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Elefantes ficam protegidos da caça por terem nascido sem presas

15 de julho de 2018
3 min. de leitura
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As elefantes fêmeas do Parque Nacional de Elefantes Addo, na África do Sul, estão protegidas da caça por terem nascido sem presas. Os animais são mortos por caçadores para que as presas sejam utilizadas na confecção de joias, esculturas e diversos outros artefatos.

(Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times)

Cerca de 98% das fêmeas de toda a África têm presas. No Addo, no entanto, entre as 300 que lá vivem, apenas de 10% a 5% têm presas. No local, há também machos sem presas, mas são minoria.

“Os elefantes de Addo podem ser uma das maiores histórias de sucesso”, afirmou o gestor de conservação do parque, John Adendorff. “A ausência de presas ajudou a protegê-los”, completou.

Na Zâmbia, Tanzânia e Uganda também foi registrado um aumento no número de elefantes fêmeas que nasceram sem presas. Em Moçambique, no Parque Nacional Gorongosa, após grandes números de elefantes com presas serem mortos durante a guerra civil, que afetou o país de 1970 a 1990, fêmeas passaram a nascer sem presas. Atualmente, 53% das adultas e 35% das recém-nascidas não têm presas, segundo a bióloga especializada em elefantes Joyce Poole.

A ausência de presas, entretanto, raramente ocorre em machos. Em Addo, quase todos os machos têm presas, mas são menores do que as dos machos de outras localidades. As presas de um elefante macho de 50 anos podem pesar até 49 quilos cada e são comercializadas por quase US$ 100 mil no mercado mundial do mármore.

No século 20, mais de 100 elefantes foram covardemente mortos no Addo pelo “grande caçador branco” do Cabo Oriental, major P. J. Pretorius, restando no local apenas 11 animais, sendo oito fêmeas, das quais ao menos quatro não tinham presas. As informações são do jornal Estadão.

Depois da fundação do parque, em 1931, o número de elefantes sem presas aumentou, segundo a especialista em elefantes Anna M. Whitehouse, e chegou a 98% no início do século 21, todos descendentes dos 11 elefantes que sobreviveram. Entretanto, de acordo com Ana, a ausência de presas não tem relação com a seleção natural decorrente da caça, mas sim com um fenômeno de “deriva genética” gerado pela reprodução entre espécimes de um grupo extremamente pequeno. A hipótese também é reconhecida pela bióloga Joyce Poole.

(Foto: Finbarr O’Reilly/The New York Times)

A proteção dada às fêmeas e aos poucos machos que não possuem presas e, por isso, estão a salvo da caça, não impediu que o parque decidisse tomar medidas para aumentar ainda mais a segurança dos animais. No local, 80 guardas armados, que receberam treinamento e munição militares, fazem a vigia da área com a ajuda de uma pequena força aérea, sensores de movimento e infravermelhos. Responsáveis por observar, de forma atenta, os poços d’água e as trilhas percorridas pelos animais, os guardas frequentemente acampam durante à noite na mata.

Mas, segundo o especialista nos elefantes de Addo formado pela Universidade Nelson Mandela, da África do Sul, Graham Kerley, não é apenas a segurança que impede a caça, mas também a paisagem do local, conhecida como mata do vale, que é praticamente impenetrável. Como praticamente toda a mata é comestível para mega-herbívoros, quase todas as espécies de plantas desenvolveram espinhos como forma de defesa.

A ausência de presas em boa parte dos elefantes, principalmente nas fêmeas, a segurança do local e a vegetação estão fazendo efeito contra a caça. Isso porque, segundo funcionários e cientistas de Addo, por enquanto, não ocorreram casos de caça a animais protegidos dentro do parque.

Os machos usam as presas para lutar, recolher alimento e cavar em busca de água. As fêmeas, no entanto, não parecem ter sido prejudicadas pela falta de presas. O número populacional da espécie dobrou a cada 13 anos e atualmente existem mais de 600 animais.

“Talvez a ausência de presas seja o futuro”, pontuou o guarda Michael Paxton. “Nossas fêmeas estão sem presas há 100 anos, e tudo bem”, completou.

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