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Consumo de carne na China impulsiona as exportações de animais do Brasil

As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado,As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado,As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado,As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado,As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado,As vendas cresceram 76% no ano passado e não mostram sinais de desaceleração, alimentando a crise ambiental na Amazônia e no Cerrado

23 de março de 2021
Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA Dom Phillips | Tradução de Laura de Faria e Castro | Redação ANDA
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Imagem de boi
Pixabay

Durante o jantar em uma churrascaria movimentada em Shenzhen, Lei Yong e Zhao Xu, dois empresários na casa dos 40 anos, refletem sobre como o consumo de carne na China mudou drasticamente em suas vidas, especialmente nos últimos 10 a 15 anos.

“Talvez há 20 anos as pessoas em vilarejos e cidades menores não comiam muita carne, mas as das grandes cidades sim”, diz Zhao, referindo-se à movimentada megacidade em que ele e Lei estão criando suas famílias. “Agora, as pessoas nas cidades maiores estão mais preocupadas com a saúde e estão comendo mais vegetais, mas as das cidades menores têm mais dinheiro. Agora eles estão realmente comendo muito mais carne. Eles acham que ser rico significa comer mais carne.”

A demanda voraz da China ajudou as vendas de carne brasileira a níveis recordes – mas o boom tem um alto custo ambiental.

A economia do Brasil foi duramente atingida pela pandemia do coronavírus e mais de dois milhões de pessoas perderam seus empregos. Mas a agricultura continua a florescer, e o país é o maior exportador de carne do mundo.

O Brasil forneceu 43% das importações de carne da China em 2020, calculou a consultoria Safras & Mercado usando dados do governo, com as exportações de carne bovina ao país crescendo 76% no ano passado em comparação com 2019.

“Houve esse boom”, diz Thiago de Carvalho, professor de agronegócio da Universidade de São Paulo, destacando a qualidade da carne bovina brasileira e seu baixo preço depois que a moeda brasileira, o real, caiu no ano passado. “A carne brasileira está [entre] as mais baratas do mundo.”

As vendas devem subir ainda mais este ano, à medida que a indústria suína da China luta para se recuperar da doença mortal do porco, a peste suína africana.

“A necessidade da China de comprar carne no ano passado foi impressionante”, diz Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado [que se traduz como Colheitas e Mercado]. “O Brasil é mais do que capaz de fornecer o que os chineses precisam.”

Embora os chineses comam menos carne per capita do que os americanos, o consumo aumentou nas últimas décadas, à medida que a economia cresce. Tradicionalmente, a carne favorita da China é a carne de porco, mas em 2018 e 2019 mais da metade dos 440 milhões de porcos do país foram mortos pela peste suína africana ou abatidos para retardar sua disseminação. As importações de carne aumentaram enquanto a China buscava substituir a proteína.

Pesquisas com consumidores também mostram que mais chineses estão se voltando para a carne vermelha. Uma pesquisa com consumidores chineses abastados pela empresa de marketing Meat & Livestock Austrália descobriu que um terço havia comido mais carne durante o ano passado.

Quase 70% das importações de carne brasileira da China vieram do Cerrado, a vasta região de savana tropical e da Amazônia em 2017, de acordo com a TraSE (Transparência para Economias Sustentáveis), uma rede europeia que monitora cadeias de abastecimento. Cerca de metade do Cerrado e cerca de 20% da Amazônia brasileira foram desmatados – com um impacto devastador no aquecimento global, pois ambos são importantes sumidouros de carbono.

“A Amazônia forneceu cerca de um quinto das importações da China, mas na verdade representa a metade do risco de desmatamento”, diz Erasmus zu Ermgassen, pesquisador da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, e um dos autores de um estudo sobre o impacto das exportações de carne bovina.

“As exportações estão se expandindo para a Amazônia”, diz Zu Ermgassen. “Quando você aumenta a demanda no sistema agrícola brasileiro, você está empurrando a agricultura mais para dentro da floresta.”

Desde 2019, a China licenciou 22 frigoríficos brasileiros para exportação – 14 deles na Amazônia, enquanto quatro estão no extenso estado do Pará, que possui o quinto maior rebanho bovino do Brasil.

Isso teve um grande impacto no preço da carne, diz Maurício Fraga Filho, pecuarista e presidente da associação de pecuaristas do Pará.

Sob o presidente populista de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro de 2019, o desmatamento na Amazônia atingiu o máximo em 12 anos. Investidores e grandes empresas brasileiras têm pressionado o governo brasileiro a agir, e fazendeiros como Fraga Filho estão preocupados com potenciais boicotes.

“Essa é uma grande preocupação”, diz Fraga Filho. “O mercado não deve barrar produtos da Amazônia. Isso será o caos.”

Ele diz que mais esforços devem ser feitos para ajudar os agricultores a resolver problemas legais, como terras embargadas devido a infrações ambientais, permitindo-lhes fornecer legalmente às empresas de carne. Isso os impediria de vender para um mercado negro que “existe e sempre existiu”, diz Fraga Filho. “Hoje há e não há mais necessidade de desmatar.”

Os três grandes exportadores de carne do Brasil – JBS, Marfrig e Minerva – administraram 72% das exportações de carne do Brasil de 2015-17, de acordo com a TraSE. Todos os três gastaram pesadamente desenvolvendo sistemas para monitorar seus “fornecedores diretos” – agricultores como Fraga Filho, que vendem para frigoríficos – por infrações ambientais. Mas eles têm sido incapazes de monitorar seus “fornecedores indiretos” – fazendas que geram ou criam gado que abastecem os “fornecedores diretos”.

No ano passado, JBS e Marfrig prometeram monitoramento completo de sua cadeia de suprimentos até 2025 e o Minerva está testando um sistema de controle de seus fornecedores.

Embora a China ainda não tenha mostrado preocupação com a conexão entre as importações de carne bovina brasileira e o desmatamento na Amazônia, há pelo menos sinais de que seu governo quer cortar o consumo de carne, o que melhoraria a saúde pública e reduziria as emissões de carbono. Em setembro passado, o presidente Xi Jinping surpreendeu muitos quando disse que a China pretendia se tornar neutra em carbono até 2060.

Mas enquanto o mercado para alternativas baseadas em plantas está crescendo, “desmamar” as pessoas da carne – e a sensação de riqueza que ela traz – pode ser mais difícil do que ele espera.

Dom Phillips é bolsista da Fundação Alicia Patterson em 2021

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