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Elefantes são mutilados para produção de medicamentos

9 de junho de 2017
5 min. de leitura
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Até agora, Naing prendeu 11 pessoas suspeitas de ter ajudado os caçadores. Entretanto, os assassinos permanecem em liberdade.

Um vendedor tenta vender um pedaço de pele de elefante seca e uma presa de marfim em uma loja de medicina tradicional em Myanmar
Um vendedor tenta vender um pedaço de pele de elefante seca e uma presa de marfim em uma loja de medicina tradicional em Myanmar/ Foto: Romeo Gacad/AFP/Getty Images

“Estes são os dois homens que acreditamos que mataram um dos elefantes. Ainda estão em fuga”, diz, apontando para duas fotos.

Os casos reportados de elefantes mortos em Myanmar aumentaram dramaticamente desde 2010 e ocorreram 112 mortes de elefantes selvagens, a maioria delas nos últimos anos.

Somente em 2015, 36 elefantes selvagens foram mortos, apontam os dados oficiais do Ministério de Recursos Naturais e Proteção Ambiental e da Wildlife Conservation Society (WCS). Existe o receio de que os números de 2016 sejam ainda piores.

A China é o principal destino dos produtos feitos com elefantes. Apesar de o governo do país ter proibido a venda de marfim no início deste ano, as presas ainda são consideradas as partes mais valiosas dos animais.

No entanto, ativistas têm notado uma demanda crescente por outras partes dos elefantes: trombas, pés e até mesmo o pênis, para ser usado na medicina tradicional. Acredita-se que a pele dos animais é um medicamento para o eczema, o que aumenta ainda mais a demanda.

A maioria dos elefantes é assassinada nos municípios de Pathein e Ngapudaw – que é um habitat importante para elefantes selvagens -, mas mortes recentes também foram denunciadas em ambos os lados da cordilheira de Bago, no centro de Myanmar, assim como na divisão Mandalay.

Em novembro, moradores do município de Okekan avistaram um elefante que tinha sido esfolado e mutilado e alertaram as autoridades.

Os caçadores disparam nos elefantes com flechas com veneno, e depois seguem o animal que enfrenta uma morte lenta e agonizante, antes de ser esfolado e retalhado.

Loja de medicina vende partes de elefantes
Loja de medicina vende partes de elefantes/ Foto: Romeo Gacad/AFP/Getty Images

Os caçadores agem em pequenas gangues, muitas vezes persuadindo os moradores locais a trabalhar como seus guias ou ajudantes.

“Muitas gangues são do centro de Myanmar. Algumas incluem pessoas da minoria étnica Chin; são bons caçadores”, diz Saw Htoo Tha Po, coordenador técnico sênior da WCS.

Neste ano, pelo menos 20 cadáveres de elefantes foram encontrados sem pele, informou o World Wildlife Fund.

“Anteriormente, eles seriam caçados por suas presas, mas conforme a população de elefantes do sexo masculino diminui, os caçadores perseguem agora qualquer elefante que possam encontrar para vender outras partes: a pele, a tromba, os pés ou o pênis, tudo o que é demandado no mercado chinês “, esclarece Saw Htoo Tha Po.

Existem poucos dados sobre o comércio de animais selvagens de Myanmar e não há informações confiáveis sobre a quantidade de caçadores remunerados.

Porém, uma visita ao mercado Bogyoke Market, em Yangon, o maior cidade de Myanmar, mostra como esse comércio pode ser lucrativo.

Enquanto muitos fornecedores exibem falsas pulseiras de marfim, algumas lojas oferecem bonecos e joias de marfim, além de dentes de elefantes. Um comerciante vendia dentes de elefante por um valor entre US$ 140 e US $ 250 por dente, dependendo do tamanho.

Pesquisas da Universidade de Yangon mostram que mesmo com preços de atacado, uma pulseira de marfim pode ser vendida por mais de US$ 100, enquanto um colar pode ter um preço de até US $ 150. Nos mercados locais para uso medicinal, a pele de elefante é comercializada por cerca de US$ 120 por quilo.

Rota para a China

Pele de elefante, uma garra de tigre e marfim
Pele de elefante, uma garra de tigre e marfim/ Foto: Taylor Weidman/Getty Images

Em uma tentativa de enfrentar o aumento da caça, o Departamento de Silvicultura e o WCS desenvolveram o Plano de Ação de Proteção do Elefante de Myanmar (Mecap), que define prioridades de 10 anos para proteger os animais.

Segundo o The Guardian, as reformas legais também possuem o objetivo de deixar as leis do país alinhadas a compromissos internacionais como a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES).

No entanto, o processo legislativo é lento em Myanmar e os ativistas temem que a caça esteja fora de controle.

“O Departamento Florestal só pode patrulhar eficientemente as áreas protegidas, mas a maior parte da caça é feita fora dessas áreas”, enfatiza Saw Htoo Tha Po, da WCS.

“Nestas áreas, não existem recursos suficientes. Elas possuem um guarda- florestal e alguns funcionários administrativos, mas eles sozinhos não podem enfrentar os caçadores. Eles necessitam de mais pessoas e também de policiais honestos para ajudá-los”, acrescenta.

Uma vez que um elefante é morto e tem partes de seu corpo arrancadas, os caçadores passarão os “produtos” para o primeiro de uma série de intermediários, que buscarão uma das diversas rotas para atravessar a longa fronteira de Myanmar com a China e a Tailândia.

A principal rota de tráfico para o comércio de animais selvagens vai de Mandalay até Lashio e atravessa a China. Mais ao Sul, existem pelo menos quatro cruzamentos de fronteira na Tailândia que são utilizados pelos traficantes de animais selvagens.

Os produtos feitos com animais selvagens destinados ao mercado chinês também são traficados para a cidade fronteiriça de Mong La onde desde presas de elefantes até escamas de pangolins são comercializadas.

Investigações da rede de monitoramento do comércio de animais selvagens TRAFFIC, do World Wildlife Fund e da Universidade Oxford Brookes descobriram evidências de que os chifres de rinoceronte têm sido vendidos livremente em Mong La.

Os elefantes estão em perigo em toda a Ásia, sendo que restavam cerca de 40 mil a 50 mil indivíduos em 2003, abaixo de mais de 100 mil no início do século XX, segundo a Lista Vermelha da União para Conservação da Natureza (que contém informações oficiais sobre espécies ameaçadas em todo o mundo).

Depois da Índia, Myanmar possui a maior população de elefantes asiáticos, com cerca de 1400 elefantes selvagens e seis mil elefantes criados em cativeiro.

 

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