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PECUÁRIA

Consumir carne prejudica tratamentos contra o câncer e a Covid-19

Proibição de carne com hormônios e frango clorado em acordo comercial Reino Unido e EUA não seria suficiente para proteger consumidores, alerta relatório

15 de fevereiro de 2021
Jane Dalton (The Independent) | Traduzido por Luna Mayra Fraga Cury Freitas
5 min. de leitura
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Foto: Pixabay

Animais criados nos EUA cuja carne será exportada para o Reino Unido devido a acordos comerciais pós-Brexit são alimentados com 10 antibióticos proibidos no Reino Unido, que potencialmente prejudicam tratamentos para infecções, câncer e até mesmo coronavírus, alertou um relatório.

Trazer esta carne para o Reino Unido seria um grande retrocesso na luta contra a resistência a antibióticos, e consumir a carne em si poderia criar risco de câncer, de acordo com o relatório do fundo Sustainable Food Trust (SFT.)

Essas importações também seriam “um grande tapa na cara dos agricultores britânicos”, e seria “completamente irresponsável” permitir a sua entrada no país, afirmou o autor do relatório do fundo.

A pesquisa concluiu que simplesmente proibir carne tratada com hormônios e frango lavado com cloro não seria suficiente para proteger os consumidores britânicos se um acordo comercial for fechado entre o Reino Unido e os EUA.

O relatório identificou 10 antibióticos proibidos na Grã-Bretanha que são usados para promover o crescimento animal ou matar parasitas em fazendas industriais dos EUA que criam gado, porcos, galinhas e perus.

Esse uso generalizado e rotineiro cria as condições ideais para o desenvolvimento de superbactérias resistentes a antibióticos, segundo Richard Young, autor do relatório e diretor de políticas do SFT.

“Em um caso (o do carbadox) a principal preocupação não é a resistência a antibióticos, mas as propriedades cancerígenas da droga e o potencial de resíduos que ficam na carne de porco. A vigilância Sanitária do Reino Unido (Food and Drug Administration) enfrenta há quatro anos forte oposição da indústria sobre suas tentativas de proibir esse antibiótico na produção de suínos”, diz o relatório.

O medicamento carbadox deve ser banido imediatamente devido ao risco, insistiu o autor. “Há preocupações com a saúde humana relacionadas à carne produzida com cada um dos produtos químicos abordados neste relatório. Alguns dos riscos são imediatos, outros são mais de longo prazo e se relacionam com o comprometimento da eficácia dos antibióticos identificados como tendo potencial para tratar supermicróbios hospitalares, curar o câncer e até, em um caso, tratar a Covid-19”, acrescentou o relatório.

Young também destacou “preocupações com o surgimento de resistência a antibióticos devido ao consumo no longo prazo” em relação aos outros medicamentos utilizados.

Se e quando o governo concordar com um acordo de livre comércio com os EUA, é provável que a carne ainda esteja na ordem do dia, embora o acordo comercial com a União Europeia (UE) reduza a urgência de se assinar um acordo com os americanos.

O relatório, Maximum Growth: Whatever the Cost (Crescimento Máximo: Custe o que Custar), refere-se às propostas da UE para proibir todo o uso preventivo de antibióticos em animais a partir de 2022 e exigir que os produtores que exportam frango para a UE façam o mesmo, acrescentando: “O governo britânico aceita que o uso preventivo precisa ser reduzido, mas parece relutante em concordar com este último movimento cautelar da UE”.

Enquanto isso, bois, porcos e perus dos EUA também são alimentados com um suplemento de crescimento chamado ractopamina, que é proibido no Reino Unido, UE, Rússia e China por motivos de segurança alimentar devido à preocupação com “possíveis impactos prejudiciais à saúde cardíaca e cardiovascular, a partir de resíduos da droga na carne e nas vísceras”. Os reguladores russos associaram a ractopamina à possibilidade de redução na expectativa de vida humana.

Em uma carta ao Secretário do Meio Ambiente, George Eustice, o Sr. Young escreveu: “Dado o crescente problema mundial de resistência antimicrobiana, seria completamente irresponsável se o governo permitisse a importação de carne bovina, suína ou de aves produzidas com o uso de antibióticos para promoção do crescimento que já foram proibidos aqui no país, ou o uso de antibióticos que são autorizados no Reino Unido, mas usados nos EUA para supressão/prevenção de doenças de maneiras que seriam ilegais aqui.”

O uso diário de antibióticos de baixo nível tem muito mais chance de levar à resistência a antibióticos do que tratamentos curtos em níveis completos, se e quando a doença ocorrer, alertou o autor.

“Permitir a importação de carne produzida de maneiras não permitidas aqui seria um grande tapa na cara dos agricultores britânicos e um grande retrocesso na luta contra a resistência antimicrobiana.”

O Reino Unido transformou em lei uma proibição da UE sobre a importação e produção de carne usando hormônios de crescimento, mas espera-se que o país seja pressionado a levantar a proibição de assinar acordos comerciais.

Desde 2015, os agricultores britânicos reduziram o uso de antibióticos em 43%. Mas os agricultores dos EUA usam este produto em quantidade cinco vezes maior por quilograma de carne produzida, e oito vezes maior em se tratando de carne bovina e peru.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA informaram no ano passado que 2,8 milhões de infecções por bactérias resistentes a antibióticos ocorrem no país todos os anos e 35.000 pessoas morrem — um crescimento em relação às 23.000 divulgados em 2013.

Young disse ao site The Independent que era provável que as principais fontes de carne de porco importadas pelo Reino Unido permaneceriam na Dinamarca, nos Países Baixos e na Alemanha, países vinculados às regras da UE. Mas acrescentou: “Um acordo de livre comércio com os EUA poderia fazer do Reino Unido um mercado potencial para a carne de aves dos EUA, uma vez que nossas principais fontes de importação já estão atualmente fora da UE mesmo. E uma vez que tenhamos um acordo de livre comércio com os americanos, os produtores dos EUA e da UE competirão em pé de igualdade, exceto nos padrões de produção, os quais são muito mais baixos nos EUA.”

Um porta-voz do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido disse: “Este governo foi claro em afirmar que não abriremos mão das nossas proteções ambientais que nos colocam como líderes mundiais em bem-estar animal e padrões alimentares.

“O Reino Unido já proíbe o uso de hormônios de crescimento artificiais tanto na produção nacional quanto nos produtos importados – e isso continuará após o período de transição pós-Brexit. “Além disso, todos os produtos agroalimentares importados para o Reino Unido sob acordos de livre comércio existentes ou futuros terão, como agora, de cumprir nossos requisitos de importação, o que inclui limites claros de resíduos de medicamentos veterinários em carne e outros produtos animais.”

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