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DE OLHO NO PLANETA DE OLHO NO PLANETA DE OLHO NO PLANETA DE OLHO NO PLANETA DE OLHO NO PLANETA DE OLHO NO PLANETA

Cerca de 70% dos últimos surtos epidêmicos foram causados pela destruição da natureza

María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais ,María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais ,María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais ,María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais ,María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais ,María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV passaram dos animais para os humanos após a destruição massiva de selvas e florestas tropicais

19 de fevereiro de 2021
Juan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna RodriguesJuan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna RodriguesJuan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna RodriguesJuan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna RodriguesJuan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna RodriguesJuan Miguel Hernández Bonilla (El País) | Tradução de Giovanna Rodrigues
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Foto: Reprodução | Palavra Viva

A médica espanhola María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que a pandemia do coronavírus é mais uma prova da relação perigosa entre os vírus e as pressões humanas sobre o meio ambiente. De seu escritório em Genebra, na Suíça, Neira explica como os vírus Ebola, SARS ou HIV/AIDS passaram de animais para humanos após a destruição de selvas e florestas tropicais.

Neira (La Felguera, 59 anos) insiste na necessidade dos governos e das pessoas compreenderem que a mudança climática é um problema de saúde pública, não uma questão de ecologia ou ativismo. A cientista, mestre em saúde pública e nutrição, propõe uma revolução saudável, positiva e verde, cujo pilar fundamental é a rápida transição para energias limpas. Neira afirma que os países que decidirem mudar do petróleo e carvão para a energia solar e eólica irão acelerar o seu crescimento e reduzir a pobreza e a desigualdade.

Pergunta: No prefácio do livro “Viral”, de Juan Fueyo, você alerta para a perigosa relação entre vírus e pressões humanas sobre o meio ambiente, especialmente o desmatamento. Em que consiste essa relação? Como funciona?

Resposta: Práticas intensas de desmatamento, que sempre são feitas em nome da economia de curto prazo, têm efeitos devastadores para o futuro da humanidade. Ao derrubar a floresta para substituí-la por uma agricultura intensiva e poluente, os animais que vivem naqueles lugares onde o homem ainda não entrou sofrem profundas transformações. Espécies com as quais não tínhamos contato aparecem e podem nos transmitir doenças. Passar de floresta tropical a lavoura, com fertilizantes e pesticidas que nunca haviam entrado naquele ecossistema, altera o tipo de vetores que podem transmitir os vírus. O desmatamento é uma forma de quebrar aquela barreira ambiental entre as espécies que nos protege naturalmente.

P. Você pode me falar sobre um caso específico?

R. Um exemplo claro desse fenômeno é o vírus Ebola, que saltou dos morcegos frugívoros das selvas da África Ocidental para os humanos e desencadeou o contágio. O problema é que a mesma coisa aconteceu com AIDS e SARS. 70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos têm sua origem no desmatamento e naquela ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies.

P. O que pode ser feito para evitar isso?

R. Temos que entender que é preciso estar em equilíbrio com o meio ambiente, que é o que nos dá todos os recursos para sobreviver. Devemos aproveitá-los, mas não podemos destruir e contaminar tudo o que tocamos, como está acontecendo no momento. O oceano, por exemplo, está nos alimentando. Milhões de pessoas se alimentam de peixes, mas estamos enchendo o mar com milhões de toneladas de plástico. Estamos indo contra nós mesmos. É importante que as pessoas entendam que a mudança climática não é uma questão de ecologia ou ativismo, mas de saúde pública.

P. Você quer dizer que o aquecimento global não está apenas derretendo geleiras ou colocando os ursos polares em perigo, mas causando muitas mortes humanas?

R. Claro. Nos últimos anos, entendemos errado a narrativa sobre as mudanças climáticas. Acho que se falou muito sobre como o nível do mar sobe ou como a camada de ozônio é afetada, mas não explicamos como tudo isso tem um tremendo impacto em nossa saúde. Às vezes, arrogantemente, dizemos que o planeta deve ser salvo. E não. Temos que nos salvar. Estamos destruindo o planeta, mas ele encontrará uma forma de sobreviver; os humanos não.

P. Em uma conferência recente, você disse que na luta contra o meio ambiente sempre perdemos seres humanos, por quê?

R. Se destruirmos a fonte da qual vivemos, as vítimas seremos nós mesmos. Cada vez vemos com mais frequência como o ser humano está muito vulnerável aos fenômenos meteorológicos que as mudanças climáticas estão desencadeando, como tsunamis ou furacões. Alguns dias atrás, caiu uma neve muito forte na Espanha e isso nos paralisou imediatamente. No final, quem vai perder somos nós.

P. Quais são as medidas mais urgentes para evitar a deterioração do meio ambiente e da saúde pública recomendadas pela OMS?

R. Um muito importante é o conhecimento. Temos que ganhar mais seguidores para a causa. O objetivo é que muitas pessoas entendam a relação entre mudança climática e saúde; entenda, por exemplo, que seus pulmões, sistema cardiovascular e cérebro estão sob risco de poluição. Em segundo lugar, temos que fazer a transição para energia limpa e renovável o mais rápido possível. Os combustíveis fósseis estão nos matando. Há sete milhões de mortes prematuras causadas pela poluição do ar que poderiam ser reduzidas com a interrupção da geração de eletricidade com carvão e petróleo. Acelerar essa transição para energia limpa vai gerar uma economia que nos ajude a sair desta crise que desencadeou o coronavírus.

P. Como é a relação entre energia limpa e desenvolvimento econômico?

R. Um dólar investido em energia renovável gerará quatro vezes mais trabalho do que um dólar investido em combustíveis fósseis. Estou confiante de que se os países mais pobres começarem a investir em energia solar e eólica, eles podem acelerar seu crescimento. Esta pode ser uma estratégia contra a desigualdade que exacerbou a pandemia. Outra recomendação importante é o planejamento das cidades pensando na saúde humana. É preciso tirar os carros dos centros urbanos, ter um sistema de transporte público sustentável e limpo e, sobretudo, não ter cidades superlotadas como as de hoje, que são inabitáveis.

P. Como a densidade populacional das cidades afeta a transmissão de vírus?

R. Em 20 anos, 70% da população estará morando em centros urbanos. Essa abordagem deve ser saudável e justa. Podemos ter cidades que nos oferecem muitos benefícios, mas que não ameaçam nossa saúde. Hoje as capitais de vários países apresentam alta densidade populacional. Isso ajuda qualquer vírus ou bactéria a se espalhar mais rápido e melhor. O mau planejamento das cidades também significa que temos uma vida sedentária, que a poluição chega aos nossos pulmões e até que existe um grave problema de saúde mental porque a interação social não é facilitada.

P. O que fazer então?

R. Devemos criar cidades com emissão zero de carbono, cidades verdes e com economia circular. O CO2 produzido deve ser removido. Essas cidades já são possíveis, a tecnologia permite e a economia caminha nessa direção. Acho que essa mudança é irreversível.

P. No prefácio do livro de “Fueyo”, você propõe uma “revolução saudável, positiva, verde e economicamente sustentável”. Em que consiste?

R. Em que as decisões estratégicas que definem onde um país deve avançar têm que colocar a saúde e o meio ambiente em primeiro lugar. Você tem que investir em energia limpa. Essa decisão combate, ao mesmo tempo, as mudanças climáticas e as doenças que ela gera. Além disso, devemos reduzir o desmatamento e ter práticas agrícolas mais sustentáveis.

 

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