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Navio-boiadeiro atracado em São Sebastião já foi impedido de operar em outros países

21 de dezembro de 2018
3 min. de leitura
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Divulgação

No porto de São Sebastião, litoral norte de SP, o Polaris 2 está sendo carregado com 7.200 bois desde o dia 19 e, segundo ativistas da região, o navio não tem equipamentos de tratamento dos dejetos bovinos produzidos a bordo sendo o descarte feito diretamente no mar. Ainda segundo os ativistas, várias notícias internacionais dizem que o Polaris 2 já foi expulso do porto das Ilhas Gran Canarias por oferecer riscos sanitários à população e, recentemente, uma inspeção realizada no Porto de Cartagena (Espanha) revelou que haviam 300 animais mortos em seu interior. O Polaris 2 também está impedido de operar na Austrália.

Diante de tanta irregularidade, João Carlos Pereira, professor de Meio Ambiente na Rede Municipal de Ilhabela (também no litoral norte), resolveu enviar uma carta ao Ministério Público: “Este navio foi fabricado em 1986 no Japão, projetado e construído para transportar veículos e não oferece o mínimo conforto ambiental, térmico e sanitário para realizar o transporte de carga viva. Então me senti na obrigação de questionar o MP se não é seu dever zelar pela saúde, bem-estar e segurança sanitária da população das cidades atingidas pela ação desse navio que desrespeita as normas internacionais e humanitárias. Enviei a carta dia 19, assim que o navio atracou, mas o Orgão já estava entrando em recesso”.

Segundo o professor, um grupo de ativistas do qual ele faz parte tem acompanhando a movimentação no porto de São
Sebastião há dois anos e foram descobertos graves impactos ambientais na exportação de gado vivo. “O odor horrível atinge o nosso bairro, Barra Velha, do outro lado do canal e os sacos de cama animal, feitos com serragem e produtos químicos para disfarçar o cheiro dos desejos dos bois, foram encontrados na praia do Perequê por meus alunos no Dia Mundial de Limpeza de Praias e Rios”, conta João que trabalha com jovens de 6 a 11 anos no projeto “Arte, Ética e Meio Ambiente”, cujo objetivo é construir valores e saberes mais éticos e comprometidos com o futuro do planeta.

Uma luta que completa um ano

Foi exatamente nessa época, pouco antes do Natal de 2017, que veio à tona o horror vivido em terra e mar pelos boizinhos (já que na verdade são novilhos) rumo ao Exterior, geralmente para países muçulmanos onde, inclusive, o abate é feito sem sistema de insensibilização que, aliás, é obrigatório no Brasil. Fotos e vídeos feitos dentro do navio Nada, então atracado em Santos com 25 mil bois em fevereiro de 2018, comprovaram o ambiente insalubre e as terríveis condições as quais os animais são submetidos durante uma longa viagem de navio que pode chegar a 20 dias.

Diante de tamanha crueldade, o deputado estadual Feliciano Filho (PRP-SP), criou o PL 31, conhecido como o PL dos Bois, proibindo o embarque de animais vivos no Estado. Desde sua concepção o PL 31 causou impacto, gerou intensa polêmica e também manifestações históricas dentro da Assembleia Legislativa de SP conforme retrata muito bem o vídeo abaixo:

Foram meses de luta para conseguir pautar o PL 31 que virou notícia no país inteiro e também atraiu a atenção da imprensa internacional para a batalha travada no Brasil. Mas com a chegada do final do ano e, apesar de ter aprovação da maioria dos deputados, o presidente da Alesp decidiu não pautar o PL 31.

“O lado positivo de todo esse intenso trabalho foi que conseguimos mostrar para todo mundo o que fazem com esses pobres animais e espero que, diante de tanta dor e sofrimento, prejuízos econômicos e ambientais, essa atividade chegue ao fim”, comenta o deputado.

*Fátima ChuEcco é jornalista ambientalista e atuante na causa animal

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