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"O próximo coronavírus pode vir de porcos e não de pangolins", diz especialista

5 de maio de 2020
4 min. de leitura
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Pixabay

O especialista em doenças infecciosas Dr. Michael Greger alerta há anos sobre o risco de dietas que incluam o consumo de animais e como elas podem ser responsáveis pelo surgimento de novas doenças. Recentemente, ele deu uma declaração em uma campanha da Future Coalition, uma rede nacional de jovens ativistas que lutam por justiça social, reforçando o quanto a exploração está envolvida na pandemia de Covid-19.

O médico alerta que essa não é a primeira vez que isso ocorre e com certeza não será a última. “Em 2016, outro novo coronavírus surgiu na China (SADS), um vírus de morcego para porco que devastou fazendas industriais de porcos na mesma região da China onde a SARS havia eclodido”, disse Greger, que é mundialmente conhecido por defender dietas vegetarianas estritas para a prevenção de doenças.

E completa: “Portanto, enquanto as populações de pangolins estão em declínio, produzimos mais de um bilhão de porcos por ano, quase metade dentro da China, aumentando a preocupação de que a próxima pandemia possa surgir de animais domesticados e não de animais selvagens. Podemos estar a uma refeição de carne silvestre do próximo HIV”, concluiu.

Sistema alimentar em transformação

Um artigo publicado pelo portal britânico The Guardian escrito pelos autores Jan Dutkiewicz, Astra Taylor e Troy Vettese aponta que o modelo alimentar atual é o principal responsável pelo surgimento de epidemias e novas doenças. Segundo o Dr. Anthony Fauci, o principal epidemiologista dos Estados Unidos, a ligação entre a exploração animal para consumo e o surgimento de doenças infectocontagiosas é nítida e usa como exemplo os “mercados úmidos” chineses. “Me surpreende como, quando temos tantas doenças que emanam dessa interface humano-animal incomum, que não o fechamos”, disse em entrevista à Fox.

Os autores destacam que é preciso uma análise interdisciplinar. Eles acreditam que o principal fator causador de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos) é a agricultura industrial de animais. A invasão e destruição de habitats de espécies selvagens oportuniza que vírus e micro-organismos que viviam em equilíbrio na natureza migrem para áreas ocupadas por seres humanas. “A agricultura industrial também cria suas próprias doenças, como gripe suína e gripe aviária, em fazendas infernais. E contribui para a resistência aos antibióticos e as mudanças climáticas, os quais exacerbam o problema”, diz o artigo.

A publicação enfatiza ainda que chegou o momento de dialogar honestamente sobre o impacto das ações humanos no meio ambiente e sobre a forma como nos alimentamos, que fomenta uma série de doenças e danos incalculáveis à natureza. “Coletivamente, devemos transformar o sistema global de alimentos e trabalhar para acabar com a agricultura animal e reutilizar grande parte do mundo. Estranhamente, muitas pessoas que nunca desafiariam a realidade das mudanças climáticas se recusam a reconhecer o papel que o consumo de carne desempenha em risco à saúde pública. Comer carne, ao que parece, é uma forma socialmente aceitável de negação da ciência”, diz os autores.

Pesquisadores emitem avisos há anos sobre as consequências do atual sistema alimentar baseado na exploração de animais. Após o surto de Sars, em 2003, um ensaio publicado no American Journal of Public Health que era necessário reduzir ou abolir completamente o consumo de animais e seus derivados, como laticínios. Em 2016, o Programa Ambiental da ONU alertou que a “revolução da pecuária” era um desastre zoonótico esperando para acontecer. Autoridades não levaram em conta os avisos e incentivam cada vez mais o consumo de animais em benefício da economia. A revanche da natureza chegou.

Dutkiewicz, Taylor e Vettese acrescentam que culpar apenas a China é negar a realidade. “Na realidade as zoonoses surgem em todo o mundo e o fazem com crescente regularidade. A gripe espanhola de 1918 provavelmente veio de uma fazenda de porcos no meio-oeste. Nos anos 90, a desestabilização ecológica no sudoeste dos EUA levou ao surto de hantavírus Four Corners. Os vírus Hendra e Menangle têm o nome de cidades australianas. O vírus Reston é uma cepa do Ebola que leva o nome de um subúrbio de DC. O vírus Marburg surgiu na Alemanha. Essas duas últimas doenças surgiram de macacos importados para uso em laboratório – os chineses não são os únicos com um grande e perigoso comércio de animais silvestres. Sars, Mers e Zika são apenas três de muitas novas zoonoses que ocorrerão no novo milênio”, reforça o artigo.


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