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Entenda como o plástico está poluindo o seu corpo

Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?,Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?,Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?,Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?,Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?,Cada um de nós ingere mais de 100 mil partículas por ano. O quão preocupados deveríamos estar em relação a isso?

8 de março de 2021
Beatriz Kaori | Redação ANDA Beatriz Kaori | Redação ANDA Beatriz Kaori | Redação ANDA Beatriz Kaori | Redação ANDA Beatriz Kaori | Redação ANDA Beatriz Kaori | Redação ANDA
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Foto: Pixabay

Quando pensamos no preço devastador que a poluição de plásticos pode ter, geralmente pensamos nas imagens de tartarugas presas em sacolas de uso único ou pilhas de garrafas plásticas em aterros – para a maioria de nós, é um problema ambiental.

Mas há cada vez mais evidências de que os resíduos de plástico podem ser também um problema de saúde.

O problema ocorre quando o plástico é dissolvido em pequenas partículas – conhecidas como microplásticos, que possuem 5 mm de comprimento (o equivalente a uma lentilha) ou menos.

Essas pequenas partículas estão em toda a parte: elas são produzidas a partir da decomposição de sacolas e garrafas, o desgaste das solas de nossos sapatos quando andamos e os pneus de nossos carros quando dirigimos.

Mesmo lavar uma pilha de roupas gera centenas de milhares de fibras microplásticas (de tecidos como nylon, acrílico e poliéster).

Além disso, o uso de máscaras pode aumentar nossa exposição, diz Alex McGoran, um pesquisador de microplásticos em Royal Holloway, Universidade de Londres e o Museu de História Natural. “Máscaras faciais de uso único provavelmente liberam fibras microplásticas no ar ao nosso redor. Mas o benefício que ganhamos por usá-las provavelmente ultrapassa as desvantagens de potencialmente inalar microfibras”.

Essas pequenas partículas estão em nossa água, comida e nas superfícies que tocamos – e apenas agora estamos entendendo qual é seu impacto.

Embora seja pensado que nossos corpos eliminam alguns dos microplásticos que se acumulam dentro de nós, de acordo com uma avaliação do King’s College de Londres, novas pesquisas sugerem que é possível que os microplásticos passem das vias aéreas ou intestino para o sangue e para nossos órgãos. Na teoria, o plástico poderia então causar inflamação prejudicial ou liberar produtos químicos nocivos.

Em um dos estudos mais recentes, cientistas italianos descobriram microplásticos em placentas humanas pela primeira vez, o que poderia afetar a saúde e desenvolvimento fetal.

Essas descobertas, que foram publicadas no mês passado na revista Meio Ambiente Internacional, levaram os pesquisadores a sugerirem que mulheres estão dando à luz a “bebês ciborgues” – e experts britânicos agora avisam que, apesar de não sabermos o impacto exato que esse plástico pode gerar, o fato de que ele chega até a placenta é preocupante.

Como Alex McGoran explica, os microplásticos estão por toda a parte: “Ouvimos falar de peixes com plástico dentro deles e a percepção que temos é de que a maioria dos microplásticos que consumimos provém de frutos do mar”.

“Mas estamos cercados de plástico. Por exemplo, na sua casa, você pode estar andando em cima de um carpete artificial, fechando cortinas feitas de poliéster e se sentando em uma cadeira com uma almofada artificial – tudo isso libera fibras no ar, que podemos inalar”.

Um estudo de 2018 realizado pelas universidades Heriot-Watt e Plymouth calcularam que o cidadão britânico médio engolirá até 68.415 pedaços de microplásticos provenientes da poeira anualmente.

E nossas dietas (microplásticos foram detectados em tudo, desde a cerveja, até o sal marinho e mel) dão mais aproximadamente 52.000 partículas por ano, de acordo com a revista Ciência & Tecnologia Ambiental em 2019.

Mas quais seriam as consequências, se houverem, de partículas de plástico estarem aumentando em nossos corpos?

Em um estudo de 2019 realizado pela Universidade Centro Médico em Utrecht, cientistas queriam investigar como células imunológicas humanas lidam com microplásticos. Eles colocaram as células em placas de Petri com microplásticos e descobriram que, apesar das células imunológicas terem reconhecido e englobado as partículas de plástico, elas morreram como resultado.

Essa morte celular pode ser ligada a inflamações potencialmente prejudiciais. Pesquisas estão sendo realizadas para ver se isso ocorre com animais e humanos.

Enquanto isso, há preocupações de que alguns microplásticos sejam pequenos o suficiente para entrar em nossa corrente sanguínea e órgãos.

Um estudo de 2018 analisou amostras de fezes de oito pessoas da Europa, Japão e Rússia e descobriu que plásticos, incluindo polipropileno (comumente usado em recipientes e embalagens alimentares) e tereftalato de polietileno (um poliéster usado em embalagens de roupas e alimentos) estavam presentes em fezes humanas, demonstrando que microplásticos conseguiam passar pelo trato gastrointestinal humano.

