao governo a suspensão de práticas controversas de extração de madeira de corte raso, que temem estar levando o ecossistema ao limite. O apoio ao protesto de Fillmore também mostra uma frustração mais ampla em todo o Canadá sobre a colheita contínua de florestas antigas – apesar dos alertas dos ecologistas que as árvores envelhecidas representam uma ferramenta valiosa na luta contra as mudanças climáticas.

Por mais de três séculos as florestas da Nova Escócia têm sido recolhidas para exportação de madeira valiosa. Mas gerações de extrações implacáveis deixaram a província com poucos remanescentes da antiga vegetação da Acadian, uma mistura de árvores de madeira dura e de madeira macia que outrora cobriu grande parte da província marítima.

“Nossas florestas costumavam ser enormes”, disse Bob Bancroft, um biólogo de vida selvagem e líder da Nature Nova Scotia, uma coleção de grupos de defesa ao meio ambiente. “ Eu já vi ulmeiras (tipo de árvore) que quatro de nós mal podíamos colocar os nossos braços ao redor e tocar os dedos. E eu vi uma bétula amarela que media mais de 13 pés de circunferência. Mas agora quase nenhuma sobrou”.

Bancorft estima que metade das florestas da província foram cortadas nos últimos 35 anos. Para os residentes, o rápido desaparecimento do alce do continente – cujo número tem colapsado nos últimos anos – tornou-se emblemático para o desdobramento do desastre ecológico.

Com o seu abrigo e fontes de alimento desaparecendo, a população de alce ameaçada de extinção está cada vez mais sendo empurrada para áreas cada vez menos florestadas.

“É mais ou menos como alguém batendo na sua porta e dizendo, ‘Com licença, eu perdi a minha casa, eu quero morar na sua,’” disse Bancroft. “ Eles tão sendo empurrados de volta para os últimos bastiões de selva que eles podem encontrar porque não há mais nenhum lugar para que eles possam ir”.

WestFor, a principal colheitadeira da região, não respondeu ao pedido de comentário do The Guardian. A companhia recentemente lançou um vídeo defendendo as suas práticas de extração, dizendo a um relatório que acredita “uma indústria florestal responsável pode ser balanceada com a necessidade de proteger o nosso meio ambiente natural, incluindo espécies ameaçadas de extinção assim como o alce do continente”. O governo da Nova Scotia também não respondeu ao pedido de comentário.

Além da degradação do habitat, um recente impulso do governo da Nova Scotia para usar a madeira colhida para gerar energia gerou preocupação nos ativistas.

“Nós não podemos considerar as nossas florestas como recursos a serem queimados”, disse Gretchen Fitzgerald, uma diretora do programa nacional no Clube Sierra no Canadá. “E nós sabemos que florestas antigas são especialmente críticas para reduzir o carbono para enfrentar a emergência climática.”

Ativistas estão ficando cada vez mais frustrados com o que eles veem como uma falta de ação considerável, apesar das promessas de sucessivos governos provinciais de reformar as práticas de manejo florestal.

Em 2019 a corte da província concluiu que o governo falhou em proteger significantemente os alces sob as leis de espécies ameaçadas

Foto: Minden Pictures / Alamy

Em outubro de 2020 membros da Extinction Rebellion estabeleceram dois bloqueios em estradas madeireiras no sudoeste da Nova Scotia, onde uma das poucas áreas florestais permanece. “ Florestas sempre-vivas maduras são exatamente o tipo de habitat que os alces precisam – e é exatamente o tipo de habitat que as indústrias florestais querem tomar”. Disse Nina Newington, uma das ativistas que passaram oito semanas no bloqueio local.

Em dezembro, a polícia prendeu nove dos protestantes, incluindo Newington, uma vez que executaram um mandado a favor da WestFor.

E foi em dezembro que Fillmores começou a acampar na frente dos prédios do governo, se recusando a sair até o governo implementar uma moratória à extração de madeira em áreas ecologicamente sensíveis.

A recusa dele a comer até que o governo concordasse em um banimento temporário, uma escalada de seus protestos, gerou preocupação nos seus colegas manifestantes.

“Me assusta e me chateia que um menino de 25 anos está fazendo isso ao seu corpo”, disse Newington. “Mas eu também o admiro enormemente por isso”

O recém nomeado premiê, Iain Rankin, se comprometeu a implementar recomendações do recente relatório, assim como priorizar ações contra a mudança climática – uma medida bem-vinda pelos ativistas.

Mas Rankin, que anteriormente comandou o departamento de terras e florestas, alertou que qualquer mudança provavelmente virá no final do ano. O escritório do premiê não respondeu ao pedido de comentário sobre as ligações de Fillmore para um moratório

Fillmore, que estava ficando cada vez mais letárgico sem comida, diz que a sua luta reflete o seu desespero pela perda das florestas.

“Sem ações substâncias contra a mudança climática, a segurança alimentar tornar-se-á um grande problema para as pessoas, como já é para muitas espécies da natureza”, disse ele. “ O meu senso de urgência vem de um fato de que eu estou com medo pelo meu futuro”.

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