EnglishEspañolPortuguês

MUDANÇA DE PENSAMENTO MUDANÇA DE PENSAMENTO MUDANÇA DE PENSAMENTO

Revolução vegana chega à China e reduz o consumo de carne

Preocupações com emissões de carbono e crises alimentares estão favorecendo a diminuição do consumo de carne como um símbolo de riqueza,Preocupações com emissões de carbono e crises alimentares estão favorecendo a diminuição do consumo de carne como um símbolo de riqueza,Preocupações com emissões de carbono e crises alimentares estão favorecendo a diminuição do consumo de carne como um símbolo de riqueza

15 de março de 2021
Gabriela Alves | Redação ANDAGabriela Alves | Redação ANDAGabriela Alves | Redação ANDA
6 min. de leitura
A-
A+
Foto: Pixabay

A janela de um KFC na cidade de Hangzhou, no leste chinês, mostra uma imagem de uma porção familiar de nuggets. Porém, o balde transbordante com o rosto sorridente do Coronel Sanders é levemente diferente. O balde é verde e os nuggets dentro dele são completamente livres de carne.

Ao longo destes últimos anos, após muitos anos de crescente consumo de carne pelas classes médias chinesas em expansão, para as quais o consumo de porco todos os dias era um sinal muito luxuoso de seus novos confortos financeiros, os frutos uma revolução vegana começaram a brotar. Apesar da China ainda consumir 28% da carne do mundo, incluindo metade da quantidade total de porcos, e possuir um mercado de carne que vale $ 86 bilhões (£62 bi), substitutos de origem vegetal estão lentamente conquistando um espaço para si entre uma nova geração de consumidores crescentemente preocupados com crises relacionadas a alimentos, como o coronavírus e a peste suína africana.

As cidades chinesas mais cosmopolitas são agora moradas de grupos de mídia social, sites e comunidades dedicadas a estilos de vida sem carne. VegeRadar, por exemplo, compilou mapas abrangentes de restaurantes veganos e vegetarianos em toda a China. De acordo com um relatório feito pelo Good Food Institute (GFI), o mercado de carne feita à base de vegetais da China foi estimado em 6.1 bilhões de yuans (£675 mi) em 2018 e foi projetado para crescer entre 20 e 25% anualmente.

Yun Fanwei, uma estudante de 25 anos de Shanghai, é uma dentre uma nova geração de vegetarianos famintos por mais opções. “Eu compro alguns desses produtos feitos de carne falsa e vários deles são muito bons. Eles não necessariamente têm gosto de carne, mas já é uma mudança legal em relação ao tofu”, ela disse.

Comer carne esteve intimamente conectado com a abundância crescente da China. Nos anos 1960, o chinês médio consumia 5 kg de carne por ano. Esse número aumentou para 20 kg na época da “reforma e abertura” do ex-líder Deng Xiaoping do final dos anos 1970, e para 48kg em 2015.

Mas, em 2016, como parte de sua promessa de reduzir suas emissões de carbono, o governo chinês esboçou um plano para cortar a ingestão de carne do país em 50%. Foi um movimento radical, e até então poucos governos pelo mundo tinham incluído o consumo de carne nos seus planos de redução de emissões de carbono.

As novas diretrizes, que exigiam que os cidadãos consumissem apenas de 40 a 75 kg de carne por dia, foram promovidas com uma série de anúncios de informação pública com a participação do ator Arnold Schwarzenegger e do diretor James Cameron. Desde então, poucas outras medidas concretas foram tomadas, além do presidente, Xi Jinping, ter lançado em agosto do ano passado a “campanha do prato limpo” com o objetivo de reduzir os “chocantes e angustiantes” 40% dos alimentos que vão direto das mesas de jantar chinesas para o lixo. Alguns comentaristas especularam que pedir aos cidadãos chineses que reduzissem o consumo de carne foi uma ação considerada particularmente impopular.

Mas as proteínas alternativas são vistas como uma possível rota de avanço. No ano passado, no encontro anual de “duas sessões” do parlamento, Sun Baoguo, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, pediu mais investimento, regulamentação e promoção da carne artificial.

Algumas das maiores redes internacionais operando na China foram rápidas em apostar no crescimento das carnes alternativas. O KFC agora está vendendo nuggets de frango veganos, o Burger King está oferecendo um Whopper Impossível, e a Starbucks está servindo massas, saladas e wraps “Além da Carne”.

Mas empresas domésticas também estão se estabelecendo, apostando que o apoio do Estado virá em breve, até porque o governo pode ver as proteínas alternativas como uma forma de deixar cidadãos continuarem a ter o “luxo” da carne ao mesmo tempo em que avançam na direção das suas metas de redução de carbono. Esse otimismo levou à entrada de vários competidores chineses no mercado ao lado de potências internacionais como Cargill, Unilever e Nestlé, assim como a propaganda do movimento, o Impossible and Beyond.

A OmniFoods, lançada em Hong Kong em 2018, faz parte de um grupo de startups regionais lutando por participação no mercado, tendo recentemente aberto um restaurante e loja veganos multimarcas em Xangai e garantido seu produto propaganda, OmniPork, no McDonald’s em Hong Kong e na Aldi, na White Castle e na Starbucks na China continental. A empresa, que planeja operar em 13 países este ano, também acaba de concluir seu lançamento no Reino Unido para Veganuary, durante a qual o OmniPork foi transformado em tudo, de ovos escoceses a bibimbap coreano nos restaurantes participantes.

O fundador da OmniFoods, David Yeung, espera pela abertura de uma fábrica baseada na China no ano que vem que ajudará a abaixar o preço dos seus produtos. Proteínas de origem vegetal atualmente custam muito mais que seus concorrentes que vendem carne, uma grande barreira quando se trata de fazer com que os compradores notoriamente econômicos da China façam a troca. “Obviamente, minimizar a logística e os intermediários e criar economias de escala terá um grande impacto na cadeia de valor. À medida que cortamos essas despesas na China, prevemos uma queda significativa de preços”, disse Yeung.

A Z-Rou, sediada em Xangai, produz um substituto de carne moída de origem vegetal que já está nas cantinas de algumas das principais escolas, hospitais e empresas internacionais da China. Seu CEO, Franklin Yao, tem como alvo líderes de opinião e consumidores de classe média que podem se dar ao luxo de fazer escolhas conscientes. “Eles estariam até dispostos a pagar mais porque sabem que estão recebendo um produto mais saudável que está ajudando a garantir o futuro do planeta que seus filhos estão herdando. Isso não tem preço”.

Outros atores chineses incluem Zhenmeat, que fabrica carne bovina, carne de porco e lagostim à base de vegetais, e Starfield, cuja alternativa à carne moída à base de algas marinhas foi transformada em pratos em algumas das principais redes de restaurantes da China.

Yao admite que a indústria ainda é muito pequena na China mas ele acha que substitutos sem carne se tornaram prevalentes muito em breve. “Consumidores chineses estão procurando ativamente por produtos mais sustentáveis. Embora a ligação feita entre a carne e o meio ambiente ainda seja fraca entre a maioria da população, o interesse existe e a China aprende rápido”.

Mas desligar as pessoas da carne pode ser mais difícil do que algumas dessas empresas gostariam de pensar. “Já experimentei um prato vegetariano de porco assado, mas não é o mesmo que carne de verdade”, disse o aposentado Bao Gege, de 64 anos. “O sabor, a textura e os valores nutricionais não são comparáveis. Eu não experimentaria de novo, mesmo que fosse mais barato do que carne”.

    Você viu?

    Ir para o topo