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Cão perde duas patas após ser atropelado por trem

15 de julho de 2019
7 min. de leitura
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Por Bruna Araújo

Divulgação

Cara Cinza é um cãozinho malhado que apareceu nas ruas de Dois Córregos, no interior de São Paulo, há cerca de um ano. Ele conquistou o carinho de muitas pessoas e fez, inclusive, um melhor amigo, um homem em situação de rua. Cara Cinza também caiu no radar da ONG Amor e Respeito Animal (ARA), que rapidamente providenciou a esterilização e vacinação do cachorro.

O SRD malhado gostava de ficar na rodoviária da cidade na companhia de seu amigo, mas há oito dias aconteceu algo que mudaria completamente sua vida. Às 11h46 do dia 7 de julho, domingo, o celular do protetor de animais e vereador Alex Parente (atualmente sem legenda) tocou. Na linha, uma pessoa em completo desespero relata que um cão foi atropelado por um trem.

Alex fica em choque, a notícia é forte demais, é como se as peças não se encaixassem. “A principio, quando eu saí de casa para atender esse chamado, eu nem acreditei que pudesse ser verdade, porque estou há oito anos na proteção animal e nunca tinha acontecido um caso desses de atropelamento de animais na linha férrea”, disse em entrevista à ANDA.

O protetor se dirigiu de carro até o local e chegou à linha férrea que corta a cidade em cerca de 10 minutos. Rapidamente, ele reconheceu Cara Cinza. O cão estava com parte do corpo coberto pela blusa do morador de rua que é amigo do cachorro e que também estava no local sem entender o que havia ocorrido.

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A serenidade do cão contrastava com a gravidade do acidente. Alex removeu a camisa para ver as consequências do atropelamento e o que viu o impressionou de muitas formas. Um das patinhas do cachorro estava irreversivelmente destroçada e a outra sequer estava no local, foi decepada com o impacto. Era preciso agir, rapidamente.

Alex, que também é o presidente da ONG ARA, pegou o cãozinho no colo e o acomodou em seu carro se dirigindo rumou ao Hospital Veterinário da Unesp na cidade de Botucatu, há 85 km de Dois Córregos. Muitas questões passavam pela cabeça do protetor, mas uma o incomodava: “Como pode um cachorro que nunca foi atropelado na rua ser atropelado por um trem?”.

Durante o percurso, ele ligou para o hospital veterinário e informou que estava se indo para lá com um animal em estado grave. Ao chegar ao local, toda a equipe de residentes e plantonistas já estava preparada. Cara Cinza passou por procedimento emergenciais como a analgesia. Ele foi encaminhado para a mesa de cirurgia no mesmo dia.

A cirurgia

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O cãozinho se manteve calmo e resiliente. De alguma forma ele parecia entender que todos os envolvidos fariam todo o possível para salvá-lo. A equipe médica optou por um método chamado “amputação baixa”, pois existia a esperança que Cara Cinza recebesse uma prótese e pudesse ter maior qualidade de vida, mesmo sem as patinhas traseiras.

Às 22h30 de domingo (07), o cãozinho teve alta. O Hospital Veterinário da Unesp não possui internação. Cara Cinza foi encaminhado para uma clínica particular, onde passou a noite. Na manhã de segunda-feira (08), ele retornou ao hospital da Unesp para exames e avaliação. Após os procedimentos, o cãozinho retornou novamente à clínica particular, que fica localizada na cidade de Jaú.

Cara Cinza segue internado, mas seu diagnóstico é repleto de esperança. Um professor da Unesp, através de um de seus alunos, que atualmente é mestrando, conseguiu uma prótese para o cãozinho a um custo reduzido. As despesas serão mínimas e o cachorrinho terá uma nova chance. Inclusive, há muitos interessados em adotá-lo, mas falaremos disso mais adiante.

A investigação

Enquanto Cara Cinza era operado o mundo lá fora continuou girando. Alex recebeu denúncias que informavam que o atropelamento do cãozinho estava longe de ser um acidente. Três nomes surgiram como possíveis responsáveis pela crueldade cometida contra o cachorro. Na quarta-feira (10), o vereador registrou um Boletim de Ocorrência.

