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Coronavírus está causando uma catástrofe para a vida selvagem do planeta

3 de agosto de 2020
4 min. de leitura
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Imagem de um rinoceronte deitado
Pixabay

Acompanhei certa noite uma patrulha pelo OI Pejeta Conservancy, projeto de conservação animal no Quênia. Metodicamente, checamos as cercas que limitam o território para possíveis buracos ou outros sinais de invasão. De repente, em meio a escuridão, grandes sombras tomaram forma a nossa frente. Os guardas florestais, que não estavam armados, fizeram sinal para nos agacharmos e permanecermos completamente imóveis, enquanto um grupo de rinocerontes pretos seguia seu caminho. Dessa forma ficamos por 30 tensos minutos. Essa terra é deles, não nossa.

Nos últimos cinco meses, enquanto sistemas de saúde e economias ao redor do mundo são prejudicados pela Covid-19, outra crise muito séria passou despercebida. Das florestas ao leste da Índia até as pradarias do Quênia, temos uma nova emergência na conservação da vida selvagem.

Fomos informados de que, desde março, Botswana perdeu 10% da sua população de rinocerontes. Leões desapareceram dos parques nacionais da Uganda. O Níger foi palco de um massacre de gazelas Dorcas. E o aumento de apreensões de pangolins nos portos asiáticos sugere que o animal, que parece ser o paciente zero da Covid-19, continua sendo caçado ilegalmente.

Meus jornais – o “Independent” e o “Evening Standard” – estão promovendo campanhas em parceria com a fundação Space for Giants para dar um fim ao comércio ilegal de animais. Comércio esse realizado no epicentro da Covid-19, que se acredita ter originado em um mercado de carne fresca (mercado úmido) na China. O impacto da pandemia nos últimos meses teve mais efeitos negativos na natureza do que imaginamos. Nossa campanha, então, é mais urgente do que nunca.

A paralisação do turismo no país teve um impacto desastroso na conservação da vida selvagem. A implementação da quarentena privou o país de uma receita da ordem de 50 bilhões de dólares, oriunda da indústria do ecoturismo e direcionada aos parques nacionais e iniciativas de conservação africanas. Os recursos hoje disponíveis ao governo estão sendo todos alocados no combate da pandemia no país.

A crise econômica mundial impediu a entrada dos poucos recursos que ONGs precisam para proteger a biodiversidade do planeta. O diretor de uma das mais importantes delas me disse, na semana passada, que as finanças da instituição estão em situação muito delicada e talvez não consigam dar andamento a seus trabalhos.

O diretor da Space for Giants, Max Graham, acredita que os grupo internacionais de tráfico de animais estão se aproveitando da crise causada pela pandemia para lucrar. A Uganda Wildlife Authority – órgão responsável pela vida selvagem no país – disse que os crimes de caça ilegal dobraram nos últimos 5 meses em comparação a 2019.

Muitos moradores no sul da Ásia e África foram forçados a caçar animais para alimentar suas famílias. Ao contrário dos grupos criminosos, esses nativos não devem ser condenados. Estamos trabalhando para ajudá-los a encontrar alternativas sustentáveis e confiáveis para que obtenham sua fonte de renda.

A fundação Great Plains, que apoia guardas florestais na África subsaariana a combater a caça furtiva, informou que, em Fevereiro, já havia ouvido conversas sobre um desastre impactando a conservação ambiental.

A fundação tem uma nova preocupação: as girafas. A Tanzânia viu um aumento exponencial na caça desse gigante da floresta. Acredita-se que estão extintas já em 7 países e hoje totalizam menos do que 50 mil no continente africano.

Essa crise não se limita a África. A coalizão em prol da conservação de habitats na Índia, Habitats Trust, reporta que o aumento da caça em partes do país foi de 150%. A Rússia fez um trabalho louvável reforçando a proteção dos grandes felinos no leste do país, mas sigo preocupado com os tigres-de-amur, que em 2015 somavam apenas 500 no planeta.

Talvez nunca saibamos o real estrago que a pandemia causou no mundo. É grotesco e ironicamente trágico que essa crise, que teve sua origem no comércio ilegal de animais, também seja responsável por aumentar, exacerbadamente, sua prática.

Uma coisa é clara para cada lar no Reino Unido, após enfrentar 4 meses de “lockdown”: o mundo natural e o humano estão intrinsicamente conectados.

O comércio de animais não pode mais ser ignorado. Se não pararmos agora, o pior ainda estará por vir.

* Evgeny Lebedev é patrono da fundação de conservação Space for Giants


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