Plástico no intestino poderia afetar a resposta imunológica do sistema digestivo ou auxiliar na transferência de patógenos e produtos químicos, de acordo com pesquisadores, que adicionaram ainda que isso pode ter implicações para “pacientes com doenças gastrointestinais”.

Em um estudo com animais em 2018 na revista Ciência & Tecnologia Ambiental, Richard Thompson, um biólogo marinho da Universidade de Plymouth, que foi o primeiro que cunhou o termo microplásticos em 2004, demonstrou que pedaços de plástico podem passar do intestino e chegar ao sistema circulatório.

Ele disse a Good Health: “Se mostramos em vieiras que pequenos pedaços conseguem passar do intestino para o sistema circulatório, é provável que isso também possa ocorrer com humanos. Mas isso não necessariamente significa que é prejudicial”.

Em um recente estudo italiano, 12 pedaços de plásticos foram detectados em quatro placentas que foram doadas após o parto. Três desses pedaços foram reconhecidos como polipropileno, enquanto outros pedaços pareciam ser partículas de plástico provenientes de “revestimentos artificiais, tintas, adesivos, gessos e cosméticos”.

As mulheres tiveram gravidezes saudáveis, mas os autores disseram que, devido ao papel crucial da placenta, a “presença de partículas plásticas é uma grande preocupação”.

Não houve detalhes sobre a saúde dos bebês, mas Charles Kingsland, um professor de medicina reprodutiva na Universidade Edge Hill em Lancashire, diz que os microplásticos poderiam “envenenar a criança” ou reduzir seu fornecimento de oxigênio, levando a alguns bebês nascerem natimortos ou abaixo do peso.

“Precisamos ter mais consciência sobre o dano potencial do que estamos fazendo, não apenas com o meio ambiente, mas também com a saúde humana e a saúde de bebês que ainda vão nascer”, ele disse.

Essa não é a primeira vez que experts britânicos se preocuparam com o impacto dos microplásticos.

Em um relatório de 2019, a Royal Society analisou estudos da década passada e identificou três maneiras em que microplásticos podem afetar a saúde animal – e, portanto, a saúde humana.

A primeira é por meio do intestino. Há preocupações de que microplásticos poderiam prejudicar o microbioma, a comunidade de insetos que nos ajuda a digerir os alimentos e regular nosso sistema imunológico. Os microplásticos também poderiam potencialmente danificar as células do intestino, “possivelmente aumentando o risco de câncer”, é o que constava.

A segunda é o dano causado por produtos químicos usados para criar plástico. Por exemplo, o bisfenol A, que é encontrado no revestimento plástico de latas, pode interferir em hormônios e tem sido associado a doenças em animais, incluindo fertilidade reduzida, problemas no desenvolvimento do cérebro e dos ossos e câncer.

Por fim, a Royal Society levantou preocupações de que os microplásticos possam transportar outras substâncias químicas venenosas para dentro do corpo.

Isso ocorre porque, uma vez na água, eles agem como um ímã para inseticidas e outras substâncias potencialmente tóxicas e ficam revestidos com eles. Bactérias prejudiciais também podem pegar uma carona dessa forma, alerta o relatório.

Pesquisas anteriores encontraram bactérias que podem causar infecções de feridas e gastroenterites vivendo na superfície dos microplásticos.

Contudo, uma revisão realizada para a Comissão Europeia em 2019 alertou que os estudos em animais tendem a usar concentrações de microplásticos muito maiores do que as encontradas na vida real.

O relatório da Royal Society disse que: “Há evidências que demonstram a presença de microplásticos… Em humanos e na dieta humana”. Mas ele acrescentou que “o sistema digestivo humano é eficaz na eliminação de microplásticos, provavelmente eliminando mais de 90% dos microplásticos ingeridos”, antes de concluir que há “poucas evidências de que os microplásticos prejudicam humanos”.

Portanto, embora nenhuma ligação conclusiva possa ser feita com o risco para a saúde humana ainda, faz sentido que tomemos medidas para reduzir a poluição causada por plástico.

Por exemplo, usar máscaras reutilizáveis em vez de descartáveis, beber água da torneira em vez de água engarrafada e colocar a roupa em sacos especiais que retêm as fibras plásticas produzidas durante a lavagem. “E antes de jogar suas roupas fora, pense se você quer descartá-las já ou fazê-las durar um pouco mais”, diz Alex McGoran.

“A poluição do plástico está em toda parte”, acrescenta ela. “Embora seja muito cedo para dizer se ela está prejudicando a saúde humana, o dano ao meio ambiente não pode ser negado”.

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