As três pessoas, que não tiveram os nomes revelados, foram chamadas até a delegacia da cidade para prestar depoimento. Elas negaram qualquer envolvimento nos maus-tratos ao cão. A investigação segue em andamento. Alex afirma que alguns fatos ainda estão sendo analisados. A ONG tenta descobrir quem foi a primeira pessoa a encontrar o cãozinho ferido.

Amor e solidariedade

A mobilização da ARA e da comunidade de Dois Córregos conseguiu angariar cerca de R$5 mil para custear as despesas veterinárias de Cara Cinza. O valor, arrecado rapidamente, conseguiu custear a cirurgia, medicações, exames e talvez, até mesmo, arque com todas as despesas da prótese. Atualmente, não é necessário mais doações para o cãozinho.

A história de Cara Cinza sensibilizou muitas pessoas e já há muitos candidatos para adoção. No entanto, Alex reforça que agora o cãozinho é um animal especial e o processo de adoção responsável será realizado com todo rigor possível. Para ser o novo tutor do SRD malhado é preciso atender alguns critérios como:

– Disponibilidade total de tempo, pois o cãozinho precisará usar cadeira de rodas e próteses de agora em diante e todo cuidado é pouco;

-Espaço físico adequado para um cãozinho especial, para que ele consiga se locomover livremente e não corra o risco de se ferir em solos ásperos ou arenosos;

-Recursos financeiros compatíveis com o nível de cuidado e atenção que Cara Cinza necessitará.

Os candidatos também serão submetidos a entrevistas e visitas. Alex lamenta que o cãozinho não tenha sido adotado antes de passar pelo acidente. “Ele apareceu há cerca de um ano nas ruas da cidade, imediatamente nós tentamos, como todos, fazer a adoção divulgando fotos e tudo mais. Castramos e vacinamos, só, que, infelizmente, precisou acontecer essa tragédia com ele para aparecer pessoas interessadas em adotá-lo”, desabafou.

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ONG ARA e Proteção animal em Dois Córregos

A ONG Amor e Respeito Animal (ARA) nasceu em 2014. Ela faz um importante trabalho de conscientizar sobre a defesa dos direitos animais e a guarda responsável. Além disso, a ARA também atua no controle populacional e vacinação de animais em situação de rua e tutelados por famílias carentes. A ONG também promove palestras e eventos.

A ARA não recebe qualquer subvenção do governo. Ela possui sete membros, cinco são ativos na causa e dois cumprem cargos de formalidade. A ONG possui registro e CNPJ. Com isto, ela consegue descontos para comprar rações, suprimentos e custear despesas com clínicas veterinárias. Atualmente, o principal obstáculo da ONG é a falta de recursos para expandir as atividades.

Alex, que atua na proteção animal desde 2011, acredita que exista desconhecimento da população sobre o trabalho realizado por ONGs como a ARA. “Não mantemos um quadro de associados. No início nós até tínhamos, mas a pessoa doava R$ 5 por mês e ai quando aparecia um cachorro feliz na porta dela, ela achava que a gente tinha a obrigação de ir lá resgatar o animal e colocá-lo em risco com outros animais, alguns doentes e em tratamento”, disse.

Além do trabalho realizado pela ONG, Alex também cuida de 43 gatos, 28 cachorro, uma égua e um javaporco em um sítio alugado. Todos são animais resgatados que o protetor cuida com seus próprios recursos da renda como vereador e também de freelancers como motorista particular e agente de segurança. Ela gasta mensalmente cerca de R$ 3 mil reais.

Divulgação | Arquivo pessoal

As dificuldades são muitas, mas Alex afirma que é da causa animal que nasce sua inspiração e incentivo para defender com cada vez mais afinco e disposição estes seres indefesos. “Cada animal que resgato e consigo recuperação e a adoção é força renovada para continuar a luta”, concluiu.

Vitória

Em 2018 foi incluída uma emenda na lei de diretrizes orçamentárias de Dois Córregos (SP) orçamento para a realização do controle populacional de animais domésticos. Este ano, na primeira vez na história do município a prefeitura realizou uma licitação e contratou uma clínica da cidade para realizar 600 castrações e microchipagem de cães e gatos.

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